X e Z, a quilômetros de altura, estavam à expectativa de receberem freqüência de alguma cidade. Às suas esquerdas, havia um arrebol ocasionado pelo sol poente. Logo seus cérebros captaram freqüências vindas de uma cidade, e logo ambos já sabiam que se tratava de uma cidade que fica a duzentos quilômetros a sudeste da cidade deles. Após cinco minutos, uma construção despontava no horizonte, e logo voavam próximo ao topo dela, que, não demorou, foi ficando para trás, e o sol foi se ocultando no horizonte, mais célere; e o arrebol se esvaiu. Não demorou e uma outra construção foi despontando do horizonte.
X e Z foram chegando à cidade. Próximo a eles, milhares de hominídeos saíam da construção ou entravam. Z enviou uma mensagem despedindo-se de X e rumou ao seu lar. X também foi rumando a sua morada.
No banheiro de uma residência, uma hominídea banhava uma criança, que apesar de ter quase três anos completos, ainda era um bebê – a espécie atinge a maturidade aos trinta anos (sexo masculino) e vinte e cinco anos (sexo feminino). Os cérebros de ambos receberam mensagens, dizendo que alguém estava em frente à janela da sala. A criança ainda não sabia decifrar diversas mensagens. A hominídea envolveu o bebê em uma toalha e foi à sala. Chegando ao recinto, avistou X e foi descerrar a janela. Logo marido e esposa se encostaram, e fluíram de seus corpos auras rosadas – cor que aparece em momentos de afeto. A hominídea perguntou sobre o curativo, e X respondeu que não era grave.
Logo, X recebeu mensagens incompreensíveis – o bebê ainda estava aprendendo a telepatizar. A hominídea informou que a criança já estava fazendo suas primeiras levitações. X olhou para o seu filho e esticou os braços, emitindo sinais simples para que o bebê pudesse compreender, pedindo para a criança vir em sua direção. O bebê ergueu-se a poucos centímetros do chão e foi, vagarosamente e oscilante, levitando em direção a X. A toalha foi se desenrolando, e foi ao chão. Após um minuto, o pai agarrou o filho e abraçou-o, e saiu novamente uma aura rosada de X. O bebê ainda não tinha o dom de emitir aura dessa cor.
Após uma hora, com o bebê já dormindo, X, enquanto jantava, narrava para sua esposa a sua viagem, desde quando estava na antiga América do Sul; o agravo que ocorreu com este e Z e o contato que ambos tiveram com os hominídeos do outro gênero.
– Que história é essa de vocês trazerem fejujs para a cidade? – perguntou a mãe de Jopaó a sua filha, que chegava a sua casa. – Esqueceu-se do que fizeram com a sua avó?
– Nós o achamos feridos na estrada, eram dois machos. Eles podiam ser vitimados por feras...
Logo, Jopaó estava no seu quarto, olhando-se ao espelho e ajustando a tiara. Sons vinham de fora, produzidos por aves noturnas que têm o abutre africano como antepassado. Já fazia planos para seu futuro filho, de preferência que fosse do sexo feminino.
A luz no quarto começou a bruxulear – a brisa de fora atuava na chama da vela. Jopaó dirigiu-se à vela para afastá-la da janela. Após pegá-la, reparou nos grandes olhos das aves, que, numa convergência evolutiva, lembravam os das corujas. Superstições diziam que ver os grandes olhos dessas aves significa sorte para o filho que irá nascer. Apesar de não crer muito em superstições, Jopaó ficou alegre com a visão.
Chegou a noite do acasalamento. Fêmeas e machos estavam agrupados em grupos distintos, em um campo iluminado por centenas de tochas (a espécie ainda não dominou a eletricidade). As fêmeas estão enfileiradas, cada uma com seu traje especial. Os machos estavam no centro do campo, um ao lado do outro, em duas fileiras. Logo as fêmeas foram em direção aos machos e puseram-se a passear próximo a eles. Os machos começaram a exalar odores – nessa espécie, os sisos deram origem a carapaças próximas às orelhas, que exalam odor de sedução –, que logo chegavam às narinas das fêmeas, deixando-as excitadas. A atenção de Jopaó voltou-se para um macho franzino de quinze anos. Esta também liberou uma fragrância, que chegou a narina do macho.
Enquanto isso, as demais fêmeas e machos trocavam seus odores. Algumas fêmeas disputavam um único macho, por meio de odores. Jopaó segurou uma das mãos do macho, e ambos foram em direção a uma das tochas. Jopaó pegou-a e foi com o escolhido a uma mata. Em meio às árvores, Jopaó acomodou a tocha num canto (a tocha possui uma base, para ficar apoiada).
