Intermúndio Encarnado

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Fogo. O mundo se pela.

Algo se insinua pela fresta da janela,

Uma cor quente me interpela,

E do sono calmo me acordou.

Indo ao parapeito,

Senti o desejo afeito,

De desvendar o mistério que me deixara sem jeito

E que de um sonho cálido me tirou.

Abri as persianas e fui iluminado,

Por um distante brilho encarnado,

De origem, indeterminado,

Advindo de pontos cegos nas ruelas abaixo.

Tive a impressão, que fogueiras foram acesas,

Em algum tipo de celebração piegas,

De algum feriado avulso e suas festejas,

Mas um silêncio fúnebre me deixou cabisbaixo.

Elevador parado, pelas escadas tive que vagar,

Meu objetivo estas luzes encontrar,

A cada passo sempre a me questionar,

Haveria sido esquecido por ti Deus?

Saí daquele recinto onírico,

Com um pensamento específico,

Razão eu lhe suplico,

Estou acordado ou perdido na terra de Morfeus?

No térreo se concretizava

O que no âmago se insinuava,

Não havia ninguém e lá só eu estava,

Na portaria, aberta e abandonada.

Na rua, nos postes, nenhum sinaleiro,

A escuridão tomava a tudo por inteiro

A não ser pelo clarão vermelho, sorrateiro,

Que emergia ao longe e mais nada.

De uma esquina segui a luz reluzente,

Corri ao encontro de possível gente

Que pudesse me acalmar certamente,

E que tais fogueiras estivessem a queimar.

Mas para meu espanto

Ao virar a esquina, tive o desencanto

A luz desparecera, no entanto,

Deixando a escuridão a reinar.

Mais à frente, retorna a minha sina,

O brilho escarlate novamente se anima,

O que é? O que é isso que me alucina?

Num grito alto supliquei.

Avancei confiante,

Mas sem resposta calmante,

Numa ausência desconcertante,

Apenas o silêncio, e nesse instante  parei.

Resolvi voltar para minha casa,

Correndo como Ícaro de quebrada asa,

Numa angústia que já não era rasa,

Me vi novamente em meu apartamento.

E da janela irradiava o rubro brilho,

Inundando aquele caixilho,

Deste pesadelo não haverá exílio,

O parapeito me livrará deste tormento.

Assim me pendurei na sacada,

Meu corpo para fora, mente preparada,

Para sair desta onírica morada,

Mas ao ganhar os ares o chão se assomara, e por não acordar nele enfim repousei.

Intermúndio EncarnadoOnde histórias criam vida. Descubra agora