Revivendo o Passado

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Para algumas pessoas, reviver o passado significa sofrer duas vezes. Eu não deixo de concordar com as mesmas, mas como podemos evitar isso?. Todos fazem isso ao lembrar de momentos felizes que tinha com seu ex namorado(a) ou amizades que pareciam ser intermináveis mas que pra nossa surpresa se desfizeram e sumiram quando a gente menos esperava. Nos perguntamos se poderíamos ter feito algo a mais para que a história tomasse um caminho diferente, mas a realidade é que nunca poderemos saber disso. Não podemos ter controle do passado e nem do futuro, mas o presente acontece neste exato momento em que escrevo este capitulo no qual tenho a esperança de ajudar pessoas que passaram por tudo que passei ou por situações ainda piores. Isso sim pode ser um progresso e uma forma de tornar o futuro tangível aos olhos de quem tanto o almeja.

Bullying: atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, cometidos por um ou mais agressores contra uma determinada vítima. Esta é a definição quando pesquisamos o que é Bulliyng na internet, mas você já parou pra se perguntar qual seria a definição para uma pessoa que passou por isso sua vida inteira?, como no meu caso, e que mesmo que este termo tenha sido empregado na década de 70 pelo psicólogo Dan Olweus, passei a conhecê-lo quando já não era mais uma criança. Ainda que existissem "projetos" Anti-Bullying nas séries do próprio colegial, depois de todas as minhas experiências eu já não conseguia mais me sentir seguro ou protegido.

Claro, não posso ser hipócrita e dizer que na minha segunda escola nunca tentaram tomar providências quando eu me queixava de algo, mas eu fazia isso sabendo que amanhã, tudo que eu havia passado se repetiria novamente!. Apesar disso, todas estas negligências por mais que pareça impossível me ajudaram em algo, me ajudaram a me fortalecer e começar a tomar minhas próprias atitudes sem depender de terceiros para me sentir seguro novamente. Foi assim que eu consegui me portar melhor em certas ocasiões como discussões sobre o andamento da escola, participar de grêmios e poder fazer o que eu imaginava ser agradável aos alunos e a mim mesmo. Com reconhecimento eu senti que finalmente eu tinha algum lugar naquela escola, mesmo que aquilo incomodasse algumas pessoas e mesmo que eu também de certa forma cobrasse e reclamasse mais do que devia, ou mais do que eles queriam que eu cobrasse, mesmo correndo perigo eu tentava dar tudo de mim porque não poderia voltar a ser só mais um número na chamada, e só mais uma piada para todos.

Bom, acho que chegou a hora de deixar as explicações de lado e partir para os fatos que a maioria deve ter curiosidade em saber pelo que exatamente eu já passei, e a única coisa que posso dizer é que o Bullying nem sempre deve ter ligações somente a alunos. Professores também se enquadram muito bem nesta categoria... e essa com certeza foi a situação mais absurda que já passei, e que novamente foi solucionada com "dois tapinhas em minhas costas".

"-Eu irei averiguar e descobrir qual professor lhe disse isso, e avisarei a vocês quando tudo for esclarecido!", - disse a diretora olhando não só nos meus olhos como nos da minha mãe também!.

No dia anterior: - Subia a escada da minha escola segurando a caixa de som ao ouvir o sinal do intervalo ecoar pelos meus ouvidos alertando que a minha "liberdade" havia acabado. As salas eram divididas em dois corredores, o de baixo onde ficavam os alunos de quinta a sétima série e o de cima onde ficavam os alunos de oitava, primeiro, segundo e terceiro colegial. Quando eu e minhas amigas começamos a participar do grêmio, ganhamos a autorização de colocar som na hora do intervalo, e desde então, todos os anos mesmo não fazendo mais parte do grêmio a diretora autorizava nós três (Eu, Thamires e Gabrielle), a continuarmos manipulando os equipamentos por nos conhecer e por respeitamos as regras que a mesma sempre apresentou. Deixando a caixa dentro do armário da sala da inspetora, fechei a porta e continuei indo em direção a minha sala que ficava no corredor de cima (primeiro colegial) como era de costume, mas neste caminho algo me surpreendeu, percebi que o professor que por sinal já era de idade e estava substituindo algumas aulas naquela semana, estava na presença de pelo menos quatro ou cinco meninos, atrás de mim. Ele começou a fazer comentários sem a mínima questão de abaixar o volume da conversa ou simplesmente disfarçar com gestos que em minhas costas não conseguiria perceber, e um de seus comentários eu consegui ouvir perfeitamente e entender que realmente estava sim sendo direcionado a mim.

- Estão vendo isso aí?, - disse o professor em tom de sarcasmo. - O único futuro disso é virar boiola!...

Não bastou mais uma palavra para que todos os participantes da rodinha soltassem gargalhadas e mostrassem apoio a frase imunda que havia acabado de sair da boca de um PROFESSOR, no qual deveria ter ética e respeitar TODOS os alunos daquela escola, colocando acima de tudo o seu profissionalismo e princípio de passar seu conhecimento a diante e ser a diferença e razão pelos alunos frequentarem uma sala de aula. Vocês querem saber um dos motivos pelo qual o professor me fez alvo de zoações?, eu estava usando uma blusa do Guns N' Roses no qual havia cortado um pouco as mangas, deixando os espaços maiores a medida que desse pra ver um pouco minhas costelas e peitoral. Era a minha blusa favorita na época e desde então eu já tinha ido várias vezes com a mesma para a escola e nunca ouvi algum comentário se quer a respeito disso. É claro, a inspetora sempre me puxava a orelha e dizia pra ir com uma camiseta mais "apropriada", mas quando estamos nessa fase de adolescência e colegial, não queremos saber o que é apropriado ou não, só queremos vestir nosso look gótico das trevas e aproveitar o tempo que temos com nossos amigos no qual fazem tudo parecer menos entendiante. Mas uma camiseta, ou melhor, uma roupa se torna motivo para a humilhação de alguém?. Se eu fosse uma menina no caso, que tipo de comentário eu poderia ter recebido?, um talvez que me chamasse de gostosa?, ou um talvez que me chamasse de vadia?.

Naquele momento eu só pude imaginar, como a sexualidade de alguém pode definir o que ela vai ser ou não na vida dela?, e se eu fosse gay, qual seria o problema e porque deveria ser inferior as outras pessoas?. Aliás, esse professor que não lembro e nem gostaria de lembrar o nome, não foi identificado pela diretora, isso mesmo, depois daquela conversa ela nunca mais se quer me disse algo ou pelo menos se desculpou pela situação. Como pode uma diretora não saber quais professores dão aula em "sua" escola?, mas sinceramente, depois disso eu nunca mais o vi, tenho minhas conclusões, mas para o bem de todos é melhor esquecer de vez isso...






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⏰ Última atualização: Sep 18, 2018 ⏰

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