3 Midorya

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Acordei sentindo o corpo dolorido, e um pouco desorientado, estava deitado na cama, e sentia Kevin deitado sobre meu peito. Minha garganta ardia um pouco, minhas costas incomodavam, e eu lembrei que tinha vários comprimidos que deveria tomar, e havia esquecido. Tentei me mover sem acordá-lo, falhando miseravelmente na tentativa.

_o que houve? – perguntou sonolento e sentou-se na cama pegando seu celular no criado mudo – ainda são 5 da manhã...

_preciso tomar os remédios. – virei-me levantando da cama, ainda nu.

_vista algo, por favor, você está fodido o suficiente, não precisa pegar um resfriado para fechar o combo! – resmungou jogando-me um roupão, o qual vesti sem questionar.

Sai do quarto indo até a cozinha, onde encontrei no balcão a sacola com remédios que tinha comprado antes de sair em missão, e olhei a receita que ganhei horas atrás, teria de ir a farmácia novamente. Peguei alguns deles e fui atrás de um copo de água.

_são muitos! – ouvi Kevin falar atrás de mim, e virei-me para vê-lo, usava apenas uma calça moletom.

_não precisava levantar! – falei e ele me olhou sério.

_só me certificando de que você está bem, sua besta! – resmungou – o cuidado não é unilateral, Midorya! – repreendeu-me.

_tudo bem! – sorri de leve – não precisa se exaltar, sim?! – apontei para os remédios – dê-me as pílulas! – pedi – vou precisar de ajuda para trocar os curativos!

_posso fazer isso! – respondeu entregando-me quatro comprimidos diferentes.

Kevin era uma coisinha difícil de lidar as vezes. Extremamente teimoso e cabeça dura; Persistente quando queria algo, admirava isso nele, porém teve uma criação muito rígida, e era muito reservado, talvez muito literal. Com ele era tudo preto e braço. Simples assim. Ou pode, ou não pode fazer. Sem meios termos.
Fazê-lo lidar ou expressar seus sentimentos é quase uma missão impossível, pois ele os esconde no mais profundo do seu ser, talvez fora muito repreendido no passado, conseguia enxergar algumas marcas na alma do meu menino.
Kevin era um excelente diplomada, um soldado exemplar, um homem de princípios e admirável, no entanto, não conseguia lidar bem com relações interpessoais.
As coisas foram complicadas no início, pois sempre parecia que ele não gostava de mim, ou da minha presença, até rejeitava alguns dos meus toques, e pensei seriamente que tinha sido um erro trazê-lo para morar junto, porém quando pude enxergar seus sentimentos, tive a certeza de que meu menino me amava, só não sabia se expressar. Era como uma criança que deseja algo, mas não sabe como pedir.
Tínhamos discutido, e eu saído de casa para beber, esperando voltar e encontra-lo dormindo, porém quando retornei, ele estava afogando-se em rum e em lagrimas, balbuciando coisas sobre não saber o que fazer da vida, e de como sentia-se só sem mim, e que me amava, mas que quando eu estava presente, as palavras simplesmente travavam em sua boca.
Tinha medo de dizê-las, e pressionar-me, e assim destruir nosso pequeno castelo de cartas.
Com o tempo de convivência, conheci seus pais e entendi o motivo de Kevin ser tão retraído, se minha infância tinha sido tensa a dele tinha sido pior ainda. As expectativas que colocavam ele, era demais para seus ombros, porém não interferi a princípio, deixando-o lidar com seus demônios sozinho, mas conforme aquilo passou a destruí-lo, fui obrigado a enfrentar os pais dele, colocando-os no devido lugar.
Claro que aquilo resultou numa enorme confusão, porém as coisas se resolveram depois disso, e meu Kevin começou a evoluir, solidificando nosso castelo de carta, com vários bloquinhos.
Apoiei-me no balcão da cozinha, sentindo o mármore frio contra meus dedos, estava com uma dor de cabeça infernal.

_Midorya você não me parece bem! – falou preocupado, e se aproximou, tocando em minha testa com a costa da mão – está febril, sente dor?

_minha cabeça... – resmunguei.

_se os remédios não fizerem efeito, vamos voltar ao hospital! – falou autoritário – enquanto isso, deixe-me trocar os curativos!