Logo ambos foram se despindo até ficarem completamente nus.
– Qual o seu nome? – Perguntou Jopaó
– Nebpadé.
Ambos se abraçaram.
Após duas horas, Jopaó chegou a sua casa, já inseminada. Daqui a sete meses, (tempo de gestação da espécie) irá parir. Seu futuro filho provavelmente só conhecerá o pai, de vista – os machos da espécie só atuam como fecundadores, na formação de família. Não raramente, já ocorreu de fêmeas serem inseminadas pelos seus pais, sem estas saberem.
Passaram-se mais de dois anos. X, Z e outros hominídeos estavam no último pavimento da cidade. X segurava umas das mãos de seu filho. A esposa de X estava com o ventre protuberante, devido a um feto no seu décimo mês de gestação. Além da esposa de X, havia dezenas de hominídeas de ventre abaulado, incluindo a esposa de Z. Os ventres variavam no tamanho, conforme os tempos de gestação.
As fêmeas posicionaram-se num canto. Um líder espiritual se posicionou à frente delas e impôs uma das mãos, saindo dela uma aura branca, que logo foi abalroando nas entranhas de cada hominídea.
Os pais dos fetos trocavam mensagens telepáticas, desejando felicidades para os nascituros.
Oló, Chuorpav e seu filho, Olbpu; Jopaó e sua filha, Colbpó estavam num barco a um quilômetro da costa. Com a exceção de Colbpó e Olbpu, que só olhavam, estas seguravam uma rede de pesca. Acima da rede, havia um bando de aves marinhas, com a pretensão de filar o pescado. São aves que têm o pombo como antepassado.
Nos polegares de Oló, Jopaó e Colbpó, havia cicatrizes de cortes que foram feitos em sinal de luto, devido à morte da avó de Jopaó e Oló, há uma semana.
– Já podemos puxar – deduziu Oló.
As três foram puxando a rede, e logo centenas de peixes já estavam no convés. Jopaó pegou um peixe do tamanho da palma de sua mão: um peixe de formato circular evoluído da arraia. Esta pegou um facão e carneou o pescado, retirando-lhe diversas vísceras. Depois deu a carne a sua filha e Olbpu.
Colbpó e Olbpu têm respectivamente dois e três anos de idade, mas a jovem fêmea é mais madura que o jovem – como se fosse um Homo sapiens de seis anos. Já Olbpu é como se fosse um Homo sapiens de cinco anos. Daqui a sete anos, Colbpó já será uma adulta, enquanto Olbpu ainda estará no começo da adolescência.
Ambos foram trincando as carnes cruas e mastigando-as.
Logo, os cinco avistaram centenas de pontos que voavam a quilômetros de altura.
– O que são aquelas aves? – perguntou Colbpó, após engolir a carne.
– Devem ser fejujs – respondeu Jopaó.
– Por falar em fejujs, a minha mãe teve um sonho estranho – foi comentando Xuorpav. – No sonho, ela vira diversas silhuetas, que se dividiram em dois grupos. Um grupo se transformou nas fejujs; e o outro, na nossa espécie. Minha mãe, que gosta de brincar de interpretar sonhos, deduziu que nós e as fejujs viemos de uma mesma espécie.
– Talvez a sua mãe esteja certa... – foi comentando Jopaó. – Antes de minha avó morrer, ela passou a se lembrar do que ocorrera com ela e suas amigas, quando estavam nas mãos das fejujs. Elas foram levadas para uma daquelas grandes construções. Quando acordaram, já estavam amarradas a uma cama, num recinto. Uma fejuj, por meio de uma seringa, injetou algo pelas suas vulvas. Depois as fizeram dormir, e elas acordaram num outro recinto. Pela janela, viram que estavam dentro de uma daquelas grandes construções. Após algumas semanas, as três tiveram aborto involuntário; elas foram inseminadas, e pelo visto as fejujs queriam criar híbridas, mas houve incompatibilidade. Depois as puseram para dormir e acordaram no mesmo local onde foram raptadas, e estavam sem a memória do que ocorrera com elas.
– Vejam só! – exclamou Xuorpav, estupefada. – Isso quer dizer que nós não somos tão diferentes assim das fejujs...
E os cincos ficaram a contemplar os pontos se deslocarem até sumirem de vista.
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Hominídeos do Amanhã
Short StoryConto cujos personagens são descendentes do Homo sapiens num futuro bem remoto.