O medo da morte

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Em meio a cidade escura , o vento frio , na camada da noite que cobriu todo o fragmento sul , é possível avistar ele olhando pela janela , sentindo o arrepio percorrendo toda sua magra espinha dorsal . Todas as noites , a insônia o assolava , misturada ao desgosto de viver , uma vontade imensa de quebrar o seu pacto de abstinência perante os vícios . A vida sempre foi sua inimiga , sua contrária , a ventania contra seu corpo , enquanto caminhava . Havia anos , e seu diagnóstico de transtornos psíquicos se multiplicavam por si só . Moravam ele , as paredes , seus demônios interiores , que ressuscitavam em noites frias e fúnebres , através de barulhos , sombras , grunhidos , pensamentos hostis e agressivos . Em uma vespertina como essa , numa sexta-feira treze , nosso protagonista tem dores por todo corpo , sente falta de ar , seu cabelo branco e suas rugas denunciam seu fim . Senta com dificuldade na cadeira da velha escrivaninha , ajeita o papel e a caneta sobre a superfície , e divaga sobre devaneios de toda uma vida . Terminado o escrito , o sangue saído de sua boca , mancha seu bilhete , é possível ouvir seu grito rouco por quatro quarteirões , e o estalar de sua cabeça sob a escrivaninha , é o fim de seu ciclo terreno . Duas semanas se passam . Os vizinhos sentem o cheiro do cadáver . Alguém chama a polícia , e outro ambulância . A casa é vasculhada , e sob a escrivaninha o corpo é achado , junto a um bilhete , onde a paramédica se atenta a ler : " Queria ter vencido minhas fobias , gostaria de um gole de esperança e um trago de coragem , fui bom o quanto pude , mas as guerras com meus problemas são infinitas . Sozinho , a espera do fim , sequioso a reclusão , obrigado a ir embora , levando comigo apenas meus demônios e um pouco de solidão . Queria ter vivido mais intensamente , ter levantado mais bandeiras , ter ouvido mais palavras doces e melodiosas . Queria muita coisa , mas o que sempre desejei e ostentei , foi a liberdade , o direito de ir e vir , a livre arte da expressão . Ficarei devendo , a vontade de ter matado 'o medo da morte' " . O corpo é ensacado , a rua é esvaziada , as autoridades se dispersam , junto aos transeuntes . Alguns corvos aparecem , e em seu crocitar , é claro poder ouvir algumas palavras , em meio ao silêncio de outras perspectivas , algo como : - Queria ter matado " o medo da morte ".

Texto retirado de " Poesias e Poemas " , 29 de julho de 2018
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"Poesias e Poemas " é composto por :

Jonas Francisco dos Santos Filho, ou , Jonas Poeta , é um escritor jovem e simples . Relata seu cotidiano e suas intervenções artísticas experimentais . Criativo e independente , possui apreço por retratar sua realidade . Apaixonado pela vida , descreve dias tristes e também felizes . Todo um momento vital documentado , esta é a marca " Poesias e Poemas " .

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