III - O Final

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Eram seis e cinquenta da manhã. A porta do apartamento de Jorge abre com ele e Mariana juntos. Ele usava um casaco preto de zíper fechado, calça jeans e um tênis de corrida. Ela ainda estava com as roupas do dia anterior. Se beijam.

- Toma cuidado, por favor. – Diz Mariana.

- Nos vemos ainda hoje. Até mais.

Jorge se vira em direção as escadas do corredor. Olha para trás. Mariana ainda não havia fechado a porta, faz um aceno rápido. Ele volta, da mais um beijo.

- Agora eu posso ir. – Diz Jorge.

Em um ímpeto, volta em direção a saída do prédio, já não olha para trás.

No térreo, se depara com um senhor meio corcunda, de cabelos grisalhos e bengala de madeira. Vinha na direção contrária.

- Bom dia Jorge. Como está meu bom amigo?

- Estou bem, Seu Daniel. E o senhor?

- Êim?

- E O SENHOR, SEU DANIEL?

- Ora, estou bem, tirando a surdez que piora a cada dia, e as minhas costas, não me dão descanso nenhum, hahaha! Enfim... é raro te ver acordando tão cedo nesse horário. Tem alguma novidade? Não está brigado com sua namorada em?

- Eu e a Mariana estamos bem Seu Daniel. Estou indo para uma entrevista de trabalho agora. De qualquer forma, tenho de ir pois...

- AH! Mariana, eu adoro essa sua moça, sempre uma garota tão prestativa e boa. Vocês dois são uma presença ótima nesse prédio, iluminam a vida desse pobre velho aqui.

- Fico bem feliz Seu Daniel, depois nos fala...

- AH! Você disse também uma entrevista de emprego! Espero que se dê bem filho, espero não estar atrapalhando.

- Bom na verdade...

- AH! Antes que eu me esqueça, você conseguiu resolver aquele nosso problema secreto?

Jorge para pôr um momento, seu sentimento de pressa some, o semblante torna-se sério. Responde.

- Eu estou bem Seu Daniel, nunca mais o vi.

- Tem certeza?

- Tenho sim.

O velho Daniel dá um leve suspiro. Com leves tapinhas no braço de Jorge, vira-se.

- Jorge, sabe porquê do amar quando se é jovem é tão importante? O ser humano costuma crescer em épocas de difíceis, ter um relacionamento que nos faz se apaixonar e querer passar por cima de tudo para manter ele vivo, ou tentar de tudo para tentar sobreviver sem ele após o fim é uma das coisas que mais nos engradecem. Mas é claro... tudo tem um preço, ninguém consegue repetir esse processo várias vezes. Ser jovem e aprender com os erros é essencial. Você entende isso, certo?

- Entendo sim senhor. Mas... por que isso agora?

- Você é um garoto forte. Em minha antiga profissão, superar esses monstros eram coisas difíceis de se fazer. Sempre retornavam, na menor oportunidade.... Mas ora! O que você ainda está fazendo aqui?! Vai logo, tem entrevista para fazer! – Virou-se o velho Daniel empurrando levemente Jorge na direção da entrada.

- Até mais, Senhor Daniel.

- Até mais, meu amigo. – Diz Daniel, em seguida virando-se para subir as escadas.

Jorge passa pela porta, a destrava com uma das chaves.

Ao sair, os raios de Sol já iluminavam de maneira fraca a cidade. O céu estava azul com algumas nuvens de cor cinza. Pessoas passavam a passos apressados na rua. Também era visto algumas caixas de papelão e moradores de rua dormindo nos cantos de lojas que atualmente estão fechadas por tempo indeterminado. Um carro preto está na frente do prédio com o pisca-alerta ligado.

O mesmo carro buzina duas vezes. Jorge, entra e senta no banco ao lado do motorista.

- E aí? Pronto para voltar à ativa? – Diz Caio.

- Sim, vamos fazer isso.

- Essa é sua decisão?

- É.

- Então vamos.

Caio desengata o carro e segue entre as ruas da cidade grande. No carro, tocava a música "Chega de Saudade" (Tom Jobim).

FIM.

Conto de Julho: Decisão.Onde histórias criam vida. Descubra agora