Sabe, Deus...eu sei que o Senhor me conhece, mas quero contar a minha história.
Nessa carta, resolvi Te contar coisas que sei que já sabes.
Tudo começou quando sai do meu pequeno e limitado mundinho do ensino fundamental. Até o 5º ano, eu estudava numa escola que era bem simples, mas era bem...digamos que, protegida. Ela nos protegia de palavrões, mexer no celular na sala de aula, do bullying e entre outras coisas. Mas tudo mudou quando completei o 5º ano. A escola acabou. Simplesmente, mudei de escola.
É aí que o drama da minha vida se inicia. Uma nova escola com novas possibilidades. Olha o perigo. Vi que existia um mundo ao meu redor. Vi que o mundo não era apenas aquela pequena escola que nos protegia de tudo. Acabei querendo provar um pouco das coisas.
Comecei a xingar e fazer outras coisas que, confesso, eram graves. Eu me encantei com o mundo que encontrei, mas o encanto durou pouco.
Depois de um tempo, conheci a dor. A dor me preenchia de noite, me fazendo chorar em silêncio enquanto todos dormiam. Eu não entendia o motivo da minha vida ser tão sem sentido. Era tudo muito monótono. Sempre aconteciam as mesmas coisas.
Acordar, ir pra escola, voltar e por aí vai. Era tudo muito cronometrado. Até que um dia, comecei a querer mudar de caminho.
Eu ia na igreja, fazia propósitos, participava de consagrações, orava, buscava...mas, era tudo enganação. Eu realmente queria mudança, mas não tinha coragem. Poxa, na minha mente, eu tinha uma vida boa. Uma vida de adolescente que tinha um celular e todo um mundo digital na mão. Eu tinha histórias e o poder de apagar o histórico do Google. Já havia ocorrido problemas por causa do meu celular, mas eu não ligava.
Eu era o tipo exato de crente Raimundo, pé na igreja e pé no mundo. Eu não sabia qual caminho seguir. Queria Deus, mas também queria minhas vontades. Era uma montanha-russa de confusões. E o pior, é que esse nem era o maior problema.
Depois de um tempo, o esperado aconteceu. Parei com toda hipocrisia e fui logo para o mundo. Me aprofundei em coisas terríveis que causaram efeitos horrorosos. Era um mundo totalmente falso. Como se fosse um holograma, parece verdadeiro até você tocar, aí você vê que é tudo falso.
Era como se, eu não visse a verdade, ou como se eu não a aceitasse.
Depois de um tempo, comecei a me cortar. Era como se a cada cicatriz uma lembrança sem nexo. Eu fazia isso sem motivo. Às vezes era por uma briga, às vezes por uma lembrança que nem me doía. Eu fazia isso como se eu realmente precisasse, mas não era o caso. Eu não entendo o motivo. Era algo momentâneo, não sei.
As pessoas que eu achava que me faziam bem ou que eu achava que eu gostava, ou...sei lá. As pessoas se afastaram.
Eu estava tão afundada que me culpavam por afundar outras pessoas, mas eu não havia feio isso. Mas...o lado do vilão ninguém escuta, né? Deve estar se perguntando, por quê? Eu te digo. Porquê se ouvirem a versão do vilão, podem achar que o "herói " o provocou. E era isso que acontecia. Ninguém me ouvia. Era como se tivessem me culpando por tentar matar a bela adormecida, ou tentar destruir uma cidade, ou tentar roubar uma jóia do infinito. Eu não fazia tudo aquilo, tudo não. Um pouco, sim. Eu só me escondia, fingia que não escutava. Eu só via e não falava. Eu não desmentia, muito menos me defendia. Era como se eu deixasse todos verem em mim o monstro que criaram diante das fofocas. Eu era o monstro. Eles viam o monstro. Mas eu não era tudo aquilo.
Diante de tanta "força" e seriedade, havia uma menina que sempre chorava vendo a situação. Eu via os meus problemas e...sinceramente? Eu queria resolver os problemas do MEU jeito. Eu só queria juntar a mãe de todos os que me fizeram mal, e falar que os filhos delas não eram tudo aquilo que diziam ser. Eu queria expor os erros deles, esse desejo me consumia e me entristecia. Eu sabia que não podia fazer isso. Se nem os filhos delas falavam comigo, imagina elas. Elas nunca iriam dar bola para o "monstro da sala".
A dor só aumentava e eu comecei a escutar musicas tristes. Músicas que, para mim, me caracterizavam por completo. Músicas que mostravam um mundo triste e problemático. Eu achava aquilo incrível, os cantores não tinham medo de mostrar que, famílias, amizades, adolescência, tudo, tinha defeito. Eles não tinham medo de citar os defeitos. Enquanto eu? Cantava a música e via os dias se passando.
Eram tardes deitada no sofá e escutando música. Eram dias frios em que não havia nenhum tipo de Sol. Era um túnel sem luz no final. Como se eu tivesse andando no escuro. Eu não me sentia viva, eu só sentia que eu existia.
Voltar às aulas era difícil, ainda mais com apenas dois amigos.
Até que chegou o grande dia, o dia em que eu fui para uma vigília por "livre e espontânea pressão". Lá eu vi. Eu vi a verdade. Só não quis me entregar naquele dia, não naquela hora. Às 2 da madrugada eu pensava e me recusava. A vida com Deus parecia tão boa, tão...melhor do que a que eu havia tendo.
Depois disso, fiquei pensativa, mas nem tanto. Demorou um tempo até eu entender, até a ficha cair. Mas...finalmente, caiu. Eu entendi que eu precisava de Deus. Eu não seria feliz sem Ele.
A Jornada foi difícil, mas eu consegui. Me entreguei, me batizei e perdoei. Fui perdoada e recebi amizades em dobro.
Eu só "precisei" me ferrar por escolha minha. Eu podia muito bem ter aceitado a oportunidade de Deus desde o início. Mas preferi me ferrar para entender que eu estava errada, e mesmo assim, demorou até eu entender.
Sabe Deus, eu te agradeço por ter me mudado. Quando eu olho para trás, vejo uma pessoa que já não existe mais.
Eu entendi diversas coisas. Temos que parar de ser hipócritas. Todos os dias vemos que uma pessoa cometeu suicídio, e tratamos como se fosse algo normal, algo que vemos no cotidiano. Mas não é algo normal. Aquela pessoa morreu porquê alguém a tratou mal, ou ela não achou ajuda, ou alguém não a escutou. Se você está errado, ninguém vai te escutar. Você vai ser culpado para sempre, até alguém te escutar. Eu podia ter cometido suicídio, mas não o fiz. Eu quebrei meu orgulho e admiti, eu precisava de ajuda.
Se eu consegui, você consegue.
Eu sou Yasmin Albuquerque e venci todos os obstáculos que minhas próprias escolhas criaram.
Ass: Yasmin Albuquerque
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Dear God
Spiritual"É aí que o drama da minha vida se inicia. Uma nova escola com novas possibilidades. Olha o perigo. Vi que existia um mundo ao meu redor. Vi que o mundo não era apenas aquela pequena escola que nos protegia de tudo. Acabei querendo provar um pouco d...