Uma carta só será descartada do baralho se eu assim permitir. Você me disse que eu poderia ser dona do meu futuro e que nenhum homem teria o poder sobre mim que tiveram com você. Então, eu as distribuo na mesa e depois escolho a que estará em meu poder e eles não podem me dar as costas.
Nataly, cartas para Susan, Londres, 1803Peguei os documentos e os coloquei em cima da mesa. Abri o grande livro com as anotações de Lord Vandick e sorri. Eu adoraria ter tempo para me debruçar naquelas desfaçatez que a anos o fazia deixas o parte de sua fortuna no meu clube, mas no momento eu não dispunha de tal tempo e precisa focar em acertar os detalhes do acordo de casamento. Mais tarde eu reviraria sua vida e saberia com toda certeza tudo que seu passado já tinha deixado rastros.
Alguém bateu na porta.
- entre- autorizei.
Dom Carlo apareceu primeiro assentindo com certa preocupação e deu passagem para Vandick que curioso me encarou.
Fiz sinal pra que Dom Carlo nos deixasse a sós.
Quando a porta foi fechada, seus olhos continuaram me observando, sem nenhum pudor percorriam meu corpo, observando cada pedaço, me desnudando com o olhar. No meu mundo, estava acostumado esse tipo de vislumbre, no entanto, a forma como ele fazia me incomodou pela resposta que meu corpo apresentou. Ele me desejava ardentemente e isso ficava nítido como se o as ficasse quente naquele instante e os meus pelos se eriçaram. De repente, senti calor.
Ele era perigoso, pensei. Eu também era, garanti a mim mesma!
- boa noite, barão- o cumprimentei com um sorriso.
- lady- ele fez uma reverência com uma classe encantadora, como se ali, naquele momento eu realmente fosse uma dama de respeito- a que devo o convite?- perguntou, desta vez já com malícia na voz.
- sente- se por favor. Precisamos falar de negócios- pedi apontando para uma das poltronas de marfim que ocupavam o pequeno escritório. No novo espaço não tinha economizado no meu novo lugar de negócios, este parecia sufocante.
Um sorriso de deboche se formou em seu rosto.
- o único lugar que falo de negócios com damas é na cama e não vou estou vendo nenhuma neste cômodo.
Sem perder a compostura ou me irritar, sorri em retribuição a brincadeira de mal gosto. Estava acostumada com este tipo de comportamento, não que precisasse lidar sempre com isso, claro, era sempre dom Carlos que ficava a frente das negociações, mas sabia que a nos mulheres só a cama era aceita e com pouca dignidade.
- creio que não tenha tido muita sorte nos jogos está noite- comentei, me desviando por de trás da mesa e ficando mais próximo dele, encarando seus olhos negros.
- como dizem, azar no jogo e sorte no amor. Está noite estou propenso para outras coisas.
- pode até estar propenso, mas as damas dessa casa não fazem obra de caridade e você não tem nenhum vintém ou terras que seja para deixar na casa- peguei os papéis em cima da mesa e encostei em seu peito.
Desta vez, o sorriso tinha desaparecido do seu rosto e uma expressão de desdém se apoderava dele.
- considerava este clube em alto nível. Não imagina que deixavam a administração nas mãos de uma mulher que não sabe o que diz. Devo me retirar.
Ele já me dava as costas quando o interrompi.
- este clube é meu senhor Vandick e se quiser ter metade das suas dívidas quitadas, metade dos seus bens de volta e uma grande parcela de credores livres dos seus encalços, eu sugiro que escute o que eu tenho a lhe dizer, já que me parece que a maioria das suas dívidas foram contraídas ao longos dos anos no meu clube.
Ele parou, olhando pasmo nos meus olhos. Sim, existiam muitos boatos, fantasias de que uma mulher estava por trás das cortinas, mas quem acreditaria de verdade em tal absurdo? Muitos acreditam que tal especulação era uma forma de manter os clientes sempre em busca de aventuras por ali. Outros acreditavam que era uma maneira de manter a fama de Afrodite, a mais famosa das prostitutas, as mais procurada, a lenda do lugar, a inatingível....eu!
- acho que agora vamos falar de negócios- completei sorrindo.
Ele continuava sem palavras e acreditei que Pietro não deveria ser um homem que facilmente ficava sem palavras. Conforme confirmei minhas suspeitas, rapidamente ele se recompôs e se sentou onde ofereci anteriormente, cruzando as pernas de maneira despojada.
- se tem uma boa proposta, um vestido não vai me impedir de escuta-lá. Um ótimo decote será até bem-vindo.
