O pássaro preto surge assim que atravesso um redemoinho de conceitos distorcidos que tomaram forma de guardiões.
Esses protetores falavam com pesar, e usavam da palavra para aprisionar. O trabalho deles foi importante em outros tempos, mas no novo tempo tornaram-se sabotadores da jornada.
Por um instante não consigo respirar de temor desse ser alado e o que ele representa. Ele se aproxima e reluz um brilho num relance. E logo torna a escurecer escondendo suas formas.
Sua voz crepida entoando como um trovão: grave, sábio e primitivo.
"Chegaste na hora certa, não se julgue e me acompanhe."
Caminhamos aparentemente sem direção por um longo tempo.
"Não importa o caminho, o que importa é a intenção no coração"
De repente uma leve claridade foi contornando um arco, que logo deu forma a uma porta, uma saída para fora do que agora percebia ser uma caverna.
"Não há dentro nem fora. São apenas passagens. Suba nas minhas costas que daqui seguiremos voando"
Esse portal descortinou um branco infinito, não havia distinção entre céu e chão. Meus olhos não tinham muita função, um forte instinto me alertou que a partir dali seguiria com meu estômago a me guiar.
Nas costas do pássaro, o vento quente acalentou meu coração aflito, que ainda sentia o gelado da caverna na carne, foi tirando camada por camada, tudo que me paralizava.
Uma pequena cobra se enrolou em meu dedo indicador, e com seu pequeno olá pediu a permissão pra me ajudar.
Acenei com a cabeça em respeito, e a cobra de repente se tornou um ser gigante enrolado por todo meu corpo. Com sua dança foi quebrando uma armadura até então invisível e pude enfim sentir o calor pleno do vento e da luz.
Dançamos por um longo tempo, meu corpo misturado ao dela, onde eu começo e onde acaba? Não importa.
Em cada passo dessa dança, meu corpo era tomado por uma onda de energia, que eu sentia quebrar todas as resistências, preconceitos e julgamentos.
Em cada onda de energia, meu corpo se aquecia e se acendia, agora eu me tornara a fonte de luz e calor.
Nesse momento o pássaro pousou numa clareira no meio da floresta, onde eu fui saudado com alegria por todos os seus habitantes. Fui tomado por um sentimento de familiaridade.
Conhecia aquelas árvores, aqueles seres metamórficos que ora pareciam pessoas, de repente se tornavam animalescos emanando energia das mais diversas cores.
Um cavalo surge entre as árvores, e como um grande irmão me cumprimenta.
Sua voz é doce e profunda, sinto a vibração dela em cada extremidade do meu corpo.
"Dessa vez fez sua passagem pelas cavernas e não pelas campinas, curioso. Aprende rápido. Bom!" disse isso com alegria amarela de cavalo.
Ao terminar de dizer isso, sinto-o dissipar. Não é um partida.
Sentado estou em meio as árvores, em círculo com meus irmãos.
As arvores são entidade antigas, tudo que já viram e o conhecimento que guardam. Temos que estar aberto para recebe-lo
Meus irmãos existem no outro plano, preciso encontra-los. (já encontrei alguns talvez?)
Esse círculo de criaturas fantásticas está sempre guardado dentro do meu peito. Quando retorno para o mundo terreno, eles se fecham num pequeno círculo que se guarda no meio do meu peito.
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A Jornada das Palavras
FantasyCerta vez um mestre disse que através da meditação podemos encontrar perguntas e respostas. Se quiser caminhar adiante, busque por perguntas. Isso norteará um travessia por camadas das mais diversas sortes. Nas profundezas da mente encontramos diver...