Memórias Clássico

137 5 0
                                    

Como sempre, desde que seu irmão passou a viver como uma pessoa independente do mais novo, Atsuya olha pelo jovem de cabelos cinzas de longe. Desde aquele dia ele não tinha mais permissão de partilhar do mesmo corpo de seu irmão ou sequer falar com ele. Parecia que, naquele momento, o mais velho havia construído uma parede entre ele e o rosado, impedindo qualquer liberdade que ele teve antes daquele maldito jogo...

O mundo parecia ter perdido suas cores, entrando num tom apagado e sem vida, o que chega a ser engraçado um fantasma pensar assim. O tempo parecia não passar e quando ele via, anos já haviam se esvaído para os vivos, lembrando a ele que não havia mais lugar para si ali.

- Tsc, se quiser se lamentar por aquele jogo, vai se lamentar sozinha. - Grunhe o rosado, cortando a minha narração. - Hoje sou eu quem conta essa história e eu não gosto desse clima.

゚・✻・゚・✻・゚゚・✻・゚・✻・゚゚・✻・゚・✻・゚゚・✻・

Atsuya POV:

Eu observava as coisas que se passavam em Hokkaido do alto, de vez em quando descendo para me sentir um pouco mais vivo. Mesmo estando morto.

Acho que, uma das razões pela qual eu não descansei ainda é que eu ainda me preocupo com o meu irmão, mesmo que agora ele leve uma vida boa, casado e adotou uma criança. Sim, adotou. Se as garotas que veneravam ele na época do colegial soubessem que ele é gay, provavelmente teríamos evitado muitos rolos e talvez até situações extremamente vergonhosas. Por que eu disse teríamos? Pois ainda sinto que existe uma ligação entre eu e ele, uma ligação que se formou na época que dividíamos o mesmo corpo.

Eu passava por cima de ruas muito familiares para mim, afinal, morei lá vivo e morto, quando uma ideia me perturbou novamente. Mesmo que eu quisesse, não conseguia alcançar esse objetivo, ou sequer fazia ele perceber.

Meu irmão ainda morava naquela casa, mesmo com a família nova. Foi quando essa família começou a se formar que o meu desespero começou, foi quando eu comecei a desaparecer por completo. E foi com isso que notei que minha forma ali, era realmente um fantasma do passado do Shirou. E agora ele se livrava de mim.

Olho através da janela que mostrava a sala. O meu querido acinzentado estava carregando caixas para cima e para baixo, provavelmente fazendo uma faxina, enquanto cozinhava alguma coisa às pressas, afinal, a noite ia alta já e logo o filho e o marido chegariam de onde quer que tenham ido. Vendo isso, não resisto em dar uma risada meio triste, quem diria que o atacante principal da Hakuren e treinador do atual time mais forte de lá, estaria se comportando como uma dona de casa. Não que eu esteja praticando ou apoiando o preconceito em relação a isso, mas é engraçado.

Em determinado momento, ele abre uma das caixas que estavam no armário no quarto que ficava no andar de cima da casa e para de se mover por alguns segundos, logo em seguida apanhando algo de lá de dentro.

Atravesso a parede do segundo andar, e me posiciono ao lado dele, querendo ver o que era. O que eu encontrei, me fez levar a mão até o meu pescoço e agarrar algo imaginário, fiz isso por um velho hábito, talvez até um tique.

Observo o ex-defensor da Hakuren passar os dedos por entre o tecido felpudo, como se fizesse carinho. Resisto fortemente para não colocar a minha cabeça ali. Sinto saudades das nossas conversas noturnas, as discussões, os treinos que fazíamos e, acima de tudo, dele em si.

Meu olhos acompanharam quando ele colocou o tecido em cima da mesa e continuou a arrumar o resto das coisas. Continuo ali, dando uma risada de vez em quando com as falhas dele, sentimentos que pareciam distantes, vivos, pareciam retornar a ressoar no meu peito, porém, como tudo o que é bom, durou bem pouco, pois logo os dois membros da família restantes chegaram, acabando um pouco com a pequena nostalgia do jovem fantasma.

House Of MemoriesOnde histórias criam vida. Descubra agora