0.único

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Eu vou voltar pro 505, alguma hora eu vou voltar pra lá, é onde meu coração mora, infelizmente.

Vou passar 7 horas chorando na estrada longa que é até lá, porque talvez esse seja o caminho mais difícil que um dia eu irei percorrer, isso se um dia eu percorrer. E então eu vou passar 45 minutos no corredor pensando se eu devo bater na porta, se devo voltar a falar contigo, se devo voltar a me entregar por inteiro, e, nesses pensamentos, eu percebo que nunca abandonei nada em ti de verdade e eu só estou nesse corredor pois quero. E unicamente isso.

Baterei na porta com o anel, o mesmo que eu comprei pensando em ti, mas nunca te falei. Foi a primeira vez que pensei em casar, foi quando vi aquele anel e lembrei de ti. O anel que era uma faixa negra, acompanhada por uma coroa de louros, com pequenos brilhantes pretos, aquilo me lembrou a gente na hora que vi, aquela coroa que um dia representou vitória, numa cor tão bela e as pedrinhas cintilando, ainda não sei o porquê.

Você demora a responder, mas eu relevo pois escuto o chuveiro. Bato de novo, escuto a água parar, e um "já vou" apressado. Escuto algo caindo e um palavrão vindo logo em seguida, algo tão seu, que era impossível ser outra pessoa.

Você abre a porta, uma toalha enrolada no torso, o cabelo completamente molhado e cheio de cor como você sempre foi. Olha pra mim e eu não sei o que fazer, acho que você também. Seus olhos me examinam de maneira não proposital, olham várias e várias vezes para ver se é realmente quem está pensando.

Logo me pego pensando em como começar, embora tivesse passado toda a viagem pensando nisso. E, brevemente, a mais improvável passa em minha mente por vê-la assim. O meu íntimo implora para beijar ela agora mesmo, prendê-la contra a parede mais próxima e fazer tudo que tivermos direito, mas nada disso faço.

Continuo olhando para ti, porque aparentemente mais nada no universo faz sentido além de apreciar quem você é, mas você faz algo, sempre deu o primeiro passo de boas decisões, agora não seria diferente. Passou a mão pelo meu pescoço, passou ela pelos meus cabelos com uma delicadeza que nunca ninguém teve, além de você.

E eu não sou capaz de negar, que te adoro e acho que sempre vou, adoro olhar nos seus olhos e perceber que ainda vejo um monte de sentimentos que são recíprocos, queimando no fundo dessas pupilas.

Então você me beija, como ninguém nunca fez. Acho que nem mesmo você já me beijou com intensidade que beija agora, e eu, este pobre ser, apenas se perde na elegância de beijar alguém tão incrível.

Você chora. Não estou vendo, mas eu sinto o gosto salgado salpicar em nosso beijo, sinto você fraquejar durante o beijo, sinto suas mãos descendo pelos meus ombros, braços, chegando nas minhas mãos e as segurando de uma maneira gentil e forte ao mesmo tempo.

Mas eu solto, separo o beijo e volto a olhar nos teus olhos, enxugo tuas lágrimas, porque meu corpo desmorona quanto tu choras. Acho que vai ser mais uma despedida.

Acho que dessa vez não terá despedidas, porque eu finalmente resolvi morar junto a ti no 505.

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