Capítulo 1

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SEIS

CIDADE DE NOVA IORQUE,

NOVA IORQUE.

A cidade estava a voltar à vida.

Enquanto Seis e Sam subiam a Quinta Avenida, no meio de Manhattan, estavam rodeados de equipas que reparavam os danos resultantes da invasão Mogadoriana, que aconteceu há mais ou menos um ano. Enquanto grandes partes da cidade foram reduzidas à entulho, novos prédios estavam a ser erguidos sobre as cinzas dos antigos. Ao redor deles, os nova iorquinos viviam as suas vidas: táxis buzinavam, clientes olhavam para manequins vestindo a última moda nas vitrines das lojas, um passeador de cães parou para deixar os seis animais cheirar uma árvore que ainda possuía as cicatrizes feitas pelas garras de um píken.

Era a primeira vez que Seis ou Sam voltavam para a cidade desde a batalha que quase a destruiu. Durante o tempo que passaram a viajar pelo mundo eles viram outras cidades que estavam a recuperar-se da invasão, mas na maioria das vezes eles ficaram em lugares que não os lembrava daqueles terríveis acontecimentos. O objetivo da viajem era aproveitar a beleza do mundo, e para ter um tempo a sós entre eles. 

Ao passar por um ponto de ônibus, Seis viu um pôster sobre uma exibição no Museu de História Natural Americano, comemorando o que tinha sido chamado de Batalha pelos Bairros. Destacava a imagem de uma criatura gigante, parecida com um dinossauro. O Mogassauro, pensou Seis, lembrando-se do nome dado por Daniela para o monstro que teria matado os seus amigos e milhares de outras pessoas caso não tivesse sido transformado em pedra por ela e John. Ela não o enfrentou pessoalmente, pois estava lidando com os seus próprios problemas no México naquele momento, mas ela ouviu tudo o que tinha acontecido. Ela lançou um olhar para Sam para ver se ele tinha percebido.

— Eu acho que eles completaram-na com os pedaços retirados do rio – disse. Olhou para o pôster por um longo momento antes de completar: — Deveríamos visitá-lo.

— John? – disse Seis, sabendo que ele não se referiu à criatura petrificada. — Nós vamos. Logo.

Ela pensou nos colares de Loralite que o amigo lhes tinha deixado naquela praia em Montenegro. Eles podiam usa-los a qualquer momento para viajar até o abrigo de John, nos Himalaias. Mas eles ainda não o usaram. Eles nem conversaram sobre essa possibilidade muito além de concordar que ainda não estavam preparados para ir. Eles não estavam bravos com John ou qualquer coisa do tipo, mesmo que ele e Seis discordassem sobre como administrar a relação entre os Lorienos com a Terra, além do surgimento dos Gardes Humanos. Ela e Sam apenas queriam um pouco de tempo para serem normais – ou o mais normal que eles pudessem ser, levando em conta quem e o que eles eram.

Então, uma semana antes, logo depois de terem retornado para os Estados Unidos, enquanto caminhavam pela primeira parte da Trilha dos Apalaches, no Maine, um e-mail chegou em suas caixas de entrada. Era de alguém pedindo para falar com eles sobre a possibilidade de trabalharem em algum tipo de força tarefa envolvendo os Gardes Humanos. Seis apagou o e-mail antes de terminar de lê-lo. Sam, entretanto, o leu por completo, e alguns dias depois comentou sobre o assunto enquanto eles  jantavam em um lago particularmente bonito. Seis imediatamente contestou. Mas Sam insistiu no assunto cada vez mais durante os dias que seguiram, enquanto eles continuavam na estrada, e eventualmente ela concordou em se encontrar com o remetente, apenas para calar a boca de Sam.

Agora, depois de terem conseguido boleia para Bangor, pegado um autocarro para Boston e depois um comboio para Nova Iorque, ela não estava tão segura sobre tudo isso. Ver o pôster para a exibição apenas reforçou a ideia de que era muito cedo para se envolverem em atividades relacionadas à Garde novamente. Ela parou e reajustou sua mochila. — Sam, o que é que estamos a fazer aqui?

Sam, alguns passos à frente dela, virou-se. Usando sapatos para trilhas e roupas que combinavam mais com a floresta do que com o mundo de concreto, ele olhou para o mar de pessoas vestidas elegantemente que andavam ao redor dele. Ele também precisava cortar o cabelo e fazer a barba. — Vamos conversar – ele disse. — Só isso.

— Eu não vejo o porquê – Seis respondeu. A sua cabeça estava rapidamente a encher-se de memórias – aquelas que ela estava trabalhando duro para esquecer – e ela de repente queria estar em qualquer outro lugar. — O que quer que seja, eu vou dizer não. Eu disse não para o John sobre a Declaração. Eu disse não sobre ajudar na administração da Academia da Garde Humana. Por que aqui seria diferente?

Sam olhou para ela por um longo tempo antes de responder, e por um momento ela pensou que ele poderia concordar em voltar para trás e ir embora. — Talvez não seja diferente – ele disse, dando de ombros. — Mas o que mais vamos fazer? Estivemos vagando ao redor do mundo por mais de um ano, Seis. Estivemos em tantos países que perdi a conta. Está a ser excelente ter-te só para mim, mas eu estou cansado de viver com uma mochila às costas. E eu quero fazer alguma coisa. Alguma coisa que faça a diferença. É hora de descobrirmos o que acontece a partir de agora.

— Não podes simplesmente voluntariar-te numa equipe de reconstrução ou algo do tipo? – Seis perguntou.

Sam andou até ela e pegou-lhe as mãos. — Vamos apenas ouvir o que este rapaz tem a dizer – ele disse. — Por favor?

Seis olhou dentro dos olhos dele. — Isso significa que não me queres mais só para ti? – ela provocou.

— Dez minutos. É tudo o que eu estou a pedir. Dá-lhe dez minutos.

Ela suspirou. — Tudo bem, mas eu apenas estou a fazer isto por ti. E quando o tempo acabar, eu vou sair de lá e ir para a Estação Penn. Esta trilha não vai caminhar sozinha. Entendes-te?

— Qual era o apelido que aquele rapaz tinha arranjado para ti no abrigo na outra noite depois de tu o acordares? – Sam perguntou, colocando o indicador no queixo e fingindo estar a pensar. — Corujão?

— Muito engraçado – disse Seis. — Especialmente porque era ele quem estava a reclamar e a manter todos acordados durante a noite.

Eles andaram até alcançar a parte sul do Central Park, e então caminharam ao lado dele até á parte oeste, seguindo depois para o norte. Como o resto da cidade, o parque também estava a ser recuperado, e aqui a natureza trabalhou mais rápido que os humanos. Já parecia quase como era antes, com exceção de alguns prédios arruinados que estavam espalhados através do campo verde e algumas marcas profundas onde as naves mogadorianas tinham sido destruídas.

Os prédios de pedra imponentes do lado oeste superior emergiam como castelos em direção ao céu. Seis e Sam passaram pela entrada de um deles, chegando em uma câmara azulejada em mármore e ornamentada em ouro. Parecia mais com um hotel de um tempo antigo do que com o prédio comercial que Seis esperava. Apesar disso, ela estava intrigada.

No elevador, ela inclinou-se contra a parede enquanto eles subiam para o vigésimo terceiro andar. Quando eles pararam e as portas se abriram, ela encontrou-se em uma sala pequena que parecia ter pertencido a uma mansão antiga. O chão de madeira reluzente estava coberto por um elaborado carpete padronizado, vindo direto de um mercado persa, e dois sofás de couro estavam sobre ele, um de frente para o outro. Um lustre pendia do teto, preenchendo a sala com uma luz aconchegante e suave. Do lado oposto ao elevador havia duas portas feitas da mesma madeira que, estando a outra metade coberta por um papel de parede vermelho, destacando um design de flores pretas e douradas.

Parado em frente de Seis e Sam, segurando as mãos por trás das costas, estava um homem. Seis estimou que ele tinha quase trinta. Ele estava vestindo um terno azul feito sob medida para um corpo obviamente musculoso. Tinha a pele bronzeada, o cabelo castanho claro estava curto, e olhava para eles com os seus olhos azuis claros.

— McKenna? – Seis perguntou, lembrando-se do nome do homem que tinha enviando o e-mail para ela e para Sam.

Antes que ele pudesse responder, as portas do outro lado da sala abriram-se e outro homem apareceu e andou na direção deles. Ele vestia um terno vermelho, e Seis rapidamente o observou: deveria ter quase quarenta, mais baixo do que o normal, corpo mediano , olhos verdes. Ele encontrou o olhar dela observando os da mesma forma enquanto estendia a mão e dizia, — Peter McKenna.

The Legacy Chronicles-Out Of The Ashes// As Crónicas do Legado- CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora