flores sem Nome, cidade em Ruínas

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    Corpos brancos, bocas entreabertas, torsos nus, peitos arqueados como se puxasse o ar... Trinta pequenas vítimas de um ataque químico,ao amanhecer do dia 6 de abril de 2017, na província de Idlib, que foram parar na primeira página de nossos jornais.                                             Onze dias mais tarde, 68 pequenos corpos queimados vivos durante um atentado suicida contra um ônibus, durante uma evacuação na cidade de Alepo. Crianças sem nome ou idade, repetidamente vítimas de uma guerra que não entendem.                                                                Quantas crianças entre os quase 400 mil mortos do conflito? E quantas vidas destruídas em meio àquelas que ficam e que ainda estão crescendo?

      É assim a guerra na Síria. Para além de saber quem são os mocinhos e quem são os bandidos, o que resta é só isso. Morto que se acumulam, criança. Asfixiadas ou queimadas vivas, nada lhes foi poupado.                                                                                                                                             Viajei para Alepo (cidade da Síria) no dia 15 de dezembro de 2016, quando a capital econômica da Síria ainda estava em pleno caos. Descobri ali uma cidade inteiramente em ruína. De norte a sul, só havia resistido um triângulo que reagrupava o que chamavam de "bairros do oeste".

       Esse triângulo, leal ao regime, o menor pedacinho dessa cidade imensa, tinha se transformado, no período dos cinco anos e guerra, em uma zona superpovoada por pessoas desalojadas, que haviam fugido das zonas ocupadas pelos rebeldes, a leste.                       Não havia água nem energias elétrica, e o céu cinza chorava sem parar sobre uma cidade vítima do desespero. Não havia mais suque(laica masculina), nem perque, nem fonte onde as pessoas se refrescavam quando fazia muitos calor. Mas havia uma população de pé, forte, animada por uma vontade de viver.

       Nessa pequena ilha sobrevivente, fui primeiro encontrar a sos Cristãos do Oriente, organização francesa que veio ajudar os fiéis daquele lugar. Foram eles que me conduziram, em seguida, para os maristas azuis, outro organismo cristão que, instalado nos morros de Alepo, abriu desde o início do conflito sua escola para as famílias de refugiados de todas as confissões.                                                                                                                                 Fui apresentado a Myriam e Antonia, mãe dela, por Georges, irmão marista, durante a distribuição regular de cestas básicas para as famílias feita pela instituição. Como querem que se saiba o que é crescer nesse inferno, sobreviver como reféns em Alepo, Myriam, Antonia e seu pai, Josef, me contaram durante horas o cotidiano que lavavam. Cotidiana documentado em um caderninho.                                                                                                                                   Cristã de origem armênia, Myriam vem dessas famílias sobreviventes que fugiram do genocídio perpetrado pelos pelos turcos em 1915. Alocados há um século no bairro de Jabal Sayid, na parte norte de Alepo, foram expulsas 2013 pelos jihadistas.                                           Myriam tinha seis anos em 2011, quando começaram as manifestações contra o presidente Bashar al-Assad, em Alepo. Os dias se seguem. Depois, em 2012, os primeiros tiroteios. As primeiras bombas. Aquelas com as quais logo se acostuma. E os mortos, aqueles que amamos e que desaparecem, de repente, até 2016.

      Myriam teve sorte. Uma sorte impulsionada por sua força, a da sua família e de seus pais, que quiseram preservá-la, mesmo sob disparos de granada, mesmo sob ameaças de uma invasão jihadista.                                                                                                                                                           Seu diário testemunha a violência que ela atravessou, sofreu. Sem entendê-la, assim como todas as crianças de Alepo e da Síria, culpado por quererem brincar e se divertir. Culpa por estarem vivas.

                                                                                                                                                          Philippe Lobjois

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