Compasso Temporal

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 Pete Thelman já havia perdido as contas de quantas vezes batera o seu calcanhar contra um dos pés de sua cadeira, claramente ansioso ao ver os ponteiros do relógio de parede se arrastarem mais vagarosamente que o habitual. Seus dedos moviam-se uns contra os outros, sentindo a ausência do cigarro nas mãos e o sabor do tabaco nos lábios, sofrendo uma pequena sensação de abstinência.

Para o gótico, o pior momento da sua semana tinha data e hora marcada: Segundas e quartas, de quatro às cinco da tarde. Eram quando ocorriam suas sessões de terapia, uma hora enfadonha, momento em que ouvia a voz sufocada de seu terapeuta, sempre repetindo as mesmas perguntas e recitando aquele odioso discurso ensaiado sobre estar tentando uma conexão entre os dois. Era patético, não havia formas de se conectar com um caipira glutão metido a humorista como aquele, criar vínculos eram para os patéticos conformistas que não sabiam apreciar o isolamento nem contemplar a própria presença como o protagonista de um monólogo solitário.

Se a situação já não fosse incomoda o bastante, dessa vez ainda precisava aguardar na recepção ao lado de uma presença atípica, observando o patético Mike Makowski, líder dos vampiros, sentado a uma cadeira de distância, mordendo suas unhas com sua presa plástica, em uma tentativa picaresca de remover o esmalte azul sideral que usava. Pete não tinha ideia do quão irritante poderia ser ter o outro rapaz ao seu lado até vê-lo mastigar as pontas dos dedos, como se essa fosse a atividade mais interessante para se fazer naquele lugar, sem o mínimo de respeito com o gótico, que assistia-o desgostoso.

Em silêncio, Pete ainda batia seu calcanhar contra a sua cadeira, encarando mais uma vez o relógio na esperança de ver o tempo correr, deixando que o som da batida reproduzisse o som do tic-tac inexistente do aparelho. Sabia que ainda faltavam dez minutos para entrar em sua consulta, mas seu pai insistia em sempre largá-lo ali meia hora antes, provavelmente pensando que não teria nada mais produtivo para fazer do que ficar plantado em uma sala com alguns doentes mentais que achavam que conversar com um babaca resolveria seus problemas.

Quando a recepcionista se moveu em sua mesa, religando a cafeteira no balcão, a atenção de Pete foi conquistada, fitando as gotas do líquido negro caírem no bulé da máquina, servindo apenas uma única xícara de chá antes de desligar. A mulher logo levantou-se, servindo o conteúdo em um único copo descartável e deixando-o junto a cafeteira, seguindo para dentro para lavar e reabastecer a máquina. Não houve dúvidas para o gótico, erguendo-se assim que essa se afastou, ignorando quando o vampiro fizera o mesmo, e seguindo rumo a bebida.

As mãos dos dois garotos se chocaram ao tentarem, ao mesmo tempo, pegar o café. Pete não pudera deixar de achar um tanto miserável a tentativa do vampiro, empurrando-o um pouco com o cotovelo para capturar o copo. Se Mike Makowski achava que ficaria com o seu café, estava completamente enganado. Que esperasse a recepcionista preparar mais.

- Eu vi primeiro - disse o maior, quebrando o silêncio entre os dois.

Os olhos verdes, que combinavam perfeitamente com a ponta dos fios tingidos do polonês, se curvaram em uma expressão de insatisfação e hostilidade. Era um ano mais velho que o irritante Pete Thelman, esse devia mostrar-lhe o mínimo de respeito.

- Vampiros não deviam beber sangue? - Provocou Pete, deixando um minúsculo sorriso de satisfação se desenhar em seus lábios.

Não era como o simplório Craig Tucker, que divertia-se praticando bullying contra os demais, mas alguma coisa em Mike irritava Pete de uma forma que não conseguia descrever. Não entendia como um cara desses, tão bobo e fraco, adotava um visual trevoroso. Pior ainda era reconhecer que aquele merda conseguia manter os fios tingidos bem hidratados. Pete, mesmo tentando, não conseguia deixar sua cabeleira vermelha e preta com a mesma movimentação e brilho.