¡CUIDADO! Cao Raivoso

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11/03
A primeira coisa que Ester pensou quando viu Seu Alfredo foi que ele era um homem de aparência bem peculiar. Parecia ter uns sessenta anos, o que era 10 anos a mais do que ele realmente tinha, baixinho, não muito gordo e com olhos de um verde-claro quase brilhante e vesgos. Mas obviamente isso não fez com que ela desistisse da casa.
    Ela chegou ao endereço quase sem esperança, um apartamento na zona Norte do Rio de Janeiro daquele tamanho e com aquele preço não era algo comum de se ver, estava esperando que o senhorio fosso desagradável, que o lugar estivesse em condições ruins ou qualquer outra coisa que desvalorizasse aquele apartamento, mas nada disso aconteceu. O Seu Alfredo, embora não muito bem afeiçoado, era um homem muito gentil, o apartamento estava em perfeitas condições e até a vizinhança parecia ser agradável.
-E então? -Alfredo perguntou enquanto desciam as escadas que davam para o futuro apartamento de Ester.
   -Simplesmente inacreditável! -ela respondeu sorrindo. -quero fechar contrato o mais rápido possível.
    -Bom que gostou. -disse colocando a mão no ombro da moça a guiando delicadamente por um caminho diferente do que tinham feito no início. -Venha por aqui, tem um ótimo espaço nos fundos que você pode usar para fazer festas, ou para se reunir com uns amigos.
    No curto corredor que dava para os fundos do sobrado tinha uma grande porta de ferro com três cadeados e uma placa escrito "¡CUIDADO! CÃO RAIVOSO".
   -O senhor tem um cachorro? -Ester perguntou, embora pareça uma pergunta cuja resposta é aparentemente óbvia, ela ficou intrigada com a segurança e cuidado com que o animal era preso.
   -Sim, mas não se preocupe. O Spock fica muito bem preso.
    -Percebi... - respondeu achando que três cadeados eram um pouco demais para manter um cachorro sob controle
Ester viu a área dos fundos e se mudou para o apartamento em menos de um mês.

04/05
As semanas que se passaram desde a mudança de Ester teriam sido muito tranquilas se não fosse a Porta
    No início, a única coisa que a fez achar a Porta estranha foi o fato de servir apenas para deixar um cachorro preso e ser feita de ferro, com uma grande fechadura e três grandes cadeados, mas com o tempo, Ester começou a perceber que Seu Alfredo ficava perturbado quando ela lhe falava algo a respeito da Porta. Nas primeiras vezes, ela perguntou coisas simples como qual era a raça do cachorro e ele respondeu de forma muito natural, mas com o passar do tempo Ester começou a ouvir barulhos estranhos. Às vezes em gemidos e grunhidos, os eram sons de coisas caindo e batendo no chão ou sendo arrastadas, sempre seguidos pelo rangido da grande Porta de ferro se fechando, quando ela perguntou sobre como seu Alfredo tratava seu cão ele respondeu rispidamente "Não é da sua conta!" e entrou em casa.
   Ester não sabia o que tinha atrás da Porta, mas tinha certeza de que não era um cachorro, não tinha como ser um cachorro, se ela era capaz de escutar os grunhidos também seria capaz de ouvir latidos ou uivos.

13/05
    Os dias foram passando e Ester foi ficando cada vez mais obcecada com a Porta. Ela passou a acordar às 4 da manhã, duas horas mais cedo q o necessário para ir pro trabalho, apenas para ficar olhando pela fechadura se Seu Alfredo passaria pelo corredor que dava acesso a Porta. Mesmo com o tempo extra, ela acabava saindo atrasada, e a tarde quando chegava em casa, ela se dedicava a mesma atividade até tarde da noite. Ela sai mais tarde e chegava mais cedo que Seu Alfredo, a menos que ele fingisse sair para trabalhar todas as manhãs, não tinha um momento do dia em que ele ficasse livre de sua vigilância.
    No dia 23/05 Ester finalmente teve a recompensa pelos seus esforços.

23/05
    Às 2:14 da manhã ela viu Seu Alfredo virar para o lado esquerdo do corredor. Ester abriu a porta da forma mais silenciosa que pôde, mas antes de começar a descer a escada lembrou que deveria esperar um pouco para dar tempo de Seu Alfredo abrir todos os cadeados. Ela esperou impaciente por cerca de um minuto até que ouviu o rangido da Porta se abrindo, e então começou a descer.
    Antes que conseguisse chegar à metade da escada ouviu o barulho da porta se fechando e ficou imóvel com a ideia de ser pega, mas após alguns instantes chegou à conclusão de que ele havia entrado no quarto e fechado a porta por precaução.
  Terminou de descer e viu que a porta estava trancada pelo lado de dentro, então decidiu ficar parada atrás da Porta esperando o momento em que ele a abrisse de novo para sair.
   Ester ficou parada por quase meia hora, e dessa vez ela não escutou só um ou outro grunhido, ela escutou xingamentos que Seu Alfredo dirigia a seja lá o que estivesse ali com ele, barulhos que pareciam ser de duas pessoas brigando é apenas um grito abafado que não era de Seu Alfredo, e sim de outra coisa. Ester pensou na palavra "coisa" porque o que ela escutou não a fazia lembrar nada. Foi um grito estridente, que era ao mesmo tempo muito grave para pertencer a uma mulher e muito agudo para ser de um homem. Quando ouviu ficou apavorada, gelada e imóvel, se não fosse uma mulher adulta e racional diria que Seu Alfredo estava brigando com algo de outro mundo.
    Seus devaneios foram interrompidos pelo barulho da Porta sendo aberta novamente, ela esperou ele abrir a porta até a metade é antes que ele fosse capaz de vê-la, ela agarrou, puxou a Porta e quando ela estava totalmente aberta olhou para dentro.
Embora pouca, a iluminação que vinha do lado de fora foi o suficiente para que ela pudesse ver uma menina extremamente magra, pequena, totalmente acorrentada e amordaçada jogada em um canto. Ela não sabia o que Seu Alfredo fazia com aquela menina, mas sabia que tinha que tirá-la dali.

