As histórias de um corpo celeste

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Estou escrevendo esse texto não por necessidade, por mérito, ou por qualquer outro desses motivos fúteis que assolam nossa sociedade contemporânea.


Estou escrevendo isso para que, mais adiante, possa me lembrar de como as coisas mais insignificantes podem nos dar ideias magníficas, e até mesmo confundir a nossa mente.

O que vou contar para você pode parecer uma história infantil, ou até mesmo um daqueles textos de escola que uma criança escreveu. Porém, tais atribuições não poderão ser feitas assim que o livro estiver finalizado. Talvez isso aqui seja mesmo escrito por uma criança, pois minha infância palpita dentro de mim, querendo colocar tudo o que ela carrega consigo.

Agora que você já esta ciente de como eu quero tratar essa história, podemos começar a falar mais especificamente do que ela se trata. Bom, como o título sugere, vamos falar sobre estrelas. Mais especificamente sobre uma delas. Uma estrela que viajava pelo espaço, conhecendo toda a galáxia e seu esplendor.

Para que seja de um entendimento mais fácil para os adultos, que já não tem a mesma mentalidade das crianças para imaginar como é essa estrela, vamos tratá-la como uma pessoa. Uma garota pálida, com cabelos loiros que tocam os pés. Vestida com uma túnica branca, que lhe cobre praticamente todo o corpo, amarrada à cintura por uma fita vermelha, que faz um grande laço atrás do corpo. Sua aparência é a de uma garotinha, por volta dos dez anos de idade (claro, somente a aparência). A única coisa que diferencia a estrela de nós, humanos, são seu olhos. Seus globos oculares são completamente negros, como a imensidão do universo. Sua íris e pupila são uma única coisa, brancas como a estrela mais brilhante. Falando em estrelas, esse é o formato que elas tem, uma estrela de quatro pontas. Nossa pequena estrela não possui um nome, então pode chamá-la do jeito que lhe for mais agradável.

Pois bem. A estrelinha da qual falo viajou por uma grande parte de nossa galáxia. Ela me contou tantas histórias que eu mesmo não consegui tomar nota de todas elas. Acho que, de tão entretido que fiquei, acabei esquecendo de anotar a grande maioria dos contos. Fiquei chocado com algumas de suas viagens, assim como ri junto dela quando a estrela me falava de outras.

Por começo, acho que é mais fácil para mim contar a última aventura. Uma que ela nem precisou me contar, pois eu participei dela.

Eu vivo em uma cidade bem movimentada. Todos os dias, carros buzinam nas ruas, pessoas gritam e correm, vestindo roupas caras. É uma situação agradável para executivos e advogados, que vivem trancados em salas esperando que outras pessoas igualmente ocupadas venham até elas, para que, assim, eles recebam dinheiro, o qual gastam com outras pessoas que ficam trancadas em salas. É um ciclo vicioso, onde cédulas e moedas passam de mão em mão, como mais um objeto sem utilidade.

Devo admitir que também vivi boa parte de minha vida assim, trancado em uma sala. Por outro lado, nunca trabalhei, por causa da idade. Estudei em uma das melhores escolas de minha cidade. Não que eu tivesse condições para pagar, mas a bolsa que recebia para permanecer lá me permitia tal feito. Passar horas sentado, em fileiras de pessoas que tem ambições e projetos diferentes. Tudo aquilo era sufocante. Você deve estar se fazendo duas perguntas: do que ele está reclamando? O que isso tem a ver com a história?

Acho melhor ir direto ao ponto, para não tomar seu tempo de forma desnecessária pois, se você for um adulto, deve estar com pressa para escrever um relatório ou mandar um currículo para mais uma empresa, na qual passará alguns anos de sua vida, até eles encontrarem alguém melhor e te substituírem.

Foi em uma noite como qualquer outra. Eu estava em meu quarto, utilizando o celular para mexer nas redes sociais e me comunicar com alguns amigos. Tudo aconteceu tão de repente que eu podia jurar que foi um sonho. Algo em minha cabeça me disse para ir olhar as estrelas. E então, eu a vi. Uma estrela cadente, que passou rápida e tímida, indo para algum lugar que eu nunca saberia.

Dizem que, quando você vê uma estrela cadente, lhe será concedido um desejo. Graças a isso, pessoas pedem fortunas, sorte no amor, algum dom e coisas banais assim. Eu, ingênuo como sou, pedi para ver essa estrela. Queria saber como ela era, de onde vinha, onde iria.

"Claro, uma bobagem dessas não iria se realizar de uma hora pra outra. Afinal, chegar perto de uma estrela é algo humanamente impossível." Pare de pensar como adulto! Existe muito mais na vida do que a razão.

Meu desejo foi concedido. Finalmente, me encontrei com a estrela. Ela veio até mim, e com um bocejo, perguntou o porquê de eu querer falar com ela.

Respondi que queria apreciar algo que outro humano não seria capaz. Queria sair do monótono, ver algo novo. E pensar que essas palavras seriam suficientes para eu ver uma estrela rir.

-Você não é diferente dos outros.

Foi o que a estrela me disse.

-Todos os humanos são iguais, vivendo vidrados em máquinas e preocupados somente com o agora. Por isso, eu passo por aqui sempre que posso, para ver se algo mudou.

Meu choque para aquela resposta foi até mesmo além do necessário. Acho que, na verdade, qualquer um teria reações exageradas se estivesse conversando com uma estrela.

O corpo celeste em minha frente, que mais parecia um garotinha perdida, sorria de forma inocente, certa do que estava falando.

-Você, por outro lado, largou momentaneamente essa vida para falar comigo.

Me forcei a rir daquilo. A realidade já havia ficado para trás há muito tempo. Fosse aquilo um sonho ou não, valia mais a pena aproveitar o momento.

-Você é igual aos outros, mas chamou minha atenção. Por isso, vim aqui.

Graças à essas palavras, percebi o que estava acontecendo. meu desejo não foi realizado. A estrela não veio por eu ter pedido, mas sim por vontade própria. Talvez usar a palavra coincidência seja pouco para descrever o que se passava naquele momento.

-Existe uma história humana que me alegra bastante de ouvir. Agora, pude, mais uma vez, comprovar que o que ela diz é verdade: "Se tu me cativas, eu vou até você. Se eu te cativo, você espera por mim." Foi isso que me trouxe até você, humano. Eu fui cativada. Por isso, vou lhe contar de todas as vezes que algo me cativou, para que, assim, você possa deixar para trás essa vida triste e vazia que eu vejo sempre que passo pelo seu planeta.

E foi assim que eu descobri o quanto palavras podiam fazer alguém mudar. Passei dias escutando tudo o que a estrela me falava. Cada história tinha um contexto diferente, mas todas pareciam estar se passando naquele exato momento.

Assim que eu for me lembrando, contarei essas histórias para vocês. Até lá, espero que seja possível que você se liberte do mundo adulto e deixe que a sua criança interior tome conta, para que você entenda o resto dessa narrativa de forma mais humana.


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⏰ Last updated: Aug 29, 2018 ⏰

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Brilhe, ó pequena estrelaWhere stories live. Discover now