Prólogo

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- Tem certeza que isso vai dar certo? - Amélie falava baixo enquanto terminava de colocar as suas coisas dentro da mala e sentia sua respiração ficar um pouco mais ofegante ao sentir o coração apertar pela ansiedade e nervosismo. Colocou o cabelo ruivo e cacheado pra trás e observou a amiga, olhando atentamente o lado de fora pela janela, largar a cortina, dirigindo o olhar para ela ao terminar de falar.

- Certeza eu não tenho, - Mia olhou para o relógio em seu braço que marcava quatro horas da manhã - Mas temos que ir! - Ela disse puxando a alça da sua mala de rodinhas que quase não conseguia se mover direito por estar notoriamente lotada. Puxou a mesma com esforço e foi até a porta. -Não esquece os documento e o boné. - Logo em seguida, uniu seus cabelos entrelaçando os dedos nos mesmos, puxou um elástico envolvido em um tecido preto e amarrou o cabelo no alto da cabeça. - Suspirou- Vamos? - Falou em tom de advertência como tentativa de apressar a amiga.

Amélie, na verdade, não sabia ao certo se queria mesmo fazer aquilo, mas tinha consciência de que  seria o melhor para seu futuro. Ouviu Mia e fez um coque frouxo no cabelo, antes solto, e amarrou com o próprio. Não era todo mundo que havia nascido com a cachoeira de lava que a doce "Ame" tinha. Colocou o boné - Vamos. - Sorriu com um pouco de confiança. Ao saírem do quarto, passaram os olhos pelo o mesmo e se entreolharam, esboçando um sorriso aliviado e saudoso simultaneamente, pois sabiam que aquele seria a ultima vez que o fariam. Ao perceber Amélie encher os olhos de lágrimas, Mia fechou a porta e levou o dedo indicador para o meio dos lábios fechados indicando para a amiga que teriam que sair dali sem fazer nenhum barulho.

Elas pegaram as malas pela alça menor e tendo que carregar as mesmas, passaram pela sala na ponta dos pés com os olhos fixos no tio de Mia que dormia no sofá com a televisão ligada, num canal de programa de auditório. Ele havia atrapalhado a fuga das duas mais cedo quando chegou bêbado em casa no horário em que tinham combinado sair. Tiveram que esperar aquele homem desprezível dormir novamente, o que demorou mais do que elas imaginavam. Quando finalmente conseguiram sair, trancaram a porta devagar e a segunda missão agora era chegar até o ponto de ônibus sem encontrar a tia de Mia que chegaria por volta de quatro e meia. Elas se olharam como se preparando e apoiando uma a outra para o que iriam fazer. Colocaram as malas no chão, puxaram a alça maior e saíram correndo, para não perderem tempo. Se alguém as tivesse observando veria duas silhuetas femininas, com casacos pretos, bonés e mochilas de carrinho correndo como se não fossem viver para contar história. Uma coisa elas sabiam: os tios de Mia não se importavam o suficiente com ela para ir atrás, onde fosse.

Quando chegaram á parada, ambas estavam ofegantes e com os rostos vermelhos, mas no fundo aliviadas e contentes por não terem trombado com quem temiam. Elas pararam e silenciosamente observavam o céu tão escuro, sentiram o frio que fazia, e perceberam a rua que estava completamente deserta. Amélie sentou no banco e se encolheu, apertando seus braços cruzados em sua barriga, observando Mia logo em seguida acompanhando-a. - Será que passa ônibus para o terminal a essa hora aqui?

- Pelo que eu vi no aplicativo, deve passar um daqui...-Mia descruza os braços para olhar o relógio e sorri ao ver perifericamente o farol e ouvir o barulho do motor do ônibus - Dez segundos.. - Leva o olhar até Amélie que sorri e respira aliviada. Elas levantam e deram sinal para o motorista, esperaram o mesmo parar e entraram. Mia deixou Amélie ir na frente caso quisesse dar para trás, o que quase aconteceu quando viu o cobrador a olhar e sorrir com três dentes apenas. Mia segurou o riso ao olhar a cara da amiga, dando um sinal de que ela já podia passar após o pagamento, passando logo em seguida. Sentaram e pela primeira vez desde quando planejaram isso, ficaram quietas, como mostrando alívio por terem conseguido chegar até ali e ansiedade por não saber o que poderia acontecer.

Perceberam que cochilaram quando acordaram assustadas com o cobrador as chamando e avisando que já haviam chegado ao destino. Amélie agradeceu e rapidamente as duas pegaram as malas e saíram do ônibus. Quando Mia foi checar o horário, arregalou os olhos, deixando a amiga aflita. - Faltam quatro minutos para o embarque! - Ela mal terminou de falar e já saiu correndo, puxando a ruiva sonolenta pelo braço. Chegaram ao balcão de passagens e foram motivo de risada para o atendente que percebeu o quanto elas estavam afobadas.

- Para onde vão?

- Underville City.

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⏰ Última atualização: Sep 12, 2018 ⏰

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