Memórias Ares

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Shirou POV

Eu não acredito. Quem é aquela ser humana que já chegou dando um tapa na mãozinha linda do Atsuya? Tive que me segurar muito para não dar um soco naquela peste que se auto denomina uma jogadora, que, além de tudo, veio para tirar a pouca paz do time. Tudo bem que ela é uma boa jogadora, mas ignorar e até agredir um membro mais antigo que ela não se faz.

Calma Shirou. Respira, você não está pensando com clareza. Sua obrigação é ser gentil com todos e fazer ela se enturmar. É minha obrigação como capitão desse time e nada, absolutamente nada vai poder mudar isso, por mais que eu deseje.

Pensar que toda essa minha apegação com o Atsuya começou quando aquele acidente aconteceu. Estava eu e a minha família num parque de diversões, todo mundo se divertindo, até que ele teve a ideia genial de tentar dirigir o carro de nossos pais sem eles saberem. Obviamente eu protestei, mas ele conseguiu me arrastar para isso não sei como e, no final como já se esperava, não terminou bem. Ele foi o mais afetado com o que aconteceu e acabou sendo internado e em estado grave. Quando ele acordou, ele parecia um pouco diferente, maduro talvez, mas acho que foi só um choque do momento pois logo ele voltou a agir mais normalmente, se bem que ele melhorou no futebol também, mas isso não é assunto para agora.

Agora eu me encontrava em baixo do chuveiro pensando na vida, pois esse é o melhor lugar para isso sim, quando o meu rosado idiota dá um chute na porta, basicamente arrombando ela. Espera, eu disse "meu rosado"?

- Que susto, Shirou. Você tá demorando tanto aí que eu achei que você tinha morrido cozido debaixo da água quente. - Fala sem pensar, como sempre. - Anda logo porque tá esfriando e a mãe tá te chamando.

Outra coisa que eu estranhei bastante depois que ele acordou no hospital: o fato de ele ter estranhado falar mãe e pai, ou se referir a alguém desse jeito. Foi algo bem estranho, mas decidi que não havia notado isso.

Termino o banho, saio do banheiro já vestindo a roupa, pois encarar o frio do lado de fora não ia funcionar muito bem, e vou ver o que a chefa queria, que no final, era apenas ajuda com a janta.

Tudo o que aconteceu em seguida foi apenas mais uma parte chata e monótona do meu dia, com exceção da raiva que ainda queimava no meu peito, coisa que eu ainda queria me livrar.

E isso se seguiu por dois meses, até o dia do jogo contra a Raimon. Como eu aguentei? Não sei, sinceramente, talvez fosse porque toda vez que eu ia sequer falar algo para para ela, eu lembrava do Atsu feliz jogando. Se ela ficar triste, é provável que o treinador, o pai dela, expulse a nós dois do time, o que não seria bom nem para mim e nem para o o esquentado, afinal, não dá para sermos perfeitos se não pudermos jogar.

De toda a forma, ainda não alcançamos o que desejamos. Perdemos vergonhosamente contra aquela nova Raimon, quase não tivemos chance e, acima de tudo na minha opinião, eu deveria estar feliz pela felicidade do Atsu de ter jogado contra o colégio vencedor do Futebol Fronteira no ano passado, e que parecia, estranhamente, ter algo há mais nessa felicidade toda.

Era a noite dessa derrota e eu encarava o céu claro e frio de Hokkaido. Por estarmos em um período mais seco do ano, o seu estava limpo e eu conseguia ver as estrelas de cima do telhado, um lugar que o Atsu descobriu recentemente que é seguro, bonito e, acima de tudo, tranquilo. Como ele agiu quando veio aqui pela primeira vez, já parecia conhecer cada telha solta e posição melhor para se ficar, como se houvesse feito isso grande parte da vida, o que era basicamente impossível. Por enquanto eu resolvo ignorar mais esse fato. Ando ignorando muitos deles, não é mesmo?

Observo as estrelas, como se tentasse desvendar as respostas que procuro através delas. Estou ficando muito sentimental, credo. Em algum momento eu fecho os meus olhos e passo a somente apreciar a brisa fria que corria por ali que, por alguma razão, parecia gerar um sentimento de... nostalgia talvez?

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