Prólogo

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Brasil – algum dia de maio, 1932.

A delegacia de policia mal havia aberto as portas naquela terça-feira nublada quando uma senhora bastante agitada entrou causando tumulto. O Delegado Carlos, que não gostava de ser interrompido em seu café matinal, teve de ser chamado às pressas. Aquela cena se tornou algo comum na delegacia nos últimos meses, mulheres desesperadas e escandalosas relatando desaparecimento e assassinatos. Todos estavam assustados com o estado brutal em que os corpos eram encontrados, que pareciam ser assassinados por algum animal, até então não identificado, mas os policiais suspeitavam de ataques de onças ou algo parecido.

O Delegado tratou de colocar ordem na delegacia! Convocou o escrivão Beto, e um policial investigativo, o Inspetor Silva, para auxiliar na coleta do depoimento da mulher. Quando todos já estavam em sua sala, o escrivão em sua mesa com papel pronto na máquina de datilografia, o Inspetor com um bloco de anotações e um lápis, e a pobre senhora de olhos assustados sentada em frente a sua mesa, o Delegado sentou-se confortavelmente em sua cadeira, e coçou a barba grisalha, irritado com a decorrência daquela situação.

-- Bom... – disse ele com um suspiro. – Comecemos do início... Como se chama senhora?

A mulher que tinha por volta de seus 40 anos, era delicada e bastante magra, os olhos estavam vermelhos e inchados de tanto chorar. Os cabelos castanhos pintados com alguns fios brancos estavam bagunçados, e ao analisar suas vestimentas, ficou claro que se tratava de uma mulher da classe pobre.

-- A-Ana – respondeu ela soluçando.

-- Sra. Ana, ouve algum... assassinato? – iniciou o Inspetor Silva.

-- Óh... Eu realmente espero que não! Mas não tenho certeza...

O Delegado franziu o cenho, confuso. -- A Senhora diz que não tem certeza, por ter algum sujeito desaparecido?

-- Não apenas UM, mas DOIS homens desaparecidos, Sr. Delegado. Meu marido e meu filho! – seus olhos se encheram de lagrimas e ela soluçou secando os olhos em um lenço.

Pobre senhoras desoladas... Pensou o Delegado.

-- Em qual situação isso se deu, Sra.? – interviu o Inspetor.

-- Bom... – pensou a mulher. – Esta noite, já bem tarde, meu filho fugiu para a floresta...

-- Minha Senhora... – interrompeu o delegado0 impaciente. – Perdoe-me pela intromissão mas, com as notícias estampadas nos jornais e os boatos que estão circulando na cidade... Não consigo entender por que diabos seu filho fugiria no escuro para a floresta!

-- Luiz queria mata-lo! – respondeu Ana, caindo em prantos.

-- Acame-se, Senhora! Precisa nos explicar essa situação – disse o delegado. – Quem é Luiz?

-- M-meu marido...

-- Que também está desaparecido, por ir atrás do vosso filho, assim suponho. – Ana assentiu. Carlos suspirou. – Neste caso, tudo oque posso fazer é pedir que a Senhora se mantenha calma e volte para casa, avise-nos caso eles apareçam por lá. E enviaremos alguns homens para procura-los...

-- Não... não... não... – interrompeu Ana.

-- Ora minha Senhora! Já basta! Não vejo outra maneira melhor de ajuda-la! – irritou-se o Delegado.

Ana secou as lagrimas e engoliu o choro antes de falar.

-- Tem razão, Sr. Delegado. Talvez não possa me ajudar, mas eu com certeza tenho algo a dizer na qual tem interesse.

Carlos bufou um sorriso irônico.

-- O que uma mulher como a Senhora poderia ter a dizer que desperta-se meu interesse?

-- Pois então saiba que tenho informações que podem esclarecer as mortes brutais dos últimos meses!

Ao ouvir isso, o Delegado endireitou a postura e franziu o cenho. Trocou olhares com o inspetor, que parecia igualmente confuso e curioso. Até Beto levantou os olhos do teclado para olhar por sobre a máquina, atônito.

Oque uma mulher de meia idade, com aparência tão simples e frágil, saberia sobre o maior e mais brutal caso de mortes que o estado já vira?

-- Se estiver mentindo, será presa por depoimento falso, Sra – informou o Inspetor, com tom sobreo. – Espero que tenha plena consciência disso.

A Sra. Ana suspirou tremula e nervosa.

-- Tenho medo que me julguem insana... Mas não vejo alternativa a não ser dizer tudo... – ela respondeu.

O Delegado Carlos recostou-se novamente em sua cadeira e soltou um longo suspiro.

-- Silva, busque um copo de água para a Senhora se acalmar antes de nos dar seu depoimento e uma xicara de expresso para mim. – ordenou o Delegado, já irritado de imaginar o longo dia que teria pela frente. 

Procurando no escuroWhere stories live. Discover now