Prólogo - Capítulo 1

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Camila transpirava enquanto andava apreensiva. Olhava ao seu redor na procura de uma mísera alma, mas só havia ela ali. — Por que diabos uma das principais avenidas da cidade costuma se tornar tão vazia à noite? — questionou a si mesma.

— Por que eu tive que aceitar essa merda de emprego? — indagou novamente, mesmo já sabendo a resposta...
— Deixe-me ver: vou ser despejada pois meu aluguel está atrasado há uns dois meses ou porque minha faculdade precisa ser paga? — diria de maneira irônica, haviam muitos motivos que a faziam permanecer naquele emprego, ensinando inglês para crianças em uma humilde escola da região. Camila não era pedagoga ou algo do gênero, na verdade, estava em um curso completamente distante disso, ela sonhava em se tornar arquiteta.

Entretanto a falta de oportunidade, como a mesma dizia, a ''empurrou'' para aquilo. Mas francamente, Camila não gostava de seu trabalho, como também de nenhum outro. Efetivamente, haveria um único emprego no mundo que a garota teria o maior prazer do mundo em exercer: de suporte em alguma página da Netflix em uma rede social! Sim, é um serviço pra lá de estranho, mas ela não se importava, pelo contrário, possuía um vício quase compulsivo de ver as respostas divertidas que a Netlix dava em seus seguidores através das suas redes sociais. A mais memorável que ela consegue se lembrar, é quando a Netflix respondeu o filho do então deputado, Jair Bolsonaro, com um: ''Você está louca, querida!''. Ela amou tanto a frase, que até ensinou em inglês para seus alunos, que ficou em torno de: ''You're crazy, honey!''.

A menina não costumava largar tão tarde de seu ofício, mas havia tantos trabalhos e provas para corrigir, que ela preferiu concluir ali mesmo. O resultado já sabemos, voltando para casa às 22:00 da noite de uma terça-feira, em uma avenida completamente vazia.
— Espero apenas não ser assaltada, afinal de contas, não tenho muito o que entregar. Nem minha castidade eu tenho mais, isso eu tenho certeza que os bandidos não poderão levar! — murmurou em um tom sarcástico. Camila era brasileira, ela costumava soltar piadinhas em horas que certamente, não eram propícias. Mas mesmo assim, insistia em fazê-las, pelo simples motivo de que pior do que estava, não dava para ficar.

No metade do trajeto do trabalho para sua casa, a menina teria que passar por uma velha ponte, que na sua humilde opinião, já deveria ter sido demolida há muito tempo. Ela provavelmente era feita de concreto, mas estava repleta de crateras, o que não ajudava a passar uma imagem de segura. Pelo menos não para Camila. Mas como era o caminho mais rápido até sua residência e ela não estava em opção de escolha, ela decidiu seguir.

O viaduto se iniciava em uma pequena rampa, que seguindo, levava até a direção plana da ponte, que ficava em torno de seis metros de altura do chão. Em baixo do elevado, havia uma estação ferroviária, que sim, funcionava. O maior medo de Camila não era a ponte em si, mas o tremor provocado quando os trems passavam por de baixo dela.

— Se um trem resolver passar essa hora, significa que minha sorte é inexist... — antes que pudesse concluir a frase, a jovem notara um grupo de três rapazes com aparentemente sua idade, uns vinte anos, vestindo jaquetas pretas e tragando algo que aparentava ser um cigarro.
— Maloqueiros?! Justamente no momento em que estou voltando pra casa, eu realmente não tenho sorte alguma. Obrigada, Deus! — um sentimento de hesitação passou a dominar todo o corpo de Camila. Valeria a pena cruzar a ponte e arriscar sua vida, apenas para chegar em casa mais rápido? O problema está aí, a garota não estava preocupada simplesmente em chegar depressa no seu apê e descansar do dia produtivo que teve. Mas em assistir a transmissão simultânea da terceira temporada de Lucifer que o canal FOX tinha com o Brasil.

Antes que pudesse enfim tomar uma decisão, um dos garotos, particulamente o da esquerda, um loirinho de olhos claros e pele extremamente pálida, que parecia muito com o ator que interpreta o personagem Maxxie na segunda temporada de Skins. Apontou para Camila, indicando a presença da garota para os outros dois.
— Ora... Ora. Mas o quê temos aqui? — diria o mais despojado do grupo. Um rapaz negro que media cerca de dois metros de alturas, já se aproximando da menina, quando foi ''cortado'', pelo rapaz que se localizava no centro e que demonstrava ser o líder do bando.
— Eu cuido dela! — exclamou o capitão do trio.
— Tudo bem, tudo bem... — sem nem mesmo contestar a ordem de seu superior, o moreno recuou de cabeça baixa.
— Então menina, o que você faz por essas bandas a essa hora?! — ditou com um sorrisinho safado pendente entre os lábios, ele era quase tão pálido quanto seu amigo Maxxie, mas não o suficiente. Seus olhos eram castanhos, possuía madeixas escuras que camuflavam toda sua testa, vendo seu porte físico por baixo da jaqueta e das calças camufladas, poderíamos presumir que ele era no mínimo atlético.

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⏰ Last updated: Aug 08, 2018 ⏰

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