Pare

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O carro balançava com a velocidade e descuido do motorista. Ele não sentia como o passageiro no banco de trás, já que tinha o controle do que acontecia e tinha o volante para segurar, mas se incomodava um pouco com os tremeliques do carro.

A ponte era longa, parecia infinita sobre o mar. O céu escurecia e a chuva começou fraca, ficando cada vez mais forte.

Ele viu um relâmpago à distância. Uma leve surpresa lhe percorreu os olhos.

Ouviu um trovão. Se encolheu de leve no banco do carro.

E continuou a dirigir.

Olhou para a lata de refrigerante encaixada no porta-copos do carro, deu um gole. Sentiu o gás entrar ardendo pela garganta e dar um oi para os olhos. Lacrimejou e piscou forte.

O carro continuou balançando sobre a ponte enorme de pilastras vermelhas, cordas de aço e design imponente.

Ele continuou dirigindo. Ou melhor, segurando no volante e apertando a acelerador. Porque foi com um susto que ele parou o carro antes da pista acabar na sua frente.

A parada brusca fez o passageiro de trás se chocar contra o banco e fez o motorista continuar como estava, estava bem estável segurando no volante.

O motorista quase resmungou, abriu a porta, tirou o cinto e saiu do carro.

Havia muito tempo ele planejava aquela viagem.

Caminhou pela pista sobre a ponte, desértica se não fosse pelo seu carro e o passageiro, e ele.

Observou o contraste tênue entre a cor do asfalto e seus sapatos cinzas.

Ouviu o mar bater contra as pilastras da ponte.

Olhou para o céu nublado.

E sentiu a chuva leve sobre a pele.

Chegou no limite da pista. Ela se quebrava ali, expondo seu esqueleto metálico de ponte morta. Ela se quebrava ali e nunca mais continuava.

Ele olhou para o horizonte. Examinou a linha que separava o mar agitado do céu nublado.

A chuva fazia cócegas geladas nele; por um instante ele imaginou o belo rosto de uma moça fazendo cócegas em si, então se contorceu e encolheu, rindo.

Acordou do transe com a risada do passageiro. Sendo assim, afastou os risos e adquiriu uma postura séria.

Avançou para mais perto do limite da ponte. Olhou para baixo, vendo mais destruição. Via crista de ondas se chocando contra pedras e a pilastra da ponte. Via um caos aquático. Via o mar balançar. Via a chuva cair. Sentia um vento no rosto e respingos de água. Via a imensidão do mar. Via o limite do mar. Via o céu. Via o limite do céu. Via o céu cinza transformando o mar num azul pálido, acinzentado, gelado.

E chuva molhava seus pensamentos. A água vinha de todos os lados. Uma tempestade parecia se formar. Já estava encharcado. Suas roupas grudavam na pele, geladas.

Ele se sentou perto do limite do abismo, a perna meio dobrada para cima e as mãos para trás, apoiando o corpo reclinado.

E terminou de observar a vista. A ponte terminando num abismo no meio do nada.

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