I- A primeira Lágrima

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Já se passava das seis, o sol não iluminava mais. Havia apenas uma tonalidade escura e avermelhada no céu.

Helena se encontrava sentada em um pequeno banco de madeira envelhecida, em frente a sua casa, não muito distante da cidade. Observava ali passar, homens e mulheres, voltando para suas casas, depois de um longo dia de trabalho.

O cultivo de trigo e lavanda era a principal renda daquela pequena cidade, que possuía não mais que cinquenta casas.

Motivados pela salvação e a procura do paraíso, aquela população possuía uma grande fé, dedicando-se a longa vida monótona e religiosa.

Por mais que fosse uma sublime jovem de dezessete anos, Helena possuía um enorme amor ao seu Deus, vivendo uma enorme ternura divina.

Ainda enfrente a sua casa, percebe a aproximação de uma moça loira, aparentemente recatada, trajando um vestido desbotado que terminava em seus joelhos levemente machucados, trazia consigo um suspeito decote, revelando sua inocência amadurecida.

Ainda distante, com um ar de deboche, diz em alto tom:

- Deus não irá se importar se você sair conosco, é muita oração para checar.

- Engraçado, mas desnecessário. - Responde Helena. E com uma leve risada, a singela jovem loira, já na varanda, se inclina e puxando um velho banco, acomodou-se ao lado de sua amiga, e com calma diz:

- Sabe Lena, você precisa sair, faz bem conversar com outras pessoas. E quem sabe seu botão enfim desabroche...

O comentário malicioso da ninfeta provoca um leve rubor em sua amiga, ela possuía desejos, mas suas promessas divinas eram suas prioridades, deixando-a proscrita do impetuoso prazer que poderia sentir.

- Noir, uma moça de quinze anos deveria possuir mais recatos, não é certo viver com tanta perversidade. - Responde Helena.

- Não sou perversa tolinha, eu apenas me permito sentir. O recato vai embora quando sinto fortes braços em volta de meu corpo frágil- Enquanto fala Noir lentamente percorria sua cintura- Eu compreendo seu modo de vida Lena, mas as pessoas mudaram.

- Eu sei, mas não desistirei de meus votos.

Como redenção, Noir levanta as mãos para o alto junto a um sorriso acolhedor. Logo o sorriso se desfaz, quando percebe a aproximação de uma simples senhora, que estampava em sua face, um notório terror, junto a lagrimas secas. Diante a situação pergunta:

- Ei, aquela ali- diz apontando para a senhora- não é a sua tia? O que ela faz aqui?

Sem responder, Helena prontamente levanta e com passos aflitos aproximasse de sua tia.

- Tia Sara o que houve? Venha, vamos entrar, mamãe deve está nos fundos.

Subindo os poucos degraus, Sara desmotivada, pergunta:

- Onde está seu pai?

-Ele já deve esta chegando, mas o que aconteceu?

- O padre Theodor morreu- responde à senhora atordoada.

- Já não era sem tempo- reclama Noir.

Helena se vira com um ar de sentença:

- O padre Theodor era um grande homem, apesar de muita idade... Mas isso o tornava sábio- e depois de uma pequena pausa, cochicha a Noir- O que tinha de idade, tinha de arrogância- Noir responde com um sorriso levado.

A senhora como se voltasse de um transe diz a sobrinha:

-Ele era como um irmão para mim me aproximava de Deus com sua presença.

- Eu gostaria de ter o conhecido melhor, mas apenas conversávamos no confessionário. -Responde a jovem.

Nisso, as duas garotas acomodam a senhora na respeitosa sala de estar, que como um convite, estampava a arvore genealógica da família Viana, demostrando uma bela fila de pinturas representando a antiga presença da família. Sara sentou-se em uma poltrona bege entalhada, e Noir juntou-se a senhora sentando ao seu lado em um móvel igual. Helena retorna com a sua mãe e as duas percebem a presença do pai que acabara de retornar do trabalho.

Após os pais de a garota ouvir à senhora, o cômodo abraça um momento silencio que se é quebrado com o pai da jovem:

- Quando irão velar o corpo de Theodor?

- Será amanha Paulo- devagar, responde à senhora- O ajudante de Theodor, Kalebe, que irá realizar o funeral. Theodor era o nosso único reverendo.

-E quem irá subistituir Theodor?

-Eu não sei...

Paulo assentiu com a cabeça.Sua esposa, carinhosamente prepara um chá para todos ali presente pudessem se tranquilizar. Quase uma hora depois, Sara decide retornar para sua casa, Noir decide acompanhar a senhora, como as duas moravam próximo.

O manto noturno cobriu a cidade, e ela já podia se agasalhar na segurança de sua casa, a ínfima população dorme no lamento de uma morte, ansiando que os dias dormentes continuassem, mas a cidade nem esperava que breve ardesse em chamas.

Do Céu Ao InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora