Na Mesma Batida - O Amor do Movimento

Capítulo 1 - Um Novo Papel

Elloá era uma pessoa de hábitos e ritmos.

Se pedissem para que naquele dia de dezembro ela descrevesse JC, ela diria que ele era uma pessoa fluída e um pouco hostil. Como café amargo pela manhã. Ela adorava café, mas, por incrivel que pareça, não era muito próxima dele. Eles dançavam juntos, se cumprimentavam todos os dias e claro, as vezes ficavam treinando juntos. Ele era o seu coreografo, afinal. Mas tinha mais 20 pessoas na Companhia The Urban Practice (chamada geralmente de Cia TUP) e todas a tratavam da mesma forma que ele.

Até aquele dia de dezembro.

Era dia da estreia do Espetaculo que a companhia vinha planejando há muito tempo.

Grandioso Romeu e Julieta! Versão urbana, claro.

 JC era o coreografo e trabalhou igual louco para que tudo funcionasse como deveria. Na seletiva, ele foi escolhido como Romeu e, por ironia do destino, sua namorada, Alisson, como Julieta.

Elloá ficou derrotada quando descobriu que não havia sido escolhida como protagonista, afinal, era o sonho de toda menina e cairia muito bem no curriculo, ainda mais com ela planejando conseguir um emprego como professora de dança em fevereiro.

Mas ela tinha ficado com um papel, então não iria reclamar. Ela tentou se aproximar de Alisson, quem sabe ensaiar um pouco juntas, mas a garota a detestava e fazia questão de deixar isso bem claro, mesmo sem ninguém saber o porquê.

Ela queria tanto ser a Julieta!

JC

Alisson não iria aparecer.

Aquela vaca, no dia do espetaculo, decidiu que não iria ser a Julieta.

"Como eu vou fazer Romeu e Julieta sem a Julieta?!", pensou ele, furioso.

 - Cadê a Alisson? - Elloá chegou perto de Jason e perguntou, na cochia. - isso aqui começou a encher e ela nem ao menos avisou onde estaria?

 - Ela não vem.

Ele se permitiu ficar com uma expressão de derrotado. Durou pouco.

Afinal, ele precisava mostrar que estava com tudo sob controle, afinal, ele era o coreografo.

 - Como eu vou fazer Romeu e Julieta sem a Julieta afinal?

 - Você sabe o que fazer, não sabe, Elloá? - Ana cutucou-a - ela ensaiou muito porque queria o papel - complementou.

 - E-eu n-n-não sei s-s-se consigo - gaguejou Elloá.

Jason olhou para ela esperançoso. Para os alunos era Jason, para os amigos JC. Mesmo com tantos anos na companhia, ela nunca se permitiu chamá-lo de JC.

 - Por favor, preciso que tente, ou isso será um desastre! - Jason pegou nas mãos dela e olhou-a no fundo de seus olhos, assustando-se ao perceber que nunca tinhamos ficado tão perto um do outro em todos esses anos de Cia TUP.

 - Eu posso tentar, mas não vou garantir nada.

Ele a abraçou no impulso.

"Você será incrivel", cochichou em seu ouvido, sentindo o corpo dela tremer junto ao dele.

 - Mas e sua namorada? - ela subitamente perguntou, ainda envolta em seus braços. - Que que ela vai pensar das cenas de beijo ou da gente assim junto? - ela não parecia sinceramente preocupada com isso, era quase que uma provocação.

 - Que namorada? - perguntou curioso.

- A Alisson não é sua namorada?

Ele fitou-a confuso. 

 - Não, meu deus, não. Nós nunca nem ficamos!

Ela olhou com desdém, sem acreditar muito.

Ele sentiu aquele calor dentro dele. Mas era mais leve que raiva. Era um sentimento novo e totalmente arriscado, e sentiu-se tentado a provoca-la de volta.

Como ele amava desafios!

 - Ela sabe que eu gosto de outra pessoa, talvez até alguém daqui.

 Alguém gritou de longe para todos se apressarem.

Jason deu um beijo em sua bochecha e saiu correndo para se trocar.

Ela nunca se sentiu tão empolgada e tão confusa ao mesmo tempo.

Enquanto tocava em sua bochecha pensando em como odiava se sentir confusa e no que faria a seguir, ela sentiu uma coisa totalmente nova, uma especie de determinação e prazer que nunca havia sentido.

O show iria começar.