uma linda mulher.

26 4 1
                                    

Seus cabelos eram grandes, negros e encaracolados. Ela era a garota mais linda que eu já havia visto na minha vida. E era uma pena conhece-la naquele lugar.

Quando eu era mais nova e estava terminando a escola, meu pai se matou. Foi uma situação estranha, porque era ele quem pagava as contas. Quando eu e minha mãe chegamos do mercado lá estava ele, pendurado por uma corda. Seu rosto, lembro até hoje, parecia indiferente. Como se, ao estar próximo da morte, nada mais passava pela sua cabeça. Posso até apostar que, enquanto amarrava aquela corda em volta do seu pescoço, ele nem lembrou que tinha uma família para cuidar.

Depois deste dia minha mãe se fechou. Não saia de casa, não falava comigo. Vivíamos de água a macarrão instantâneo, até acabar tudo. Fomos despejadas de casa, nem tínhamos para onde ir.

Aos quinze anos minha mãe fez eu me prostituir.

Mas não era tão ruim quanto parecia. Quer dizer, a minha vida estava uma merda, honestamente, mas eu vivia longe dela, era algo que me deixava até aliviada.

Horrível admitir que eu preferia estar com qualquer outro homem a estar com ela.

Mas minha mãe sugava minha energia e meu dinheiro. Até recuperar o suficiente e ir embora, sem me avisar para onde. Mas depois disso minha vida não melhorou.

Faziam três anos que eu estava naquela vida. E, por sorte, eu quase não era a "escolhida". Eu não era bonita como as outras garotas, tampouco interessante. Mas às vezes eu até aceitava ir com homens que não me queriam só para poupar alguma colega minha.

Estávamos comemorando meu aniversário de dezenove anos na pequena casa da nossa chefe quando ela entrou.

O seu nome "artístico" era Diem.

- Como Carpe Diem? – uma das minhas colegas perguntou, e endireitou a postura. – uau, gostei.

- Obrigada – ela disse, toda tímida. Ainda lembro do jeito que ela mexia no cabelo, toda nervosa. Lembro das suas unhas longas, sua boca cor de sangue, sua pele branca como a neve era um contraste enorme com a minha pele escura e de criança. Ela parecia uma mulher já formada, mas tinha dezoito anos.

Eu fiquei encantada nela durante uma semana inteira. Obcecada, até.

Eu não sabia bem o que sentia. Era estranho, mas começou a fazer sentido por que nunca senti nada com todos aqueles homens. Mas parecia tarde para me encontrar.

Uma certa noite ela estava conversando com um homem e eu não sei bem o que deu em mim, mas me aproximei dos dois e fiz o homem me escolher. Eu não queria aquelas mãos nojentas em cima dela.

Quando fui para o dormitório naquela madrugada, Diem abriu a porta com tanta fúria que eu me assustei.

- O que diabos eu te fiz?

- Co-como assim? – eu gaguejei. Não sei se de nervosismo ou de susto.

- Eu preciso de dinheiro, beleza? Você rouba todos os meus clientes!

- Me desculpa – eu disse e peguei o dinheiro daquela noite e entreguei a ela.

- Se você não queria o dinheiro, por que fez aquilo? – ela ficou me encarando, e depois contou o dinheiro – caralho, que babaca. Só isso?

- Bom, eu não sou a melhor daqui – eu dei de ombros e ela riu – olha, me desculpa. Nem tenho como te explicar por que eu faço o que faço...

- Tenho a noite toda pra isso – ela disse, sentando-se na minha cama.

Diem ficou me encarando tanto que eu sentia meu rosto queimar. Não sei o que ela sentiu, mas algo na sua cabeça começou a fazer sentido. Talvez meu nervosismo. Talvez o silêncio ensurdecedor.

Ela se aproximou de mim e tocou no meu braço, suas mãos estava geladas e uma de suas unhas havia caído.

- Pode me falar – sua boa estava perto de mim, sua respiração era quente e tinha um cheiro de álcool com um pouco de cigarro.

- Não posso – eu disse, tirando sua mão de mim.

Eu estava pronta para virar de costas e ir para a minha quando ela segurou meu braço e me fez ficar encostada na parede.

- Não precisa me dizer nada – ela sussurrou e aproximou sua boca da minha.

Sua língua era quente e macia explorando minha boca. Eu segurei na sua cintura enquanto ela segurava meus braços em cima da minha cabeça. Desceu sua boca até meu pescoço, meus seios. Aliviou o aperto nas minhas mãos e eu a puxei de volta para cima. Eu queria mais daquele beijo. Do sabor dela. Da sua boca carnuda. Seu gosto de mulher. Suas unhas arranhando minhas costas e tentando, com todo esforço possível, abrir minha calça.

Eu me deitei com Diem naquela noite.

- Meu nome é Jen – ela disse, me abraçando por trás.

Eu apenas sorri, mesmo que ela não fosse ver.

Eu não disse meu nome. Eu não queria que ela soubesse de nada sobre meu passado.

O que importava era estar ali com ela.

love winsOnde histórias criam vida. Descubra agora