Capítulo 5

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Minha poltrona ficava próxima à asa direita do Airbus A-350-900 da Latam, que partiria dentro de 15 minutos de Belo Horizonte para São Paulo. O tempo estimado de voo era de 1h20.

Coloco minha pasta no bagageiro e sento na janela, minha posição de acordo com a passagem, torcendo para que ninguém estivesse ao meu lado.

A aeromoça já começava os procedimentos finais para a decolagem quando ouço um "espera moça, tô chegando!". Era o meu acompanhante de viagem.

Correndo, com uma maleta nas mãos, senta-se ao meu lado um dos ícones da Música Popular Brasileira. Torcendo para que tivesse sorte de viajar sozinho, tive a felicidade de contar com a companhia de Jair Rodrigues. Blazer branco, calça jeans e camiseta azul. Tudo acompanhado de uma enorme simpatia que deu para notar quando um apenas "espera moça" fez a comissária de bordo sorrir um sorriso espontâneo, nada formal.

Jair sentou-se ao meu lado, olhou com aquela cara de moleque segurando o sorriso e disse.

_Boa tarde! Quer dizer que vamos ficar mais perto do céu?

_Pelo menos por uma horinha! – respondi aceitando a informalidade e o bom-humor do cantor. Jair Rodrigues... muito prazer! – disse.

_Prazer. Toca aqui – disse estendendo a mão direita e curvando o tronco para o lado.

Ele se ajeitou. Várias vezes. Puxou o blazer, arrumou o relógio, checou os sapatos, olhou para fora. Estava inquieto.

_Tem medo de avião? – perguntou, dando a entender que poderia ser uma confissão.

_Não. Até gosto – respondi.

-É isso aí. Vamo que vamo – disse fazendo um movimento rápido com a mão, juntando e batendo os dedos polegar e indicador.

A aeromoça pede para que coloquemos o cinto de segurança. Um vídeo informando as condições do avião, procedimentos, saídas de emergência e medidas de segurança é transmitido aos passageiros. Uma passageira na nossa frente parece saber de tudo, sussurrando ela acompanha, sem erros, a narração explicativa. No final solta um "não falei, Mafalda?", para a amiga que a acompanha. Vejo que Mafalda só assenti com a cabeça. Não deve ter sido o primeiro "não falei, Mafalda?" que ela, a Mafalda, ouviu naquele dia.

O tempo estimado de voo entre o aeroporto de Confins e de Congonhas é de 1h20. O comandante informa que a temperatura em São Paulo estava em 13 graus, enquanto a de Belo Horizonte era de 19 graus. Ouço um "não falei, Mafalda?" novamente no banco da frente e vejo que a Mafalda continua apenas assentindo com a cabeça.

Tento conversar com meu acompanhante, mesmo sabendo que posso ser inconveniente.

_Jair, permita-me aproveitar a oportunidade para dizer que sou seu fã. Admiro seu trabalho, sua alegria...

_Muito obrigado, meu irmão – diz Jair, sorrindo desprovido de qualquer formalidade. Se tem alguém que é exemplo de simplicidade é exatamente Jair Rodrigues.

_Posso fazer uma pergunta?

_Se eu não tiver que pagar – sorri – pode.

_Não tem não – brinco também – eu sou jornalista...

_Ôpa! Muito prazer – diz gentilmente.

Eu sorrio e continuo.

_Sempre disse que se tivesse oportunidade iria te perguntar. Aquele movimento com a mão da música "Deixa Isso Pra Lá" nasceu como?

Jair cantarola, fazendo o movimento com as duas mãos, virando o corpo de lado, brincando como se estivesse cutucando minha barriga, meu peito...

_Deixa que digam, que pensem, que falem... deixa isso pra lá, vem pra cá, o que é que tem? – cantarola e sorri, interrompido pela senhora da frente que vira-se para nós e cutuca a já conhecida Mafalda.

Sonhei, Entrevistei, Escrevi...Where stories live. Discover now