O começo

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  Incomodada com a música mais brega de todos os tempos - Time After Time da Cyndi Lauper - estico meu braço tentando alcançar o maldito despertador. Sinceramente, ainda não sei o porquê que eu ainda não o desativei. Acho que não preciso mais dele. Tenho acordado bem cedo ultimamente. Cedo até demais.
  Abro um olho de cada vez, me estico um pouco, até que me dou conta de que era segunda e eu tinha aula. De novo. Fico, então, deitada olhando para as estrelas que um dia pintei em meu teto. Minha mãe insiste em falar que a pintura ficou bonita, mas eu não me conformava com o borrão que causei quando fazia a estrela que eu mais amava. A estrela que nomeei. A brilhante Icarium.
  O borrão, de certa forma, fazia com que a estrela parecesse que estivesse caindo. Uma queda infinita. Uma dor infinita.
  O borrão sempre rouba a minha atenção. É como aquela estrela desastrosa falasse comigo. Sempre a observo, arrogantemente ignorando as outras. Isso pouco me importa, sei que vou longe demais quando paro pra pensar.
   Me levanto e ,com passos de zumbi, me dirijo ao armário para escolher a roupa de mais um dia de fracasso.
- Acho que esses tênis roxos combinam perfeitamente com minhas lindas olheiras. O que acha, verdão?_ digo isso olhando para o pôster que tenho colado no lado interior da porta do armário. Nele é retratado uma foto do Yoda apontando pra mim com uma ridícula mensagem - "Muitas das verdades que temos dependem de nosso ponto de vista"- Pra ser sincera, nunca a entendi.
  Calço os tais tênis roxos acompanhados de umas bregas roupas velhas. - Não costumo ser tão brega, mas hoje tá quase impossível.
— Winnie! – grita minha mãe do primeiro andar – Winnie, venha comer logo, vai esfriar!
  Minha mãe sempre diz "vai esfriar", mas quando eu desço desesperada, vejo que ela ainda está terminando de preparar o café. Sempre a mesma história. Aprendi a não descer com tanta pressa.
— Já vou! – tento gritar com minha voz rouca de quem acabou de acordar. Termino de guardar os livros na mochila e desço.
  Dessa vez o café já estava posto na mesa. Me surpreendi. Me sentei e comecei a devorar.
— Vou chegar tarde hoje. – disse minha mãe sentada do outro lado da mesa. – preciso fazer umas horas extras.
— Sem problemas, mãe.
Minha mãe é o tipo de pessoa que vive de trabalho. Se ela parasse por apenas um dia, acho que ficaria maluca.
  Ela trabalha em nossa padaria - Hubort's - que por acaso é o nosso sobrenome - . Ela ama esse lugar com todas as forças. As vezes eu vou lá ajudá-la, mas nem sempre. Na maior parte do tempo estou fazendo meus deveres de casa ou observando o mísero borrão.
— Vou indo - Digo isso enquanto dou a última garfada.
Me retiro da mesa e a dou um forte beijo - Não tão forte e nada babado, detesto beijos babados - e saio em busca de um ônibus.
 

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⏰ Última atualização: Feb 15, 2019 ⏰

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