• incolor

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As ruas de Londres nunca estiveram tão movimentadas como estão hoje e por algum motivo - mesmo em meio ao trânsito - ainda me encontrava com um sorriso no rosto que fazia com que as pessoas me olhassem com certo espanto. Era seis da manhã de uma segunda-feira e eu sorria como se fosse uma tarde ensolarada de domingo.

O motivo? é meu primeiro dia de trabalho em um dos maiores hospitais de onde moro e eu estou tremendo em pé como uma vara, minhas unhas já estão todas roídas e eu ainda nem cheguei no serviço. Espera... acho que estou atrasado.

— O senhor.. poderia andar mais rápido, se possível? - Disse em voz baixa para o homem ao meu lado que dirigia o carro

O mesmo levantou o olhar para mim, soltou uma fraca risada e logo voltou a fitar a enorme fila de carros em nossa frente.

— Querido, até que tenham criado carros voadores vamos ter que ficar aqui. Eu não posso voar por cima deles. - respondeu entre risadas.

Eu queria voar nele naquele momento. Seu sorriso convencido me fazia sentir raiva e eu, como um bom garotinho mimado, apenas revirei meus olhos e levantei levemente no banco. O homem, a qual o nome nem me interessava mais apenas me olhou de canto de olho e eu tratei de tirar a carteira do bolso, jogando sobre ele as duas notas de dez amassadas e algumas moedas.

— Tenha um bom dia, vou voando. - respondi carregado de sarcasmo e me permiti ate mesmo gargalhar.

[...]

Corri por dois quarteirões até finalmente estar na frente daquele gigantesco hospital que me fez engolir em seco e fitar tudo ao redor feito uma criança. Era gigante e eu tinha em mente que vovó sentiria orgulho de mim naquele momento.

Ajeitei minha camisa polo de cor branca e voltei a caminhar pelos enormes corredores sem deixar de sorrir por um segundo, ja sentia dores nas bochechas e ver minha "sala" ao final do corredor serviu quase como um alivio; tinha medo de não acha-la e ter a humilhação de ter que perguntar a alguém onde era minha própria sala.

Ao me aproximar, consegui ver meu sobrenome na porta e eu pude sentir meus olhos brilharem com aquilo. Ora Ora, Louis está ficando importante.
Girei a maçaneta, empurrei a porta e fitei aquele lugar imenso mas tão sem cor com certo frio na barriga. Eu definitivamente teria que dar um "trato" nisso.

A sala ficava na ala dedicada a pacientes em reabilitação pois eu não levo jeito para crianças, não sirvo para ficar com velhinhos e ainda menos com muito movimento como na UTI..então, é a melhor opção.

Deixei minha mochila sobre a enorme mesa de vidro que havia ali e aproveitei para me sentar sobre ela, apenas engolindo toda aquela informação. Pode parecer besteira mas desde criança sempre me imaginei em um hospital tão grande quanto esse, vestido com um uniforme branco como este e ganhando MUITO para comprar doc...para me sustentar e ajudar a família com as contas.

Meus pensamentos me levaram para um lugar onde nem eu mesmo conhecia e então ouvi a porta sendo aberta, o que me fez levantar da mesa em um sobressalto e fitar com espanto o homem que surgiu ali.
Tinha uma barba rala e loira, traços de um alemão e pelo jaleco, deduzi que trabalhava na ala infantil; era cheio de desenhos.

— Oh, desculpe senhor, eu não quis te assustar mas..er..me mandaram para te mostrar o hospital. Me desculpe, novamente. - Pronunciou tendo ao fim os lábios entre os dentes, estava evidentemente nervoso.

— Não tem problema e..senhor não, tenho apenas 22.

— Oh, meu deus, desculpe sen..Tomlinson! - respondeu ele.

— Então..vamos? - cortei o garoto para evitar que continuasse nesse ciclo vicioso

Ele assentiu e por fim saímos caminhando pelos corredores.

Descemos pelo elevador até a ala infantil, ala dos velhinhos (como eu gosto de chamar), a correria da uti, a recepção e blablabla. Andamos tanto que eu ao menos me toquei do quanto ate estar em uma das ultimas alas que ficava no corredor ao lado da minha. Era a área mais "calma" onde podia ver familiares entrando e saindo, portas decoradas com flores e até mesmo pintadas. Havia rosa, azul, verde e até roxo.

— Esta aqui é a ala para pacientes em coma ou em observação de casos mais..voce sabe - o homem pareceu mais apreensivo na medida que nos aproximávamos do fim do corredor - que sofreram acidentes graves.

Ele levou suas maos para os bolsos do jaleco e então, se preparou para virar novamente para meu corredor. A última porta não tinha cor, não tinha flores, não tinha movimento e ao menos vida. Na porta, um unico sobrenome sem ser acompanhado por algum nome, que mesmo marcante parecia não ser digno de ser memorado. Styles.

— O que houve com este? - perguntei com certa curiosidade.

Naquele momento o homem voltou a feição fechada. Parecia vazio, tão vazio quanto aquela parte do corredor.

Seja lá o que tinha dentro daquela sala, parecia preocupa-lo.

just a heartbeat ( l.s ) Onde histórias criam vida. Descubra agora