Assenti e sentei-me num dos bancos na cozinha, tirando a parte de cima do roupão, expondo meus vários cortes para que pudessem ser tratados. Havia uma maleta gigante de primeiro socorros, afinal, nunca sabíamos quando precisaríamos suturar alguém, ou usar um desfibrilador portátil, então tínhamos de tudo um pouco, em casa na cozinha e no quarto, nos carros, até no escritório. Podia ser um exagero, mas com a vida que levamos, todo cuidado era pouco.
Um a um, Kevin tirou o curativo antigo, lavou com álcool iodado, limpou com gaze, verificou os pontos e a cicatrização e colocou novos curativos. Simples assim. Tentei me distrair com ele fazendo meus curativo, mas a dor de cabeça continuava a me incomodar, e quando Kevin terminou o procedimento, me vi quase gemendo de dor.
Além da cabeça, meu corpo doía, e eu estava fervendo de dentro para fora.

_tem algo bem errado com você! – falou – vamos nos trocar, temos de ir ao hospital, venha!

Sob seu olhar rigoroso, voltei para o quarto e troquei de roupa, vestindo uma box, jeans escuros, vans, camisa polo cinza e um casaco qualquer. Kevin usava um jeans azul, camisa branca de mangas compridas com capuz, vans cinza e um colete sem mangas. Pegando as chaves do carro, nossas carteiras, e as chaves do apartamento, saímos e pegamos o elevador.

_sinto-me como daquela vez em que fui ao Brasil e fiquei com lamária... – tentei lembrar o nome certo, mas não consegui.

_se diz malária! – corrigiu-me – e aquela vez foi assustadora o suficiente, por isso estamos indo para o hospital! Você não tem mais idade para ficar se descuidando...

_está me chamando de velho? – indaguei e ele sorriu.

_coitadinho, está tão ruim, que mal consegue acompanhar meu raciocínio! – debochou quando chegamos ao estacionamento – venha meu velhinho, vamos ver o que tem de errado com você!

_não sou velho! – resmunguei.

_seu cabelo é grisalho! – argumentou.

_é tinta! – rebati e ele sorriu.

_acredito em você... – piscou e eu revirei os olhos. Garoto teimoso.

Caminhamos até nossa vaga, mas no meio do caminho, senti minha visão ficar turva, e meu eixo de gravidade me abandonar, cambaleei por alguns passos, até cair levado pela inconsciência.
Acordei com um barulho irritante de um “bip, bip, bip”, que me fez resmungar e abrir os olhos devagar, estranhando o lugar. Não lembrava de ter chegado até ali, minha última lembrança era de andar no estacionamento com Kevin.
Kevin!
Sentei-me rapidamente na cama, e fui atingido por náuseas.

_ei, você me deixou preocupado! – ouvi sua voz, e então o encarei. Estava com os cabelos desgrenhados e com olheiras.

_o que aconteceu? – indaguei, ele levantou-se do pequeno sofá e veio até próximo a cama.

_você simplesmente apagou no estacionamento! Te trouxe o mais rápido que pude pra cá, o médico disse que você está com esgotamento físico, fadiga muscular e baixa resistência! Seu corpo está cobrando muito de você para se recuperar, e você estava cobrando muito do seu corpo, para continuar na ativa! – explicou-me.

_por quanto tempo eu apaguei? – perguntei ainda desorientado.

_dois dias inteiros! – respondeu e o encarei culpado, seu estado demonstrava que ele tinha estado ali comigo, o tempo inteiro – você precisa de descanso, e uma alimentação reforçada! - ele voltou a se sentar, esfregando o rosto com as mãos.

_entendo... – voltei a me deitar – devia ir para casa, tirar um cochilo...

_assim que você receber alta! – respondeu.

_vou precisar de alguém para cuidar de mim, e você está cansado! – argumentei – por favor, Kevin, vá para casa, coma, durma, e depois volte! Qualquer coisa os médicos o avisarão! – ele suspirou e levantou-se de onde estava sentado.

_não vou demorar! – falou.

_demore o tempo que precisar! – enfatizei – ah, Kevin! – o chamei.

_sim? – olhou-me curioso.

_vá de taxi, você está exausto! – declarei autoritário e ele me olhou quase incrédulo – estou falando sério, não ficarei tranquilo sabendo que você está dirigindo nesse estado!

_tudo bem, tudo bem! – resmungou tirando a chave do bolso e a colocando na mesa perto da cabeceira da cama – aqui está!

