- VÓ!-
Uma menina com pequenas sardas no rosto, vestindo uma roupa casual para o ambiente que era a casa de sua avó.
- Já falei para não gritar dentro de casa, querida.- Uma senhora com a aparência desgastada apareceu vestindo um vental branco com um pano de louça pendurada no ombro esquerdo.- O que houve?
- Pode contar uma história pra gente?- Apontou para sua irmã mais nova que estava atrás de si.
Leticia a irmã do meio segurava um bichinho de pelúcia e nem parecia que segurava aquele bicho felpudo desde que nasceu, já que a aparência parecia ser nova.
- Mas é claro. Bom, não sei se vocês sabem mas essa semana se comemora o folclore brasileiro.- A idosa sorriu vendo suas netas ficarem confusas.
- Floclore?- Leticia perguntou se sentando no chão.- Que isso?
- São lendas que passam de geração em geração posso dizer assim, lendas criadas para assustar as pessoas.- Explicou tentando não usar nenhum tipo de palavra difícil e que deixasse as netas sem entender nada.- Todas tem um final que faz com que os homens pensem e reflitam as coisas, entenderam?
- Sim!
- Mais ou menos.
- "Segundo essa lenda indígena e amazônica, a vitória-régia é originalmente uma índia que se afogou após se inclinar no rio para tentar beijar o reflexo da lua. Para os índios, a lua era Jaci, por quem a índia estava apaixonada..."
- Jaci? Como que ela ia beijar a lua sendo que ela fica lá em cima.- Leticia falou.
- Ela poderia ir de foguete!
- Não! Isso nem deveria existir na época.- Fabiana explicou.- Jaci é um nome legal até.
- Jacinto...
- Deixe-me continuar, por favor.- A avó interrompeu as netas vendo que a discussão não ia parar em lugar nenhum.- ''Jaci costumava namorar as índias mais bonitas da região. Naiá, que viria a ser transformada na vitória-régia, era uma dessas índias que esperava ansiosa pelo encontro com o Deus.
As índias que Jaci namorava eram levadas para o céu e transformadas em estrelas. Apesar da tribo alertar Naiá que ela deixaria de ser índia se fosse levada por Jaci, ela estava apaixonada e, conforme o tempo passava, desejava cada vez se encontrar com ele..."- "Pera aí" esse tal de Jaci matava as meninas!? Naquela época não existia feminismo?- Fabiana interrompeu a avó novamente.
- Se existisse ela não seria burra e não iria namorar com ele, né!?- Leticia empurrou a irmã pelo ombro.
-"Certa noite, sentada à beira do rio, a imagem da lua estava sendo refletida na água. Assim, parecendo estar diante de Jaci, inconscientemente Naiá se inclina para beijá-lo e cai no rio despertando da ilusão.
No entanto, apesar do seu esforço, não consegue se salvar e morre afogada."-- Gente, surto.- Leticia tinha uma expressão chocada no rosto.
- Impactada em New York.- Fabiana estava igual a irmã.- Calma, quem não sabe nadar em pleno século vinte?
- Seria vinte e um, e naquela época não existia nem tecnologia, menina!
- Sério? Babado, menina achei que existia.
- Mano, você não tem cérebro né? Não é possível.
- Meninas! Não terminei.- A senhora interrompida falou "atrapalhando" o diálogo entre as duas irmãs.- "Ao saber o que tinha acontecido com Naiá, Jaci ficou bastante comovido e por esse motivo quis homenageá-la. Em vez de transformá-la em uma estrela como fazia com as outras índias, a transformou em uma planta aquática, a vitória-régia, que é conhecida como a estrela das águas.''- Finalizou sorrindo.
- Só isso?- Leticia olhou para a avó.- Transformasse ela então na Lua!
- Ou sei lá, mas uma plantinha aquática? Senhor.- Fabiana sussurrou.
- Isso nem existe mesmo, né? É história pra boi dormir. Se existisse homem assim, eu até ficaria feliz por não morrer atoa.
- Morre mas vira uma planta.- Fabiana riu da própria fala.
(...)
Enquanto isso...