O dia já havia amanhecido nublado com rajadas de vento, o que para mim, combinava perfeitamente com a ocasião.
Na capela, com todos de preto, exceto minha avó, choravam a perda de sua amiga e ente querida. Como pedira, ela seria enterrada com seu lindo vestido verde claro de cetim e com seu alegre blazer branco florido.
Com o caixão aberto, todo o mundo ia ao encontro de seu, agora, gélido corpo, dizer algumas palavras de despedida. Mas enquanto todos choravam e conversavam sobre como ela tinha sido em vida, eu mesma, sendo sua neta mais próxima, me limitei apenas a ficar ao lado do caixão, olhando todos se despedirem, mas sem nunca proferir uma palavra sequer, limpando o rosto de tempos em tempos para evitar que a lágrima rolasse bochecha abaixo.
"Não chore pequenina, uma moça inteligente e forte guarda suas lágrimas para si. Não dê esse prazer àqueles que só querem vê-la derrotada". Foi o que ela tinha me dito no hospital, no dia em que descobrimos que ela estava com um câncer cerebral terminal.
- Não chorarei vó! – falo de cabeça baixa apertando a lateral do caixão – Pela senhora ...- falo já perdendo as forças e finalmente, sentindo a primeira gota esparramar-se no carpete - Pela senhora, eu não vou chorar!
Era idiota dizer tais palavras enquanto você sentia as lágrimas descerem como chuva num dia cinza, mas mesmo assim eu as proferi, na esperança de que pelo menos isso ela soubesse de que não me esqueceria.
Quando dei por mim, todos me encaravam, vendo minhas lágrimas correrem per meu rosto. Vejo algumas garotas conversando entre cochichos enquanto minha mãe se aproxima para falar comigo, e foi nesse instante que eu me descontrolei.
- Não irão ver minhas lágrimas! – grito enquanto saio correndo, limpando as bochechas vermelhas e os olhos inchados de tanto chorar.
Ouço um alvoroço do lado de fora. Todos curiosos para ver como eu estava.
"Para me ver derrotada, isso sim". Pensei.
Minha mãe brigava para que todos se afastassem e fossem em direção ao cemitério pois o enterro já iria começar. E logo após o barulho ir diminuindo até sumir, ela fala através da porta:
- Jenny, - suspira – olha filha, eu sei que hoje ta sendo um dia difícil, mas... - ela faz uma pausa para pensar no que dizer – Mas o que você acha de ir lá, ... se despedir... - houve um pequeno silêncio até ela notar que eu não responderia – Tudo bem... você não precisa vir – ela joga a chave por debaixo da porta – pode ir pra casa a hora que quiser. – e mais um tempo silencioso – Eu te amo filha... – disse, por fim, indo embora.
E eu fiquei lá, sozinha, chorando, com a mão ao peito e outra para tampar os gritos de sofrimento que saiam por meus lábios.
Fiquei lá um bom tempo até finalmente ter força e coragem para me levantar e sair. Meu rosto estava inchado e meus olhos vermelhos como rubis por conta de todo o choro; minha garganta, seca, mas ao mesmo tempo mucosa e rouca; meus cabelos, amassados de tanto encostar-se à parede e os braços molhados de tanto enxugar minhas mágoas.
Do lado de fora, a chova já caia, fraca, porém constante. Mas mesmo assim não me impedi de ir ver seu tumulo. Pegando uma rosa num dos arranjos, começo a caminhar para onde seria agora, seu lugar de descanso eterno. Lá, já não havia mais ninguém. Todos já tinham ido, até mesmo o coveiro.
Fiquei um bom tempo lá. Parada, com a chuva caindo sobre mim. Tentando acreditar que aquilo era realmente verdade. Querendo acreditar que aquela não era sua vó, forçando-se a não ler o nome na lápide...
No chão, tinha apenas algumas pétalas de flores que o vento levara, deixando apenas a lápide e a terra recém-moída para trás.
- Vó... – sinto os olhos voltarem a se encher, mas dessa vez não fiz força para segurá-las. Apenas ajoelhei-me ao lado d'onde ela acabara de ser enterrada – Por que fez isso? Por que me abandonou? – meu tom de voz já começava a se alterar numa mistura de raiva, tristeza e dúvidas – Logo agora, quando mais precisava de você... você simplesmente, decide me abandonar!?! Primeiro, a Lucy que foi pra Alemanha; depois, o vô que morreu; aí, meus pais se separaram e mais agora ISSO?
"você não tinha o direito de me abandonar aqui com... eles - cuspo a palavra fora -. O que eu vou fazer agora? Estou sem ninguém, todos foram embora!! – nesse momento, meu choro, mistura-se a um risada melancólica e estridente – Mas mesmo assim, há uma controvérsia! No meu estado, ou pior, muitos jovens estão se matando, mas você me ensinou a ser forte... por isso, decidi que não quero isso... sei que pode parecer um sonho de criança idiota, mas... - faço uma pausa e grito: - EU NÃO QUERO MORRER!! – aquilo tinha sido como quando nós desabafamos e nos sentimos incríveis com nosso feito. "
Por um tempo, tudo o que se ouvia era o cair da chuva e o chacoalhar das copas das árvores.
– Eu não quero acabar como ninguém!! Não quero ficar rica ou importante como os faraós pra no final ser enterrada num caixão de ouro numa tumba de duzentos metros; Não quero constituir uma família pra depois simplesmente abandoná-la; Não quero viver se for pra no final morrer... Eu simplesmente não quero acabar... – com as lágrimas misturando-se a chuva, sinto alguém a me espionar por de trás, olho em volta mas não vejo ninguém – E dessa vez... - digo voltando-me ao túmulo - Eu farei de tudo para realizar meu desejo!
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Infinita
Fantasy"Ela tem apenas dezenove anos, jovem e ingênua. Ela quer encontrar uma maneira de ser Infinita. Lute contra a ciência e o desafio, seja intemporal." "Ele prometeu pra sempre, mas ela nunca soube o preço"