Capítulo 1

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Eram três da manhã quando Luiz tentava, sem sucesso, enfiar a chave no minúsculo buraco da fechadura. Poderia ser uma ilusão, mas tinha a impressão de que, sempre que bebia, aquele buraco maldito diminuía e ficava menor que os diâmetros da chave.

Com as mãos instáveis, tentou novamente enfiar a chave na fechadura, sua ponta bateu firme na porta e deslizou para baixo fazendo um risco na madeira. O braço de Luiz se esticou junto para baixo, ele cambaleou para frente e bateu com o lado do rosto na porta. A chave caiu no chão.

– Merda! – Praguejou com a voz embargada.

Ao se abaixar para pegar aquele pequeno pedaço de metal grande demais para a fechadura que estava no chão, seus pés desequilibrados deram um passo involuntário para frente chutando a chave que deslizou pela fresta debaixo da porta até outro lado. Luiz soltou um sorriso irônico de indignação.

– Filha da puta!

Abaixou-se e deitou de bruços tentando ver por baixo da porta até onde a chave havia deslizado. Estava muito escuro lá dentro. Tentou alcançar com o dedo, mas seus dedos não cabiam no pequeno espaço da fresta.

Levantou-se com dificuldade e deu a volta na casa. Teria que entrar pela janela de um dos quartos. O único quarto que as janelas eram mantidas destrancadas. Não por displicência, mas porque o quarto estava em reforma e ainda não havia parafusado as trancas. Ele empurrou a janela que se abriu com facilidade levando junto a cortina que a cobria pelo lado de dentro.

Apoiou-se com ambos os braços e passou com certa dificuldade a perna direita para dentro da casa. Ao tentar passar a outra perna, perdeu o equilíbrio e caiu desajeitado no chão do quarto. Rolou sobre o próprio corpo até ficar deitado de costas, abriu os braços e começou a rir da situação. Um sorriso que quase transformou-se em choro ao abrir os olhos.

Afastando pensamentos, Luiz levantou e saiu do quarto em reformas. Esqueceu de fechar as janelas, pensou em voltar para fechá-las, mas...

– Que se foda! – Disse enquanto caminhava pelo corredor até o seu quarto.

Sentou-se na beirada da cama e tirou os sapatos que relutavam em sair. Talvez desamarrar os cadarços facilitasse seu trabalho, mas não o fez. Desabotoou a camisa social ao mesmo tempo em que se deitava e apagou em um sono profundo sobre a cama ainda com as meias pretas nos pés e a camisa semiaberta.

Luiz teve um sonho: estava sobre uma colina, cercado por soldados do império romano, sentia-se atordoado sem saber exatamente o que acontecia. Um dos soldados que usava vestes militares da época e um belo elmo prateado com adornos dourados protegendo-lhe a cabeça o pegou pelo braço e o conduziu pelo alto da colina, passaram por um homem de cabelos e barba grandes. O homem estava severamente ferido. Luiz teve a sensação de conhecê-lo. De onde? Era difícil lembrar até que...

Levado pelo soldado romano chegaram a um enorme crucifixo jazido no chão. Aquele homem por quem passaram era Jesus Cristo. Luiz tentou se virar para olhá-lo novamente. Sem sucesso. Jesus havia sumido. O soldado deitou Luiz sobre a cruz e ele obedeceu sem oferecer resistência, olhava por cima do ombro do romano tentando ver Jesus novamente.

Ainda sem sucesso.

Já deitado, sentiu quando o soldado amarrou seus braços nas extremidades horizontais do crucifixo. Amarrou? Suas mãos não deviam ter sido pregadas? O homem se aproximou de seu rosto e deu-lhe tapinhas na face.

– Acorda! – Disse o romano com uma voz estranhamente aguda.

– Vamos, acorde! – Continuou. Sua voz era feminina.

Luiz franziu o cenho diante daquele soldado barbudo com voz de mulher.

Um tapa mais forte atingiu seu rosto e então Luiz acordou. Transportado diretamente da colina com romanos para seu quarto. Uma luz fraca radiava do banheiro que não estava com a porta totalmente fechada.

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⏰ Última atualização: Oct 14, 2018 ⏰

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