eternize-me

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  As mãos de Hyejoo se encontravam levemente atadas sobre sua saia vermelha de flanela e parte do tecido rasgado de sua meia calça de lã, enquanto seus olhos procuravam encontrar qualquer resquício de seres vivos no meio de toda aquela escuridão que era o Museu do Louvre naquela tarde fria de Paris.

  Sentada no chão gélido do edifício, sua única companhia eram as minúsculas luzes de emergência próximas á algumas obras-primas; estas, penduradas sobre o papel de parede rústico, agregavam à aquele corredor uma sensação desconfortável na jovem de vinte e um anos que somente conseguia pensar o quão bom seria estar voltando para seus alojamentos da aclamada Universidade Parisiense de Artes ao invés de estar presa á aquele enorme breu a espera de uma suposta namorada que nem sequer havia feito questão de aparecer - como sempre.

  Além de possuir um enorme medo do escuro desde que era menor, uma grande parte de Hyejoo tinha aversão á representações humanas e, até mesmo, de seres inanimados em quaisquer que fossem os métodos artísticos existentes. E, digamos que, estar rodeada por centenas de pinturas e esculturas durante um blackout estúpido, não poderia ser - nem de longe - sua tarde ideal de um sábado de inverno.

  Com as mãos tremendo e suando de um modo louco - o que não parecia combinar com a estação congelante em questão - Hyejoo se apoiou sobre alguma coisa - qualquer coisa - que estivesse a seu alcance para se levantar antes que sua bunda congelasse e seus músculos das pernas começassem a negar qualquer tentativa de locomoção. Ela estava com medo e, praticamente, morrendo de frio.

— Eu sabia que devia ter colocado um casaco por cima dessa blusa. — disse a si, a medida em que passava as mãos ligeiramente sobre o longo e fino tecido de sua blusa branca adornada por sutis pérolas no entorno de sua manga. — Se eu não morrer de medo, pelo menos morro de frio. — bufou, tentando se manter calma apesar do pessimismo.

   O barulho de seus saltos relativamente altos ecoaram pelo corredor vazio ao dar seu primeiro passo em direção á saída de emergência mais próxima daquele inferno. Parecia estar sufocada pelo ar que a cercava, sem conseguir encontrar oxigênio o suficiente para se manter psicologicamente estável. Aquele lugar a tornava vulnerável de uma maneira extremamente inédita; tudo estava desconfortável demais.

  Seu próximo passo pareceu ressoar ainda mais alto assim que fora dado e então Hyejoo jurou escutar alguma coisa em resposta, o que a manteve presa ao chão apesar de desejar correr em direção à sua liberdade o mais rápido possível.

  Um suspiro quase inaudível se dissipou próximo ao seu ouvido; tirando alguns poucos fios de cabelo do lugar antes de deixá-los na mesma posição anterior após o que pareceu ser uma eternidade.

  Risadas ecoaram corredor adentro, exalando um cheiro nostálgico de natureza junto a passos pesados sobre o assoalho gélido a preencher o chão... os pés da jovem não ousavam realizar qualquer movimento.

  Suas alucinações, que somente a atormentavam durante noites mal-dormidas e praticamente intermináveis, pareciam estar se tornando realidade como o esperado durante anos. O fim de sua vida deveria estar chegando ao fim; aquilo era vingança... eles estavam preparados para levá-la.

  Hyejoo pôs-se a posicionar as mãos trêmulas logo a frente de seu rosto ao perceber que o som se aproximava de uma maneira relativamente ágil de seu corpo e alma frágeis demais para reagirem ao desastre que se desenvolveria a seguir. Sua mente, que sempre se negara a acreditar na existência de divindade alguma, ligou suas engrenagens enferrujadas, botando-as para procurar um resquício qualquer de crença antiga ou Deus que a ajudaria mesmo depois de tantos anos em negação.

  Seus joelhos foram de encontro ao chão e, além do baque que reproduziram no ato, tudo o que restara dentro daquele ambiente fora a respiração pesada da garota; pausas de curtos períodos que sugavam todo o ar que conseguissem em tão sucinto período de tempo.

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