Eu quero ser lembrado.

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Ser famoso ou não? O que você prefere?

Nunca achei que ficaria tão confortável sozinho com alguém que eu não conhecia. Chegava a ser até bizarro o jeito como parecia até mesmo divertido passar aquele tempo ali, respondendo perguntas com Jimin, um cara aleatório que estava sentado na minha frente. Taehyung diria que eu estava apaixonado à primeira vista – ele possuía essa mania chata de querer fazer tudo parecer um grande conto de fadas – ou então desejaria do fundo do coração ter uma única chance de poder ver minha cara de retardado olhando para o hyung. Mas não, eu não estava com cara de bobo. Como eu poderia saber? Era impossível! Eu o conhecia faziam alguns minutos... Eu ainda não sabia da capacidade absurda dele de me deixar destruído (de uma forma boa, sim), ainda.

— Ser famoso ou não? O que você prefere? — Jimin passou a caneta sobre a pergunta, coçando o queixo logo em seguida. — Acho que essa não é tão difícil... O que você acha?

Pensei, pensei e pensei mais um pouco. Não sabia ao certo se queria mesmo ser famoso. Quer dizer, deveria ser divertido e o dinheiro deveria ser interessante, mas a falta de privacidade e toda a responsabilidade me assustava bastante. Todos dizem (e eu confirmo, infelizmente) que sou alguém irresponsável e largado, como poderia ter cuidado quando andasse por aí? Claro que não teria.

— Você já sabe, hyung? — rebati a pergunta.

Jimin sorriu, parecia levemente envergonhado.

— Bom, eu... Eu acho que sim. Digo, eu gostaria de ser famoso sim. Não sei se ator ou diretor de cinema, sei lá, só sei que como cantor eu não me daria bem. — ele riu alto, jogando a cabeça para o lado novamente. — Mas eu queria ser lembrado, sabe, Jeonggukie? Queria ser uma dessas pessoas famosas que quando morrem são lembradas durante muito tempo... Ser lembrado já era o suficiente, não precisava nem de todo aquele dinheiro.

Conseguia entender o lado dele, eu até tinha algo para dizer a ele sobre a ideia de ser alguém lembrado, mas algumas coisas me distraíram naquele momento. Uma delas fora o modo como o meu nome saíra dos lábios carnudos dele. Jeonggukie. Jeonggukie. Eu poderia ouvir isso durante horas, jamais cansaria!

A primeira vez que Jimin me chamou daquela forma apenas não ganhou de quando ele fez o mesmo, porém bêbado. Céus, Jimin bêbado era a melhor coisa que eu poderia ver num final de dia em toda a minha vida. Me lembrava o modo como eu e Taehyung saíamos nos finais de ano durante o colegial porque achávamos que a vida era curta demais para apenas irmos para casa jogar vídeo-game até amanhecer. Nós queríamos ver o amanhecer de um lugar mais divertido, de uma altura mais valiosa. Jimin me lembrava esse meu lado mais novo, mais vivo e, bem, isso era maravilhoso.

Sem contar o modo como a risada bêbada dele me deixava mole. Os dedos pequenos se apertando em um dos meus braços para se segurar enquanto andava ao meu lado, a mão livre puxando os fios loiros para trás, os olhos pequenininhos fechados de um modo que ele parecia um fodido deus grego esculpido em pele humana. Eu poderia parecer assustador quando pensava nele? Poderia, mas eu não dava a mínima. Ainda não dou. Este é um fato.

— Você sempre vai ser lembrado, hyung. — eu finalmente respondi, fiquei durante muito tempo quieto, o encarando. Ele deveria me achar estranho. — Sempre vai ter alguém que olha para alguma coisa, escuta alguma coisa ou come alguma coisa e pensa em você, lembra de você. Sempre.

Não me lembro ao certo o que eu quis dizer com aquela frase, mas fez tanto sentido depois que chegava a me apavorar. Ele me encarou, após escutar tudo olhando para as próprias mãos, com um pequeno sorriso nos lábios e um olhar que eu não fazia ideia do que significava. Talvez ele estivesse mais confortável com aquilo, talvez eu tivesse o lembrado de uma memória dolorosa. Era confuso demais, até hoje eu não entendo.

— E você? Gostaria de ser famoso? — ele perguntou, levantando aquele olhar confuso na minha direção.

— Eu não sei... Não sou bom com responsabilidades. — respondi meio baixo, queria ter uma resposta tão boa quanto a dele, mas eu não tinha. — Talvez se eu fosse famoso pelo meu trabalho e por fazer o que eu gosto... Ser reconhecido no meu ramo é um sonho meu.

Dei de ombros, afinal, eu não me importava muito com o que ele pensava de mim naquele momento. Mas a careta surpresa dele me fez sorrir internamente, satisfeito. Surpreender era sempre bom e, não querendo me gabar, era algo raro de conseguir comigo. Meus amigos gostavam de me apelidar sempre com algo ligado à falta de expressão, falta de medo, falta das coisas. Chegava até mesmo a parecer que eu era vazio, apesar de todo o turbilhão que existia dentro de mim. Jimin era, mais uma vez, a prova disso. A prova da existência desse turbilhão que – algum tempo depois – eu descobri ser algo muito bem usado por ele e seus sorrisos.

Então eu fitei o rosto dele, os lábios minimamente entreabertos e os olhos pouco arregalados, acabei rindo baixinho.

Especial. — Jimin soltou outro de seus pensamentos resumidos.

Eu achei engraçado, nem ao menos tentei entender o que ele quis dizer com especial, logo após de eu ter dito que apenas queria ser reconhecido como jornalista. Só que, após nós terminarmos todas aquelas perguntas e sairmos juntos, ele voltou a repetir. Especial, especial. Ele me dizia coisas, Jimin jogava pensamentos curtos em mim e eu não sabia nem ao menos o que pensar, o que responder.

Eu só sabia observá-lo, imaginando o quão famoso ele era por entre as minhas memórias. E, mesmo que eu não quisesse, eu sempre iria concordar com Park Jimin bêbado:

— Se não for para se lembrar de alguém, que eu nem ao menos a conheça.

Eu, Jeongguk, havia conhecido-o. Eu, Jeongguk, sempre irei lembrá-lo.

Porque Jimin queria ser lembrado e eu, mesmo que não entendesse isso no início – e apenas aceitasse agora, não poderia esquecê-lo de qualquer modo.

Como Se Apaixonar em 21 Perguntas | jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora