Prólogo

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Ste se via presa num relacionamento sem amor, ela demorou para perceber que aquele sentimento pela pessoa ao seu lado já não existia mais. Mas como partir o coração de uma pessoa assim, sem só ou misericórdia? Ela sabia que precisava, mas não encontrava as palavras certas ou a coragem, seu coração gritava que queria distância, mas sua boca se recusava a movimentar-se. Então ela se calou. Despediu-se e foi embora.

Ao chegar em casa, seu celular vibrou com uma mensagem e ela sabia que precisava iniciar a conversa. Então, cuidadosamente digitou as palavras e as enviou, o que era uma simples conversa se tornou o ponto final daquela relação. Ela sentia-se aliviada, mas nostálgica. Não era a primeira vez que ela havia tentado colocar um fim, mas ele sempre acabava convencendo-a a voltar. E, por mais que ela não quisesse, ela sempre acabava se deixando levar pela ilusão de ter alguém.

Alivio. Que alivio, ela pensou.

Sua vida não mudara tanto quanto ela achava que ia, sentia-se leve e pronta pra seguir seu caminho sozinha sem nenhum peso a puxando para o chão. Sua rotina seguia a mesma, seus amigos seguiam os mesmo e ela finalmente pode respirar e dizer que estava livre. Não perdera ninguém, não perdera nada, apenas seguira sua vida.

No dia seguinte, Ste se levantou e entrou no banheiro como sempre, sua mão ainda tinha alergia a prata da aliança que costumava ficar ali, ela olhou-se no espelho e evitou reparar em seus defeitos, apenas apressou-se em tomar banho e vestir o uniforme.

Ela conseguia forcar, e a voz dos professores soavam muito mais como português agora, o que antes parecia grego. Ao ir embora aquele dia, Thamires a avisaram que ele havia passado por lá, e impressionantemente, ela não se importou.

Ficou em casa o final de semana, migrava do Facebook ao Instagram, do Instagram ao Twitter, apagando fotos, publicações. Conhecera algumas pessoas, ninguém importante até então. Então ela viu algo que a fez rir, uma nova música da cantora Ludmila "Já vou logo avisando que não tenho namorado, Din Din Din, pode dar em cima de mim.". Aquilo a fez gargalhar alto, então ela tomou a decisão de dar um clique e compartilhar aquilo.

Do outro lado da cidade, Paulo viu aquela publicação e se inspirou. Ambos haviam feito amizade pelo Facebook há alguns meses- mais especificamente, há três meses-, a interação deles se resumia a comentários, mas ainda sim dava a ela uma sensação gostosa de ter alguém que a via além da tela.

E foi durante a leitura do seu livro favorito que a mensagem dele chegou, no dia 27 de Maio de 2018, as 21h55 da noite. "Olá ser humano, você está bem?", foi o que ele disse. Ela decidiu responder na hora, não tinha muito o que fazer e jogar conversa fora sempre fora uma das suas atividades preferidas.

"Eu tô plenissíma."

"Quer falar sobre o ocorrido?"

"Cara, já faz quase uma semana, eu tô bem tranquila. Não foi forçado, nem por briga. Só acabou."

"Eu tinha te stalkeado esses dias, e ainda tava lá, mas se precisar, sei lá, conversar, desabafar ou xingar alguém, eu sou todo ouvidos."

"Eu tinha decidido deixar as fotos, mas as pessoas entendem errado, então tirei."

"Eu entendo bem como é, estive com alguém por 5 anos."

"Nossa, 5 anos."

"Se quiser sair, eu tomo até sorvete com você kkkkkkk, Olha só, eu deixo de tomar cerveja pra tomar um sorvete contigo."

Seu coração acendeu novamente, aquele calorzinho gostoso subiu junto com um longo suspiro seguido de um sorriso bobo. Era impressionante o poder que algumas poucas mensagens tinham de melhorar o dia dela. Feito mágica, aquele convite coloriu a vida cinza daquela garota. Ela era de fato jovem, tinha apenas 15 anos, e se viu notada por homem, um cara de 20 anos, era louco pensar naquilo, era louco pensar que era mesmo real. Ela sentia-se boba, por causa de um ato de bondade ficava imaginando um futuro ao lado de uma pessoa que ela nunca havia visto na vida.

Ste sempre fora do tipo de pessoa que imaginava as coisas com certa facilidade, ela sentia-se mal por isso, por estar com uma pessoa e se imaginar com outras. Mas agora era diferente, ela já não precisava mais filtrar ou limitar sua cabeça confusa. Seguia constantemente buscando alguém que soubesse desenrolar os nós e decifrar os pensamentos tortos que lá se encontravam, mas nunca houvera achado ninguém que chegasse nem mesmo perto de conseguir essa façanha. Nem mesmo sua melhor amiga conseguia entender os caminhos tortuosos que sua psicológico decidia seguir.

"Estou disposto a negociar seus doces nas minhas carnes super bem temperadas."

"Vamos juntar tudo e fazer janta completa."

"Troco uma saidera por uma janta dessa."

"Eu também, quer me conquistar é pelo estômago."

"hmmm, bom saber disso."

Armadura de FerroOnde histórias criam vida. Descubra agora