23/05- 2:43 AM
    Após uma fração de segundos de pura inércia causada pela surpresa, Alfredo recuperou os sentidos e empurrou Ester para longe da Porta e tentou fechá-la o mais rápido que pôde enquanto tentava dizer:
   -Você não entende, me deixa te...
    Antes mesmo de ele terminar a frase e encostar a porta Ester se lançou sobre ele fazendo com que os dois caíssem no chão.

23/05- 2:43 AM
    Ester deu graças por Seu Alfredo ser um senhor de idade, e também por ter conseguido pegá-lo de surpresa, ela ficou em cima dele distribuindo uma porção de socos em sua cabeça o mais forte e rápido que conseguia, enquanto o homem parecia apenas tentar cobrir a cabeça com os braços para se defender e tentar pensar em uma forma de sub julgá-la. No dia em que se conheceram ela não teria sido capaz de o atacar com tanta ferocidade, mas agora... ela sabia que mantinha uma pequena menina ali, e nem queria imaginar por quanto tempo, ou o que ele fazia com ela.
    Após alguns segundos, Seu Alfredo conseguiu se recuperar. Ele segurou as mãos dela e a jogou para o lado, antes que ele tivesse tempo de levantar e fazer alguma coisa com ela, Ester avistou um dos grandes cadeados que eram usados para trancar a porta, ela pegou e com um rápido movimento bateu com ele na cabeça do velho o mais forte que pôde. Seu Alfredo caiu novamente no chão, dessa vez inconsciente.
    Ester se levantou e foi até a menina o mais rápido que pôde com medo de Seu Alfredo acordar. Examinou a menina rapidamente e viu que ela tinha correntes que apertavam seu corpo dos ombros até os tornozelos, então decidiu pegar a menina no colo e subiu as escadas o mais rápido possível. Entrou em casa, colocou a menina delicadamente no sofá e disse tentando parecer o mais tranquila que era possível nessa situação.
  -Eu já volto, você vai ficar bem.
   Desceu correndo, arrastou o corpo de Seu Alfredo para dentro do cativeiro e o trancou lá dentro. Subiu novamente e chamou à polícia, ela estava muito nervosa o que fez com que falasse muito rápido e embolado, mas em menos de três minutos de ligação o policial que a atendeu garantiu que a ajuda chegaria em poucos minutos. Agora, mais tranquila, Ester se virou para a menina novamente.
-A polícia já está vindo. -ela disse se aproximando da menina que a encarava com olhos grandes, expressivos e incrivelmente vermelhos -Eu vou tirar essas coisas de você.
    Só agora Ester estava reparando nas correntes e na mordaça, pareciam ser de ouro puro, e também sentia um estranho cheiro de queimado que estava vindo da garota. Primeiro, com a ajuda de um alicate e de muito esforço, ela tirou a mordaça.
    -Um já foi. -disse sorrindo enquanto a menina permanecia séria.
  A mordaça foi tirada e revelou uma marca vermelha, como uma queimadura, com seu exato formato no rosto da menina, essa marca sumiu em menos de 10 segundos e deu espaço a coloração pálida que a menina tinha no resto do corpo. Ester não deu atenção a isso, começou a tirar a corrente e se surpreendeu por isso ter acontecido em toda parte do corpo da garota que estava em contato com a corrente de ouro.
    -Pronto. -falou aliviada e secando o suor da testa. -Você está segura agora, eu tranquei ele lá embaixo e a polícia já está vindo.
    A menina continuou olhando-a séria e com aqueles estranhos olhos.
    -Pode me dizer seu nome? -Ester acrescentou.
    A menina pareceu pensar por um instante, olhou em volta e de repente se virou para Ester e falou com uma voz que era ao mesmo tempo muito grave para pertencer a uma mulher e muito aguda para ser de um homem e que parecia vir de todos os lados, e não só de sua boca
    -Eu tenho muitos nomes.
    Após essa frase a criatura abriu um grande sorriso torto com uma série de dentes irregulares e seu rosto começou a se desfigurar como se estivesse assumindo uma nova forma.
    Ester nem teve tempo de pensar que Seu Alfredo estava certo ao dizer que não era da conta dela antes que a criatura se lançasse em sua direção.
   
16/05- 3:00 AM
    Ester abriu os olhos e tudo o que viu foi escuridão.

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⏰ Última atualização: Aug 19, 2018 ⏰

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