Alepo,12 de junho de 2011
Minha vovó, que eu adoro, se chama Tita. Ela é velha, mas menos velha que Jedo, meu vovô. Passei a tarde com ela. Ela veio me buscar em casa depois do almoço. Ela colocou sua bela calça de linho branco e uma camisa preta, com um colete por cima. Eles beberam um chá bem quente com papai e mamãe, e depois saímos. Eles tinha que levar minha irmãzinha joelle a um aniversário.
Adoro ficar com Tita porque ela sempre conta muitas histórias, e porque ela compra doces pra mim. Hoje, fomos no Haffar, dono da melhor sorveteria da cidade. Quer dizer, não sei se é melhor, mas, de qualquer forma, ele faz o melhor malabi.(um doce) Em frente ao Haffar, sempre tem muita gente e, lá dentro, eles batem a massa do sorvete e dividem em fitas. Tita pediu um sorvete de flor de laranjeira. Eu, de rosa. Assim que o sorvete derreteu em nossas bocas, bebemos um suco de damasco no terraço ao lado. Havia quatro mesas redondas na frente do café, com banquinhos de vime em volta. Ao lado, duas senhoras bem elegantes com grande brincos. Tita me disse queela também, quando era mais jovem, colocava brincos grandes. Minhas avó devia ser muito bonita antes, apesar de ela ser ainda.
Alepo,20 de junho de 2011
Minha escola fica no bairro de Jabriyeh, perto da igreja de São Dimitri, não muito longe da torre Amal. Ela se chama Wouroud, a "escola das rosas". Minha professora se chama Josefina, ela tem 35 anos e se parece com mamãe. Ela tem cabelos longos que caem pelos costa. Às vezes ela nos dá patins para brincarmos no pátio do recreio. Como não tem o bastante para todo mundo, cada um pega um. Dessa forma, a gente anda sobre um pé só, tentando não quebrar a cara. Gosto muito quando a professora pede para eu vir ao quadro explicar para os outros. Isso me deixa orgulhosa, tenho a impressão de ser sua assistente. Ao meu lado, na carteira, fica minha melhor amiga. Ela se chama Judi, e eu gosto muito dela. Ela é muito bonita. Ela tem olhos verde e belos cabelos brilhantes. Judi é muçulmana e mora no bairro de Hamidyeh, que não é muito longe de centro da cidade. Nós nos sentamos uma ao lado da outra desde que eu tinha seis anos. Somos as primeiras da turma. Estudamos juntas. Quando ela não sabe, ela copia de mim. Eu também, para os ditados de inglês. Um dia, fizemos um pacto: continuaremos sendo melhores amigas até o quinto ano.
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O Diário de Myriam
Non-FictionA guerra da Síria já deixou quase meio milhão de mortos e fez com que metade da população síria se tornasse um imenso e desorganizado exército de 12 milhões de refugiados. É pelos olhos de Myriam, na passagem da infância à adolescência, que acompanh...