Único

1K 119 109
                                    

- Keith, vamos, respire...- Pediu Krolia esfregando suas costas com cuidado.

Mas o rapaz não conseguia apenas obedecer, sua garganta arranhava e doía, as pétalas azuis caiam ao chão junto a gotas de sangue em uma mistura horrível e grudenta. Eram miosótis. Era irônico até.

- Ainda não saímos da influência do abismo quântico. - Observou sua mãe puxando seu cabelo para trás, o prendendo em um coque para que não se sujasse. - Mas não achei que duraria tanto tempo. Já se passaram meses. O Remédio também não está surtindo efeito esperado.

Keith queria concordar e dizer que também pensou que pararia, mas não conseguia, as flores continuavam a sair aos montes de sua boca, manchadas de vermelho em suas pequenas e delicadas pétalas ao caírem ao chão. O volume parecia crescer a cada dia que se passava, como se estar de volta à terra piorasse os sintomas daquela doença que parecia ter saído de um conto de fadas. Nem mesmo com os remédios de Kolivan que estavam funcionando tão bem no inicio agora pareciam ter o efeito esperado.

Vomitar flores. Há! Keith teria rido se alguém contasse a ele sobre aquilo e se acreditasse, não pensaria que era uma doença seria. Mas era. Sentia na própria pele. As pétalas entravam em sua traqueia as vezes, pegando o caminho errado e o fazia se engasgar e sufocar, elas passavam por sua garganta e se grudavam nela e na boca e, para tirar, ele tinha de tossir e isso forçava a pele sensível e machucava depois de um tempo. E acompanhado de tudo isso, ainda tinha a dor constante no pescoço, a voz sempre rouca ou prestes a sumir e o medo de em um momento errado simplesmente não conseguir controlar e vomitar miosótis nos inimigos e amigos.

Aquilo era ruim demais.

- Kolivan, você achou algo? - Questionou a galra e o homem se sentou ao lado de Keith no sofá, observando as flores que já formavam um pequeno monte no chão.

- Apenas mais uma velha lenda. - Contou esfregando as costas de Keith e lhe oferecendo um lenço, mas antes que Keith o pegasse voltou a vomitar. - Ela se repete em muitos lugares do universo mudando apenas os detalhes, mas no geral é o mesmo. - Continuou ele fazendo uma careta preocupada e Krolia apertou a ponta do nariz. - Parece que esta doença pega apenas em casos específicos, quando a pessoa em questão já tiver encontrado sua alma gêmea, mas não é correspondido. O infectado então passa a vomitar algo que o lembre de seu objeto e amor.

- E no meu caso eu vomito flores que significam "se lembre de mim"? - Chiou Keith limpando a boca suja de sangue e flores, Krolia o ajudou a encostar as costas no sofá.

Ele se sentia exausto.

- Bem, ao que parece "lembrar" é algo que te lembra a pessoa. - Disse o galra e Keith passou a mão limpa no rosto.

Era uma piada de mal gosto. Ele quase podia rir, mas sua garganta doía.

- Péssimo momento para isso. - Murmurou o rapaz e Krolia soltou o ar.

- Em outros momentos eu diria que amar é importante, mas em uma guerra.... Não quero que sofra como eu quando tive de partir e deixar vocês. - Disse a mulher limpando a mão suja de Keith com o lenço de Kolivan.

O rapaz suspirou fechando os olhos. Não queria preocupar ninguém, mas bem, não dava para esconder essa doença da mãe vivendo com ela vinte e quatro horas por dia. E Kolivan havia visto um de seus acessos por acidente. Ele apenas queria... que parasse ali. Não gostava de ser um peso ou motivo de preocupação, aprendeu cedo que isso fazia as pessoas se afastarem dele, sem quererem tomar responsabilidade ou serem incomodados.

- Keith, sei que você não quer pensar nisso, mas você sabe quem está causando esta doença em você. - Começou Krolia agora limpando seu rosto. - Você está vomitando flores sem controle desde que chegamos a terra. Já havia aumentado quando retornamos aos seus amigos no voltorn, mas agora esta... - A mulher encarou a pilha de flores e sangue aos pés do filho. - Está pior. Estou preocupada com você.

MiosótisOnde histórias criam vida. Descubra agora