1.Minguante

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Thomas puxou um trago do seu cigarro, prendeu a fumaça nos pulmões por um instante e soltou para a escuridão da noite. Do lado de fora da festa, encostado no poste de luz, ele podia ouvir a música animada, vozes e risadas de jovens se divertindo. Mal passará da meia noite e as pontadas de frustação ameaçavam fazer daquela noite um fiasco, entre muitas outras que começaram da mesma forma.

O som das rodas contra as pedras da rua foi oque despertou Thomas de seus devaneios. A maquina de quatro rodas parou a poucos metros de distância do rapaz, reluzindo sua tintura negra contra a luz do poste. Thomas, e mais algumas pessoas que saíram da festa só para admirar aquela obra-prima, encaravam sem conseguir desviar os olhos enquanto o rapaz bem apessoado e de postura dominante deslizou elegantemente em seu terno fino para fora do carango, ajeitando a gola do paletó. Quando Thomas tomou consciência de quem se tratava, desviou os olhos e fingiu estar distraído com seu cigarro.

Vincent Nobre era um sujeito mau encarado, isso Thomas aprendera da pior forma! Ainda podia sentir a dor do soco certeiro em seu nariz, que o fez ficar com um hematoma bem dolorido por longas semanas. Tudo isso por algumas palavras irônicas que Thomas soltara durante um jogo de cartas quando já estava encorajado pelo álcool, em uma noite como aquela. Vincent era um maldito arrogante, que se achava no direito de distratar qualquer um que não fosse da alta classe, Thomas, apesar de ser de umas das classes mais baixas da cidade, não fazia questão de bajular o outro para estar na sua roda de conhecidos, e assim, usufruir de alguns benefícios, como bebidas caras e charutos importados.

Vincent passou por Thomas sem o cumprimentar, já que nenhum dos dois fazia muita questão de trocar gentileza. Aquela era a gota da água para Thomas, era uma noite perdida e sem solução, e não queria estar ali por mais nenhum segundo, mas precisava avisar Erik, seu amigo e companheiro, que provavelmente estava se divertindo em algum lugar dentro do casarão. Thomas deu um peteleco na bituca, acertando a lataria do carango, e entrou novamente para o ambiente mau iluminado, passando entre os outros jovens alcoolizados e lentos, procurando por Erick.

Thomas procurou primeiro perto do bar, era difícil identificar qualquer feição naquelas condições. Depois de longos minutos se arrastando entre os outros jovens, Thomas decidiu procurar nos fundos do casarão, onde havia um longo sofá de couro vermelho onde os rapazes sentavam-se acompanhados de moças e lhes pagavam bebidas. Depois de procura-lo de ponta a ponta e ganhar algumas encaradas dos rapazes que estavam ali para ter mais privacidade, Thomas desistiu e sentou-se em um espaço vago no sofá. Sua cabeça pulsava dolorosamente de irritação, pensando se de alguma forma Erick teria decidido ir embora sem avisa-lo, acompanhado de alguma moça ou alcoolizado de mais para lembrar de alguém.

-- Você está com cara de quem precisa de uma bebida – Thomas levantou os olhos e ficou boquiaberto com a visão. A moça era loira e tinha belas curvas delineadas por seu vestido muito mais justo do que as boas meninas costumavam a usar, o par de olhos cor de mel acompanhavam o meio sorriso dos lábios carnudos pintados de vermelho, ela lhe oferecia um copo com alguma bebida e gelo. Parecia exatamente o que Thomas precisava naquele momento, uma bebida forte e gelada.

Ele aceitou o copo, e ela sorriu satisfeita. sentando-se ao seu lado enquanto Thomas tomava a bebida em grandes goles. A sensação era de mel quente descendo pela garganta.

-- O que um rapaz bonito faz sozinho aqui? – ela perguntou.

Thomas tentou sorrir, constrangido. Normalmente não era tímido, mas não estava acostumado em receber elogios de mulheres.

-- Estou procurando meu amigo – respondeu. – E o que uma moça bonita faz sozinha aqui?

A moça riu.

-- Eu estava procurando algum dos meus irmãos, nós estamos visitando a cidade por alguns dias.

-- Sou Thomas Miller – ele se apresentou.

-- Stephanie Ross – respondeu ela sorrindo, e aproximou-se para dizer com a voz mais baixa. – É um prazer.

Thomas estava tentando decidir entre beijar aquela estranha ou dar alguma desculpa e ir embora quando ouviu um tumulto vindo do canto esquerdo do casarão, onde ficavam algumas mesas de jogos. Stephanie levantou-se com um sobressalto, a expressão passou de divertida a preocupada, e foi em direção ao tumultuo, abrindo caminho entre os outros curiosos que ia para o mesmo lado. Thomas levantou-se e a seguiu.

Quando chegou ao centro do tumulto, a cena que Thomas encontrou o deixou bem confuso. Vincent estava com o rosto inflamado de raiva, tão vermelho e brilhante de suor que parecia pronto para explodir. Ele xingava e se debatia, tentando se livrar do braço que o segurava firmemente em um mata leão perfeito. Do jeito que seu rosto mudava do vermelho intenso para o roxo, sugeria que não levaria muito tempo até que caísse desacordado. Erick estava lá, com o lábio inchado e sangrando, mas estava longe de estar abatido. Apesar da dificuldade de manter o equilíbrio, Erick levantou os punhos e acertou um soco no estômago de Vincent. Erick não era um sujeito de muita força, mas o soco contribuiu para que o rosto de Vincent ficasse em um tom ainda mais roxo. O sujeito que segurava Vincent firmemente ria se divertindo com toda a cena, era alto e forte o suficiente para intimidar qualquer um que tentasse partir em defesa de Vincent.

-- Brian! Solte-o – ordenou Stephanie para o grandalhão. Este, no mesmo momento ficou sério e soltou Vincent, que caiu como uma boneca frouxa e inconsciente no chão.

-- Que merda aconteceu aqui? – perguntou Thomas ainda confuso.

-- O maldito arrogante disse que estávamos roubando no jogo de cartas – respondeu Brian, parecendo tentar se explicar para Stephanie que cruzou os braços, reprovando-o com os olhos.

-- O desgraçado me acertou um soco quando eu disse que não tínhamos culpa se ele não sabia jogar. – Completou Erick, e deu um chute frouxo nas pernas de Vincent, mas estava tão bêbado que teve de se apoiar em Thomas para não cair.

-- Vamos achar os outros e ir embora agora! – repreendeu Stephanie para Brian, fazendo todos em volta ficarem desconfortáveis. Então ela saiu abrindo caminho pela multidão que se aglomerava em torno da cena, e Brian a seguiu.

-- Quem é essa? – Perguntou Erick.

-- Stephanie Ross – Respondeu Thomas, mas não sabia mesmo nada sobre ela. 

Procurando no escuroWhere stories live. Discover now