O Diário De Ana

Capítulo 1

Este foi o ano mais comprido e complicado da minha vida. Voltar pra casa nessas férias foi a coisa mais difícil de se fazer, voltar pra essa cidade... Essa casa não é a mesma sem a Ana. Parece muito mais vazia do que custumava ser só comigo, Ana e nossa mãe. 
"Bem-vinda de volta, meu amor!" Minha mãe me diz com um sorriso no rosto mas com seus olhos meio tristes. Desde de que a Ana se foi, ela passou a morar sozinha, "senti muito a sua falta Dani" ela me diz me abraçando, "eu senti mais a sua mãe".
Quando entrei em casa, a casa estava impecável. Minha mãe sempre foi perfeccionista e maníaca por limpeza, o que pra mim não é nenhum defeito, mas Ana e mamãe viviam brigando. Ana era muito bagunceira, seus calçados e casacos sempre estavam espalhados pela casa, não ver nenhum casaco ou calçado pela casa me apertou o coração.
"Leva suas malas lá pra cima" minha mãe interrompeu meus pensamentos nostalgicos "toma um banho e depois desce que a janta tá quase pronta".
Obedeci, fui subindo as escadas onde haviam todas as nossas fotos, desde que éramos crianças até no topo das escadas onde estavam as mais atuais. A última foto pendurada na parede era uma foto tirada na minha formatura do ensino médio, eu estava de beca azul olhando e rindo pra Ana, que usava um vestido rosa bebê. Eu não lembrava do quão lindo era o sorriso dela. 
No corredor, passei pelo quarto dela. O quarto estava arrumado em geral mas a cama estava um pouco bagunçada como se alguém tivesse deitado sobre os cobertores e chorado muito, porque ao lado da cama havia uma lixeira quase cheia de lenços de papel usados e muitos deles espalhados pelo quarto. Isso me fez lembrar a noite em que Ana havia terminado com o Adrian, ela não conseguia parar de chorar e passei quase uma noite inteira consolando e tentando fazê-lá parar. "Ele terminou comigo" ela me disse com os olhos vermelhos enquanto assuava o nariz. "Por que?" perguntei. Ela não quis me dizer, então eu respeitei a sua privacidade. Até que a convenci de descermos e tomarmos muito sorvete, vendo filmes de comédia. Pelo menos a fiz esquecer dele por algumas horas. Eu sinto tanta a falta da Ana, ela não era uma pessoa comum ela tinha presença em todos os lugares que ia, não por sua beleza mas pelo seu jeito de ser. Ela era do tipo que animava todos e conseguia chamar qualquer um pra pista de dança, quebrar o coração dela era covardia, Ana era um doce. Enfim, deixei minha mala no meu quarto e fui tomar banho.

"E como vão as aulas?" Minha mãe perguntou enquanto jantavamos, "vão ótimas mamãe, eu estou prestes a começar um estágio em um estúdio de televisão local, estou muito confiante sobre isso. Mas e no hospital?" disse enquanto enfiava uma garfo cheio de comida na boca, minha mãe é uma ótima cozinheira. "Bom, eu estou pegando bastante plantão, então eu tenho que avisar que tenho que ir daqui a pouco..." disse enquanto olhava seu relógio de pulso "a louça vai ficar por sua conta". Fiz uma cena  "Que injusto! Eu mal cheguei já quer me dar trabalho!?" ela riu alto, como se fosse uma bruxa má do oeste "tudo se tem um preço meu bem. E como está o Marrrrcos?" Minha mãe adorava entoar o "r" do nome dele como se fosse uma mexicana. "Nos terminamos". Ela largou os talheres, "meu Deus, o que aconteceu?".
Eu odiava tocar nesse assunto.
"Bom, nos acabamos ficando sem tempo um pro outro. E ele arranjou tempo pra outra garota". Minha mãe ficou em estado de choque, "aquele idiota! Quero acabar com ele" ela ficou realmente furiosa com ele, eu ri pra ela e disse "tá tudo bem mãe, não se preocupe. Eu precisava de muito tempo mesmo pra estudar, as provas estão chegando e eu não quero pegar exame".
Minha mãe me olhou enquanto comia  "Eu tenho tanto orgulho de você,  Dani! Sempre foi um ótimo exemplo pra Ana, a forma com que sempre lidou com seus problemas. Nunca tive grandes preocupações com você."
Aquilo me fez perder o apetite e por um bom tempo o silêncio reinou naquela mesa. Isso me fez pensar que se Ana estivesse aqui , ela faria algum comentário sarcástico ou alguma palhaçada pra quebrar o silêncio e nos fazer rir.  Mas ela não está,  e eu ainda não aprendi a lidar com isso.