VII. De todos os contratempos do mundo

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Eu costumava pensar que aquela época seria a mais estranha da minha vida. Eu pensava que conviver diariamente com o Alex, em um mesmo colégio, enquanto partilhávamos de um segredo que nenhum dos dois esperava partilhar, seria a situação mais inconveniente que viveríamos juntos.

É claro, conhecendo Alex, era de se esperar que eu estivesse completamente enganado.

Eu viria a descobrir, em um futuro não tão distante assim, que aquele seria o menos pior dos contratempos que envolveriam nós dois. E, principalmente, o próprio Alex.

A verdade é que Alex é feito de contratempos, de circunstâncias divergentes, que se sobrepõem umas nas outras para fazer dele quem ele é. Alex é uma bomba desarmada, prestes a explodir ou a implodir, e a nossa função como amigos era aguentar o tranco. Nosso dever era ampará-lo, mesmo que tívessemos que sustentar todos os destroços de sua explosão - que atingiriam diretamente ao redor dele -, ao invés de deixar com que ele implodisse com as tantas desventuras que o envolviam.

Não havia muito mais que pudéssemos fazer a não ser deixar o destino seguir seu curso.

O problema, para mim, é que eu sempre fiz parte deste destino. E o segundo problema é que eu nunca considerei isto um problema.

*

Eu admito.

Me recusei a conversar com Alex a respeito do que eu havia descoberto naquela noite e, ainda por cima, por puro egoísmo. Eu não queria escutá-lo. E depois de muito raciocinar a respeito do motivo, eu logo percebia a falha no meu sistema.

Alex não é o primeiro garoto que gosta de garotos que eu conheço. E não havia nada de errado nisto, eu sabia, eu sentia. Só que, depois de haver dito e repetido para o meu irmão que eu não me importava com quem ele saísse, percebi que eu não estava sendo completamente honesto. Ou eu estava, e novamente houvera sido infectado com o preconceito alheio, como sementinhas que são plantadas em nossa mente sem que saibamos a respeito. Era óbvio para mim: eu me importava com quem Alex saía, e muito, e demais, e exageradamente.

Com um suspiro, ajeitei a mochila nas costas.

Eu preciso me livrar deste preconceito antes que ele crie raízes!

— E aí, Caleb? — cumprimentou Mason, distraído com o celular.

Retirei a mochila das costas, sentando-me ao seu lado. Recém havia chegado ao colégio, tão perdido em pensamentos que parecia haver se passado menos de um minuto da minha casa até ali.

— E aí? — murmurei, jogando a mochila no chão e relanceando o celular dele. — Qual o jogo da vez? — perguntei, sem muito interesse.

O que eu queria mesmo era saber onde estava a fonte do caos de Hybridfield. Ou melhor, com quem ele estava. E, mais especificadamente ainda, se ele estava com aquele loiro irritante.

Varri o pátio do colégio com os olhos, procurando pelo garoto dos olhos escuros, mas demorei um tempo até encontrá-lo. Já não mais surpreendentemente, avistei Alex com os seus colegas, conversando e rindo em um canto próximo ao portão. Haviam poucos deles porque percebi que, assim como o Ian, a maioria não tem despertador. Deve ser algo típico de ensino médio, e Ian havia herdado mais cedo, assim como a altura e a voz engrossada. Mary Jane estava ali, é claro, em algum lugar abaixo do braço de Alex, que conversava com Ben ao ignorá-la.

Suspirei, encarando meus tênis surrados.

— Ian não chegou ainda, então...? — murmurei, meio que de forma automática.

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