- muito bem- dei a volta por trás da mesa novamente e joguei as folhas que mantinha em minhas mãos, fazendo todas se espalharem de maneira desordenada por cima da madeira que não mantinha muitas coisas. Eu gostava de tudo ficasse guardado. Na verdade escondido. Nada ficava exposto naquele lugar e não ser que eu ordenasse.
Debrucei por sobre a mesa, ficando mais próxima dos seus olhos e sim, ele teria uma bela visão dos meus peitos e se isso fosse necessário para que ele fosse vencido aquela noite, eu não me importaria.
- tem dívidas incalculáveis barão. Eu sou uma femme que preciso só de uma nome para proteção. Nada mais. Nesta noite te proponho todo dinheiro que precisa em troca de seu nome e faremos um bom afaires.
Ele enrugou a testa, sem compreender.
- um bom negócio- me corrigi. Por mais que tentasse me corrigir, as plantas francesas que ainda me perseguiam do passado eram um péssimo hábito.
- não compreendo sua proposta e creio que mesmo compreendendo não estou interessado em fazer negociações como lhe disse desde o início que não envolvam você nua.
Ele arqueou uma sobrancelha, arrogante. E isso o deixava incrivelmente bonito.
- preciso de um homem para se casar comigo e estar à frente do meu novo clube que vai inaugurar em breve como deve saber. Dom Carlo que sempre fez isso está cansado e não quer mais assumir esta responsabilidade. Não tem que fazer muita coisa. Eu geralmente cuido da maior parte dos negócios, das burocracias...você fica na frente, faz as aparências e pode continuar com minhas cortesãs sem pagar por isso.
Era um plano maravilhoso. Era esplendoroso na verdade, como todo na minha vida. Eu sempre traçava planos perfeitos e por isso que minha vida sempre mantinha uma ordem perfeita e o sucesso que eu esperava.
- em troca você terá suas dívidas perdoadas, ajudarei a quitar todas as outras que mantém fora daqui e a recuperar o que perdeu. Tenho dinheiro e poder para isso. Será na verdade uma troca bem injusta, Lord. Terá que fazer muito pouco mim.
Agora ele não só mantinha as sobrancelhas arqueadas, mas fazia uma careta para mim e está se transformou em uma gargalhada. Ele estava debochando de mim. Senti a fúria crescer dentro do meu peito. Era um sentimento que não gostava de compartilhar porque quando o colocava para fora as pessoas geralmente se machucavam. Respirei fundo e me contive. Daria algum tempo a ele. Era algo sério. Casamento não era uma decisão para se tomar sem pensar por alguns instantes.
- você é maluca ou isto aqui é uma encenação de teatro como aquelas que têm nas noites de sexta e você quer me levar para cama? Se for isso, não é necessário muitas coisas para que eu abra minhas calças- falou ainda tentando controlar os risos.
O meu sorriso já tinha desaparecido a algum tempo.
Contornei a mesa novamente, desta vez, chegando bem perto do seu corpo e me debruçando sobre o seu rosto, podendo sentir sua respiração que ficou mais rápida com a minha aproximação. O seu sorriso desapareceu no mesmo instantes e o desejo que eu despertava nos homens, tão conhecido por mim surgiu nos seus olhos.
- você pode até desejar que eu se deite com você e isso pode passar por sua mente centenas de vezes, mon couer. Eu serei sua esposa e serei a única mulher que não poderá tocar, porque não deixo que fracassados como você me toquem.
Senti que tinha cometido um erro terrível. Ao invés de usar da minha sedução para convencê-lo, tudo que enxergava nos seus olhos agora era ódio.
Me afastei, lhe dando as costas, tentando me acalmar. Algo nele me fazia perder a compostura. Isso tinha começado muito mal.
Quando o encarei de volta sabia da sua resposta final e sabia que os meios para tê-lo seriam muito mais difíceis, porque eu sempre conseguia o que queria, por bem ou por mal!
- eu não cogito me casar, se quisesse já o teria feito com damas de verdade que tem verdadeiras fortunas para me oferecer. Imagine só- falou se levantando- se me casaria com uma meretriz!
Ele abriu um sorriso que me colocou a baixo da sua sola do sapato. Como toda aquela sociedade. Como aquele mundo que condenou a minha mãe. Como toda aquela Londres que pagaria por tudo.
Assenti, retribuindo o sorriso com ódio.
Vandick saiu batendo à porta com força e pouca classe, mostrando que quem ali ficará não tinha seu respeito.
Continuei sorrindo. Era isso que eu fazia. Minha mente continuou arquitetando os planos para destruir o pouco que restava daquele homem. Em um ou dois dias ele voltaria pela mesma porta me pedindo em casamento.
Eu era o fogo que ele tinha acabado de encostar.