Acordei com raios de sol esquentando meu rosto novamente. Ao levantar abri a vidraça das janelas, fechei os olhos e senti o aroma da grama molhada que a brisa levava até mim, escutei os sons dos galhos e das folhas das árvores balançando juntas. Era verão.
Enxaguei meu rosto escuro, que se ofuscava no ambiente pela pouca iluminação do banheiro. Coloquei meus óculos redondos dos quais eu não gostava muito, pois faziam com que meus olhos parecessem bem maiores que o normal, me deixando com a aparência parecida com de personagens de desenhos japoneses, com olhos que quase não cabem no rosto, do qual não lembro a razão de ter gastado meu tempo assistindo na noite anterior – mas eu sabia que era necessário, enxergava apenas borrões coloridos sem eles –
— Kyla, Desça logo para tomar café! — Exclamou minha mãe, Meredith, furiosa por mim acordar tão tarde. Desci rapidamente, peguei alguns biscoitos, meu clarinete e atravessei a porta da frente, dizendo apenas "bom- dia", caminhando em direção a clareira que me encontrava toda manhã.
A clareira necessitava de algumas batidas de perna para chegar, ficava no meio do bosque, atrás de uma densa cadeia de árvores, sozinha, ninguém mais sabia de sua existência, eu havia descobrido-a no verão anterior. Sentei-me em uma tora de madeira que ficava na sombra de um grande salgueiro e começei a tocar.
Toquei algo parecido com Tchaikovsky, ou Mozart, começei com calma, depois subi as escalas, e percebi que estava tocando agressivamente. Eu estava mais ansiosa que o normal aquela manhã. Fechei os olhos, respirei fundo até que não coubesse mais ar nos meus pulmões, e soltei, calmamente.
Sentia o cair das folhas das árvores no solo, o azul do céu, o sol reluzindo minha pele escura, o vento do bater de asas de uma borboleta, a vida que me rodeava, cada frequencia emitida pelo instrumento a cada nota que eu executava, tudo aquilo, me fazia flutuar até as nuvens, estava em sintonia com a natureza. Aquilo era eu.
