Capítulo 1 - O Voo da Borboleta

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Apenas um pequeno delírio meu.

Boa leitura!! >.<
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Liberdade.




Era por esse sentimento indescritível de adrenalina, mesclado à sensação de ser capaz de fazer qualquer coisa, que eu sempre alçava voo aos sábados à noite.

Precisava disso, um momento para poder relaxar meus músculos tensos e ignorar a enorme responsabilidade que minhas habilidades me trazem.

Tudo bem que eu gosto de ajudar as pessoas. Está no meu cerne, não por ser bondoso, mas porque vivi cada dia desde o amadurecimento dos meus poderes tentando eliminar a culpa.

Sim, culpa.

Imagine que, em todos os momentos da sua vida, você ouve vozes pedindo socorro, gritos de desespero, palavras cruéis, gatilhos sendo pressionados, objetos se partindo, vidas se perdendo e o mais apavorante: o choro silencioso daqueles que perderam a esperança.

O som mais sutil, o único que não posso ouvir, apenas sentir.

Uma presença tão áspera e sólida que me persegue em todos os meus pesadelos, sempre sussurrando: "Eu sou eterna, eu sou a sua incapacidade de salvar a todos".

Então, culpa é a palavra certa.

Nada caberia melhor nessa situação, já que eu sou condenado a escolher aqueles que estão ao meu alcance e enterrar aqueles que não estão.

Uma vida buscando redenção por não ser mais que aquilo que posso ser.

Por não ser alguém onipotente.

Por ser somente um krypitoniano medíocre com poderes insuficientes.

Por causa disso, o único momento que me acalma é quando o vento bate em meu rosto, como um simples acalento para me lembrar que o importante é eu me esforçar ao máximo, independente da situação.

É com esse pensamento que eu pouso em uma área de mata fechada, muito conhecida por mim, e retiro meus tênis surrados, os quais normalmente uso em minhas missões e patrulhas — fato evidenciado por sua cor desbotada e furos aleatórios por toda sua extensão.

Penduro-o na árvore à minha frente, ao lado do sapato vermelho e engomado que já estava nela.

Agora, já com os pés descalços, posso, enfim, fechar os olhos e me permitir sentir tudo o que ignoro no meu cotidiano.

A terra fofa e levemente molhada se liga aos meus poros e meu olfato apurado captura os diferentes cheiros desse lugar especial, desde o perfume da madeira dos eucaliptos, que lembra um pouco a citronela, até o agridoce das penas das rolinhas roxas, cujo canto ajuda a afastar meus demônios.

Esse misto de informações poderia ser algo que confunde as pessoas, mas, para mim, é diferente...

Ele causa uma enorme sensação de nostalgia, como comer uma receita que sua mãe preparava em dias difíceis na infância.

Isso pode parecer estranho, afinal de contas, eu visito esse lugar, pelo menos, uma vez por semana. Contudo, não é ele em si que me proporciona esse sentimento, são as lembranças.

Memórias estas que atolam meus pensamentos de forma tão consistente que minha mente, por vezes, prega peças maldosas ao desmascarar meus medos e descascar cada camada de auto-proteção que eu havia erguido, provocando ilusões reais o bastante para eu poder tocá-las caso eu decidisse erguer um pouco minhas mãos, estas que abraçam meu corpo como última barreira.

Em minha frente, um garoto, perdido e solitário. Sei bem como é, visto que eu estive na pele dele; eu fui esse pequeno ser impotente e incompreendido.

。:°𝓤𝓶 𝓟𝓪𝓻 𝓭𝓮 𝓐𝓼𝓪𝓼 °:。ᵈᵃᵐⁱʲᵒⁿOnde histórias criam vida. Descubra agora