Sol e Lua

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"O céu sobre nós é o mesmo. Então, não estamos tão longe assim."

Dia CXCI

Tão esplêndida hora dourada do solstício de verão, as flores não poderiam estar mais belas, pássaros vocalistas, e aroma paradisíaco a 1 atm. Saio do meu apartamento, até o corredor, onde vejo minha vizinha retornando com uma sacola de mantimentos, como farinha, ovos e açúcar.

— Bom dia, dona Elória! — Eu disse, dando um singelo aceno para minha vizinha.
— Um ótimo dia para você também!

Tal mulher foi batizada pela sua eloquência, expressava de um modo elegante, porém simples e de fácil entendimento. Era humilde, e cuidadosamente tratava dos assuntos do prédio.
Desço as escadas, até a portaria, e vejo Serno cuidando de cartas na bancada.

— Bom dia, seu Serno! - Eu disse, com um grande sorriso no rosto.
— Opa, tenha um bom dia!

Seu Serno era o porteiro do prédio, antigo síndico que se aposentou para aproveitar o restante de sua vida com equanimidade, possui comportamento gentil e benevolente.

Após os cumprimentos, saio pela portaria e prossigo ao meu local de trabalho: O Jardim.
Mais precisamente o jardim do parque, que fica a alguns minutos daqui.

Ao chegar ao jardim me deparo com as rosas do local, a essência que resplandece no ar, o vívido vermelho veludo que transmuta nossos sentidos, como é bom trabalhar em um lugar assim! Poder sentir a vida crescer através dos seus dedos, criando laços com a natureza.

A rotina em si era monochata, podar os arbustos, regular os jatos d'água, conferir o nível de adubo, entre outros. Mas essa era a grande aventura, tentar ver o belo no que não é tão atrativo.
Enquanto não estou no parque, fico na floricultura ao lado, cuidando das flores.

Em um dia típico, chega um cliente a procura de flores. Um homem alto, parecia inquieto, olhos cansados, estava todo de moletom, não parecia se importar com a trivialidade da aparência externa.

— Bom dia, posso ajudar? — Eu pergunto.

—  Sim, sim, é (...) Eu preciso de um arranjo de flores brancas, para agora. — Disse o homem, enquanto se desencapuzava, deixando um corte high fade à mostra.

— Tudo bem, quais flores?

— Ah, não sei, só me vê a primeira que tiver ou sei lá.

— Nós temos as gerberas, os lírios, as tulipas que acabaram de chegar...

— Não faço ideia do que isso seja, só quero um arranjo branco.

— Você deseja ver a lista de flores? Assim você pode escolher o formato, taman–

— Eu já disse, qualquer coisa! – O homem exclamou, enquanto bateu na mesa. E parou por alguns segundos. – Só (...) me veja qualquer coisa aí, vai.

— Calma, calma, eu vou ver o que posso te arranjar.

Sai do balcão e fui a dispensa da loja, procurei qualquer arranjo, com uma enorme má vontade no peito. 

— Vamos ver se temos lírios brancos, normalmente eles são bem baratos.

Comecei a procurar por lírios, com sucesso não achei, porém, comecei a procurar arranjos que já estavam prontos, e o mais perto que consegui foram algumas rosas rosas que estavam em um buquê transparente e unidos por um laço verde. 

Voltei ao balcão com o tal buquê, presumindo que o cliente ainda estava aguardando.

Mas não estava, tal ignorante foi embora, deixando, ironicamente, um bilhete sob o balcão.

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⏰ Última atualização: Oct 10, 2018 ⏰

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