Dark Secrets

I

Minha mãe desapareceu com os meus livros.

De todas as coisas que minha querida mãe poderia ter mudado de lugar, reformado ou simplesmente pintado as paredes, ela escolheu o meu quarto. Não sei ao certo quando ela decidiu reformá-lo. Ela não se preocupou em me informar que meu refúgio durante a adolescência seria transformado, afinal, eu estava bem longe daqui.

Minha mãe mudou muita coisa. Tirou minhas estantes, pintou as paredes de um lilás claro demais, trocou a cama, comprou outra escrivaninha, luminárias e criados mudos rosas e até colocou um grande lustre (que deixava minha pele horrível, devido a luz amarelada).

Mas o que mais me irritou foi o desaparecimento dos meus livros. Durante todo o colegial fiquei presa no quarto, mas como não sou uma completa tola, queria adquirir conhecimento, me tornar mais inteligente do que meus colegas, então, em um ato de esperteza, comprei todos os livros que poderia comprar. Enciclopédias, ficções, romances, biografias, aventuras, livros científicos, crônicas, contos, fantasias, horror e tudo mais.

Era uma coleção excepcional. Que minha mãe havia com toda certeza atirado em sacos de lixo.

Quando procurei os livros pela primeira vez, assim que cheguei na casa, fiquei irada. Não conseguia acreditar que permitiram que minha mãe fizesse aquilo. Mas no fundo, eu sabia que aquilo aconteceria antes mesmo de sair de casa há 12 meses.

Provavelmente minha mãe estava brava comigo. Quando decidi viajar pela Europa eu pude ver que ela não estava contente. Era obvio. Minha mãe não é boa em esconder emoções, percebia isso quando ela gritava comigo depois de virar algumas garrafas de vinho.

Eu estava em casa depois de um ano passeando pela Europa. E eu só conseguia encarar o espaço vazio que antes era ocupado pelas estantes, cheias de livros bons e bem conservados.

Decidi ver como estavam os outros membros da casa. É quase a hora do jantar e sei que Sebastian e Joanna estão preparando o jantar, então desci as escadas e fui direto para lá.

A cozinha também havia sido reformada, com certeza minha mãe esteve bem entediada comigo em outro continente. Assim que cheguei na cozinha, meus olhos avistaram para o bolo coberto de chocolate acima do balcão.

─ Não ouse comer isso antes do jantar, Isabel!

Me virei ao ouvir a voz doce, já bem familiar e vi Joanna. Ela estava uma graça, seus cabelos estavam mais brancos e pareciam mais com algodões do que nunca. Joanna cuida da casa desde sempre. Ela e Sebastian fazem de tudo, desde cozinhar, limpar até colocar Genevive para dormir.

─ Não vou comer, mas vai ser difícil resistir ─ respondi sorrindo. Era bom vê-la depois de tanto tempo.

Comecei a reparar no que Joanna estava fazendo. Ela estava mexendo em uma panela, provavelmente cheia de molho, já que seu avental rosa estava todo manchado.

─ Que bom que você voltou, Isabel. ─ Joanna disse ao desligar o fogão. ─ Como foi lá? Conheceu algum garoto? ─ Perguntou ela, curiosa até demais.

Me aproximei do fogão e a encarei.

─ Alguns franceses, alguns ingleses com sotaque extremamente forte e um alemão que era uma graça ─ menti. ─, mas o que mais me encantou foi um escocês tatuado. ─ Ri ao mentir outra vez.

Joanna me encarou e eu observei seus traços. Para uma mulher que tinha quase a idade da minha avó ela estava bem conservada, tinha algumas manchas no rosto e algumas rugas bem aparentes, mas nada que tirasse sua graciosidade.