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Sweet;

Ontem quando vi sua irmã, me lembrei da vez que a conheci, você disse que ela iria amar a pessoa que eu era, disse também que íamos virar bons amigos, eu acreditei, entrei na sua casa e fui recebido com um abraço, de fato amei sua família, sua mãe, seus irmãos, e a Charlotte. Naquela tarde me senti acolhido e feliz, porque a família do homem que eu amava me aceitou, pude ver o olhar contente de sua mãe, era como se dissesse "estou tão orgulhosa de você filho", com o passar do tempo descobri o porquê daquele olhar, você sempre se envolvia com pessoas erradas, e dessa vez não foi diferente.

"Ei." Escutou uma voz o chamar e se virou olhando ao redor. "O que tanto escreve ai?" Seus olhos pararam sobre um rapaz moreno, sua expressão era neutra e seus braços cheios de tatugens, que o deixava muito atraente. Harry fechou o caderno bruscamente e franziu o cenho, era o primeiro paciente que conversas com ele.

"Nada." Disse rápido e observou que o rapaz também possuia um caderno, a curiosidade tomou conta de Harry. "Cartas, escrevo cartas, e você?" Indicou o caderno com o dedo e o rapaz sorriu, um sorriso doce.

"Estou desenhando." Sua voz se faz presente num tom calmo, Harry mordeu o lábio tentando conter sua vontade em ver os desenhos. "Cartas para quem?" A vergonha e o medo fizeram Harry encolher, como contaria que eram para uma pessoa morta, uma pessoa que matou?

"Para... hum... para minha irmã." Sua voz vacilou entregando a mentira, mas o outro fingiu não ter percebido, afinal queria um amigo. "Posso ver?" Perguntou esperançoso.

"Posso ler suas cartas? Exato, não pode ver os desenhos." Os olhos catanhos do garoto agora estavam escuros e sua voz soou irônica e um pouco distante, Harry se sentiu culpado, ele sabia que a resposta seria o oposto do esperado, porque assim como as cartas eram pessoais para ele, os desenhos eram pessoais para o outro. "Tenho que ir agora, foi bom trocar 3 frases com você." Uma risada baixa saiu de seus lábios assim que se levantou. "Afinal, sou Zayn, Zayn Malik!" Falou já um pouco distante.

Harry observou cada movimento de Zayn até perde-lo de vista e então voltou a escrever.

Todas as pessoas tem seus segredos e suas inseguranças, estou entendendo isso agora, sinto como se estivesse vivendo em uma constante bolha onde tudo se tratava de nós, ainda se trata de nós e vai sempre ser sobre você, Louis. Lembro quando brigamos pela primeira vez, você disse coisas e se arrependeu depois.

"Não é tudo sobre você, Harry, eu tenho a porra de uma vida, e surta toda vez que a menciono, não é porquê você não pode ter uma vida que eu não posso também!" Você disparou e eu senti, senti o que você sentia, raiva de mim e pena, mas sua expressão logo mudou, seus olhos clarearam e sua expressão ficou calma e arrependida. "Harry... eu... desculpa." Passou a mão no cabelo e deu dois passos na minha direção, agora sei que não devia ter recuado.

"Eu vou embora." Falei sem te olhar, sabia que se te olhasse cederia, mas aquelas palavras me machucaram. "Nos falamos depois." Lembro de pegar minhas chaves e sair, não olhei pra trás, então eu te pergunto, como você ficou?

Louis, eu entendo, a cada dia que passa entendo mais, você estava certo sobre eu não ter uma vida, minha vida era você, você me fazia forte e lúcido, quando o mundo parecia desabar sobre meus ombros, você estava lá para assegurar que nada iria sair do controle.

Conheci um rapaz hoje, o nome dele é Zayn, aposto que ia gostar dele, ia questioná-lo sobre as tatuagens e iam conversar sobre gostos em comum, provavelmente iram rir juntos e sair para beber depois em alguma boate aleatória.