_obrigada! – agradeci vendo-o se virar para partir.

Quando Kevin deixou o quarto, fechei os olhos deixando a mente vagar, e ainda sim ouvi quando a porta se abriu, e o enfermeiro anunciou-se, dizendo fazer a verificação de rotina. Fiquei um tanto inquieto, e abri os olhos ao sentir ao frio tocar meus pulso, que estavam em cima de meu abdômen.
Chiei e rolei da cama, ao me ver algemado, caí puxando todos aqueles fios ligados a mim, enquanto tia o enfermeiro pular a cama, tentando me esfaquear com uma adaga.
Desviei do seu primeiro golpe, aparando o segundo com a mão em que estava a intravenosa pela qual estava ligado ao soro, e o desgraço a puxou, atingindo diretamente minha veia.
Chutei a parte interna de seu joelho, de dentro para fora, e soquei sua traqueia com força o suficiente para fazê-lo esguichar sangue em mim. Torci sua mão, tomando a faça da mesma, e rasgando o pescoço do “enfermeiro”, empurrando seu corpo sem vida ao chão.
Segurei a mão que estava sangrando, e caminhei, passando por cima do corpo, até a porta, porém assim que cheguei na mesma, fui acertado na cabeça por um taco de beisebol, o que me levou ao chão completamente zonzo.
Meu primeiro agressor não estava sozinho.
Ouvi dois disparos e alguns gritos, por instinto cobri o rosto com os braços, e esperei o próximo ataque, mas mãos agitadas e tremulas tocaram-me, por instinto me afastei, então sua voz chegou aos meus ouvidos.

_ele está bem! – Kevin falou, e então olhei para a porta, vendo meu agressor estirado no chão e meu chefe em pé na porta, fitando-me preocupado.

_ainda bem! – Jasen, meu superior, e também um ex namorado do passado, suspirou – mais um pouco e acho que você estava fodido! – comentou dando de ombros.

_que merda foi essa? – indaguei sentando-me – e porque você ainda está aqui? – olhei para Kevin confuso, ele ainda parecia exausto, porém estava totalmente desperto. A maldita adrenalina que nos mantinha de pé nas missões, corria em suas veias.

_voltei para pegar as chaves! – o olhei irritado – não ia dirigir, mas as chaves de casa estão no porta luva, já estava na saída, porém lembrei disso, e voltei, mas antes acabei encontrando Jasen, que tinha acabado de vir de nossa casa! – falou rapidamente.

_descobrimos que tem alguém atrás de você! – Jasen começou – primeiro foi seu carro, os pneus, o freio, depois chegaram ameaças escritas, fotos de você e Kevin no seu escritório, porém como você estava internado aqui, não estava tendo acesso a nada disso! Estava rastreando esse maldito perseguidor, e decidi ir à casa de vocês, e a encontrei revirada! – informou-nos – liguei para você e para Kevin, mas os celulares estavam no quarto, então não tinha sido roubo! Desci ao porteiro novamente, mostrei-lhe o distintivo e perguntei onde vocês tinham ido, então ele falou sobre Midorya estar passando ruim, e ter vindo ao hospital! Liguei para cá e assim me confirmaram, sua entrada! – encarou-nos seriamente – não tínhamos certeza, mas era provável que tentariam outro ataque, por isso vim o mais rápido que pude!

_quem está fazendo isso? – Kevin perguntou.

_ainda não sabemos, mas de agora em diante, estejam em alerta total! Kevin você foi designado a ficar responsável pela segurança de Midorya! – informou – tudo o que sabemos é que tem relação com o caso do tráfico de pessoas!

_Matteo corre perigo? – indaguei preocupado.

_não! – tranquilizou-me – para todos os efeitos, ele nunca existiu! Porém já o contatamos, para ser cauteloso!

_que inferno... – resmunguei.

_até sabermos quem quer seu couro, você está oficialmente sob proteção, 24 horas, Midorya Fullbuster! – decretou dando fim a conversa.








Yoooooo Pandinhas, mais um cap. quentinhooooo! Comentem o que vocês acham que vai acontecer, e deixem a estrelinha! Posso voltar a qualquer momento com mais capítulos!

(In)Dependente de Mim - Spin Off II - Duologia Possessivos Onde histórias criam vida. Descubra agora