Ele também tem um pequeno caderno em que desenha, todos nós precisarmos de uma válvula de escape. Qual era a sua? Por que não conseguiu escapar? Tudo que eu queria eram respostas, por que continuou nisso?

"Harry?" Ele sentiu um toque suave em suas costas e se virou, lá estava Ellie, sua psicóloga. "Podemos conversar?" Perguntou gentilmente e o rapaz assentiu. Algo nela deixava Harry calmo, talvez seja sua expressão tranquila, ou seus olhos que lembrava o de sua irmã. "Como está sentindo nesta manhã?" Ela se sentou ao lado dele no chão e direcionou sua atenção a ele.

"Melhor?!" Era mentira, todos sabiam que era mentira, nem ele acreditavam nisso. A moça negou com a cabeça num movimento quase imperceptível e fez um sinal para que continuasse. "Na verdade, não sei como estou, cansado talvez, sinto que não estou melhorando e sim piorando aos poucos." Olhou para a mulher buscando uma resposta.

"Por que diz isso?" A consulta sempre soava como uma conversa entre amigos, era confortável. Ele hesitou antes de responder, tinha medo de não ser compreendido.

"É como se estivesse me perdendo para alguém ou algo dentro de mim e não consigo lutar contra, nem sair disso." Abaixou a cabeça, não queria chorar mas não pôde evitar. Styles respirou fundo e olhou para o céu tentando cessar o choro. "Perdi o controle ontem, e não sei o que fazer, uma voz aqui" Apontou para a cabeça. "Grita coisas ruins o tempo todo, dizendo que não sou bom, que as pessoas querem me fazer mal o tempo todo, só quero que isso pare!" Falou entre os soluços, colocou a mão no rosto e chorou.

Harry não tinha controle sobre nada mais, sua vida e sentimentos eram imprevisíveis, ele sentia medo de tudo, dos barulhos no corredor ao longo da noite, do ranger na janela quando estava silêncio, tinha medo, principalmente, do canto esquerdo do quarto, onde jurou ter visto Louis noite passada, nunca tinha sonhado com algo tão real, podia sentir os olhos azuis observando seu sono, ouvir a respiração calma e ritmada que o fazia dormir quase todas as noites, quase pôde tocá-lo, mas quando chegou perto tudo se desvez em sangue e o acordou.

Ellie não pôde disfarçar sua pena, era inevitável olhar para o rapaz e não sentir pena, ela queria poder fazer algo, mas não existe nada a se fazer, ninguém podia acabar com a angústia e culpa de Harry.

"Harry, quero que prometa-me uma coisa, pode fazer isso?" Deu um sorriso meigo e ele franziu o cenho.

"Uma promessa?" A psicóloga assentiu, fazendo Harry pensar por alguns instantes, não gostava de promessas pois raramente eram verdadeiras, mas cedeu aos olhos esperançosos de mulher.

"Sempre que se sentir assim, confuso, quero que escreva três motivos para ficar sóbrio e não se deixar levar pelas vozes, podem ser lembranças, pessoas, sensações, qualquer coisa que o faça bem." Falou enquanto retirava um pequeno bloco rosa de seu bolso. "E quando pensar que vai se perder, leia todos os motivos, promete?" Colocou o bloco sobre as mãos do rapaz e o olhou, esperava que ele cumprisse ou ao menos tentasse.

"E você vai ler?" Perguntou inseguro, achava isso pessoal demais e um pouco estranho, ele teria pelo menos três motivos? Além da Anne e da Gemma, ele não tinha ninguém.

"Só se achar necessário, isso não é um dever de casa, Harry, é apenas algo para de fazer melhor, pense nisso como um desafio diário ou algo assim." A mulher se levantou com um sorriso estampado no rosto e estendeu a mão para se despedir. "Te vejo pelo jardim, e fale para seu novo amigo não fugir de mim, já disse para ele que não mordo." Soltou num tom descontraído e Harry riu, vendo Ellie se distanciar.

Deitou sobre a grama e olhou para as nuvens, procurando nelas algum sinal, e pode jurar que elas formaram uma adaga.

Sweet Dead|| L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora