Recomeço

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Estava imerso à meus pensamentos naquela tarde de julho, minha cabeça estava encostada na janela do carro de meu pai, os fones em meus ouvidos me impediam de ouvir qualquer coisa. Ao som de Dark Horse da Katy Perry nosso carro cruzava uma das estradas bem pavimentadas indo em direção ao norte. As arvores se encontravam fortes e bem vivas, poucas folhas caíam quando os ventos sopravam, o brilho do sol iluminava e projetava sombras de diversas formas que me intrigavam. Minha família pode ser considerada problemática, meu pai Mark Holland é dono da empresa que carrega o nome de nossa família, resumidamente nós administramos e financiamos pesquisas farmacêuticas. Minha mãe é Alexandra Holland, dona de sua própria linha de roupa "Alexandra's", ela é muito egocêntrica e vaidosa. Meu irmão mais velho é Lex Alexandro Holland, gosto de brincar com ele dizendo que seu nome é nome de cachorro, ele é o tipo de pessoa que vive enfiada no quarto, estudando e estudando, tenho sérias dúvidas sobre sua virgindade. Minha irmã mais nova é Patriccia Holland, não tenho muito o que falar sobre ela, mas espero que não siga o caminho de minha mãe. Eu, Cezar Holland, sou um garoto que segue de perto os passos do pai, estudo biomedicina a dois anos, sou canceriano (Não que isso importe) e vivo no meio de uma família que em minha opinião está a beira da destruição.

-- Ah que lástima, Joanne acabou de perder o voo para Spring Valley, não irá nos acompanhar por uma semana. -- A voz de minha mãe era aguda e completamente forçada. Ela é branca que chega a doer, seus cabelos são castanhos e ondulados até o ombro, seus olhos são cor de mel, estava usando um vestido de sua própria linha, era amarelo mostarda e um cinco branco o acompanhava na cintura, seu comprimento não passava dos joelhos. -- Muita "Lástima". -- Comentava meu pai com sua voz COMPLETAMENTE sarcástica arrancando uma risadinha de minha irmã mais nova. Meu pai era alto, tinha uma pele parda e os olhos verdes, uma barba por fazer enfeitava sua cara "sem graça" como dizia minha mãe. Minha irmã era uma cópia idêntica de minha mãe, somente muitos anos mais nova.

Nosso carro seguia o caminho sem mais nenhum comentário, meu irmão estudava em seu notebook sem inibir nenhum tipo de som, seus olhos cor de mel estavam vidrados na tela em quanto seus dedos dançavam nas teclas incansavelmente. -- Pelo menos não está jogando lol. -- Eu comentava forçando uma risada maldosa, meu irmão me olhava com o canto dos olhos praticamente me fuzilando, mas logo voltava para os estudos. -- As vezes eu penso que você é mudo. -- Um pouco ofendido eu voltava minha atenção para a música. Meus cabelos eram enrolados e rebeldes, minha pele era parda como a de meu pai, meus olhos tinham uma fusão de cores, verde e mel. Usava um óculos preto um pouco grande para meu rosto, a coisa que mais me incomodava em meu corpo era meu peso, sim senhores, um garoto de dezenove anos, um metro e oitenta com quarenta e sete quilos, emocionante.

A noite virava e nós ainda estávamos na estrada, meu irmão agora dormia tranquilamente babando em cima de seu notebook. Minha irmã jogava jogos em seu iphone, meus pais completamente calados e eu escrevendo meu trabalho em meu próprio notebook. Após mais algumas horas dentro do carro passávamos pela placa de indicava a chegada à Spring Valley, algo em dentro de mim acordava me deixando desconfortável, a ideia de mudar de vida completamente trazia a tona minha ansiedade, nova faculdade, novos vizinhos... Aterrorizante, minhas mãos tremiam um pouco, eu então encho meus pulmões de ar e esvazio pela boca e repetia por umas sete vezes esperando me acalmar. Meu pai notava meu desconforto e dizia em um tom confortante. -- Vai ficar tudo bem Ceh, você vai conseguir dessa vez. -- Eu nada dizia, apenas sorria para ele. Meu pai era o pilar que segurava minha vida, sempre me suportou em tudo que precisei, minha mãe ajudava, ambos me amavam muito e eu os amava de volta mas mesmo assim guardava deles um segredo muito grande, um segredo que me apertava por dentro.

Nossa casa era enorme, um portão de ferro barrava um jardim que seguia um caminho de pedra à porta de entrada, arvores, flores e até um pequeno lago enfeitavam tal jardim, minha irmã corria pelo caminho rindo e brincando com as flores, minha mãe a seguia de perto tirando selfies a cada cinco passos, meu pai animado foi o primeiro a abrir a porta. Eu e meu irmão estávamos lado a lado, mas mesmo assim ele não disse uma palavra. Entrávamos então na casa, a sala de recepção era bonita, um tapete vermelho mostrava o caminho para o salão principal onde uma grande escada levava ao andar dos quartos. Meu quarto era o menor, eu não fazia a mínima questão de um quarto grande, preferia um quarto pequeno, me fazia sentir grande. Nas paredes eu já tinha colocado meus quadros de kpop, minha cama já estava arrumada, minha estante de livro repleta de livros da faculdade, em minha escrivaninha meu notebook estava ligado em uma tela de descanso. A janela de meu quarto tinha como vista a piscina, tinham duas na verdade, uma grande com alguns brinquedos para minha irmã e a outra era aquecida.

Eu descia as escadas lentamente, sem nenhuma pressa eu já havia trocado de roupas e dormido um pouco, eram quase cinco da tarde. -- Vou entregar os documentos na faculdade. -- Dizia sem nenhum ânimo para meu pai que estava sentado em uma poltrona revisando alguns arquivos. Assim então eu saia para a rua. Spring Valley era muito bonita, uma cidade animada, as pessoas acenavam para mim sem ao menos me conhecer, isso me arrancava um sorriso tímido, a faculdade de Spring Valley era enorme, na entrada muitas pessoas conversavam após entregarem seus documentos de admissão, eu passava por elas me encolhendo, não gostava de estar em um lugar repleto de pessoas. Chegava então na recepção onde uma mulher a cima do peso com cabelos ruivos me atendia. -- E o senhor é ? -- A voz dela era um pouco grave de mais. -- H-huum... Cezar Holland. -- Eu dizia tentando me livrar da timidez. -- Ah sim ! Senhor Holland, som Valéria Vazques, conversei com seu pai ao telefone. -- Ela sorria estendendo a mão, eu a cumprimentava sorrindo, me lembrava dela na mesma hora, era uma funcionaria da faculdade, meu pai havia comentado comigo que ela era transexual, então tudo se clareava. -- É um prazer. - Eu continuava a sorrir. -- Bom, muito bom, todos estão aqui certo ? Ah sim ! Seu pai já fez questão de pagar todas suas mensalidades, com esses documentos você já poderá começar as aulas semana que vem com o resto dos alunos, bom, boa tarde senhor Holland ! -- Ela dizia quase sem pausa me deixando sem ar. -- B-boa tarde ! -- Eu ria desconcertado após me levantar e me afastar do lugar. Caminhava um pouco para conhecer o lugar, as pessoas eram muito simpáticas, eu havia conhecido um professor com um nome de animal, mas a cima de tudo isso um encontro me paralisava por alguns segundos, ele estava lá, era alto, cabelos claros e tinha um sorriso anormalmente irritante, estava usando um Sweater cinza com calça jeans. Freddie Highmore, filho de Isaac Highmore um empresario concorrente da Holland's, nós nos encontramos muitas vezes em eventos das empresas, também estudamos juntos no passado, ele sempre fez questão de se esnobar para mim. Eu serrava meus dentes ao ouvir sua voz calma se direcionar à mim em um tom sarcástico. -- Cezinha Holland ! -- Ele exclamava sorrindo, aquele sorriso imundo. -- Fredderick sei la o que. -- Eu dizia sem ânimo algum o fazendo rir. -- É Freddie, e você sabe muito bem disso, meu nome já apareceu algumas vezes a cima do nome de seu pai na revista de mais prestigiados. -- Ele continuava com o sorriso arrogante. -- É, realmente, eu ainda quero saber quanto seu pai pagou para isso acontecer. - Eu continuava tentando me controlar. -- Mais dinheiro do que você e sua família já viram na vida Cezinha. -- Ele parecia não se zangar com nada. -- Mas não vou perder tempo com você agora, nos vemos no trote ? Ah, me desculpe, esqueci que seus anti depressivos te deixam sonolento de mais para ter amigos e socializar. - Ele terminava a frase e ao não receber resposta ele saia com um sorrisinho. -- Veremos... - Eu dizia um pouco afetado.
Eu e Freddie já fomos amigos no passado, mas ele como filho único de um grande empresario teve que começar a aprender tudo sobre a empresa de seu pai, aprendeu inclusive a rivalidade entre os Holland e os Highmore, a partir disso ficou arrogante e nunca mais foi o mesmo de antes, as vezes me pergunto se seu pai interviu com nossa amizade ou ele mesmo o fez. As vezes me pego relembrando o passado e pensando em seu sorriso, como costumava gostar dele, um dia, quem sabe tudo não voltara ao normal.

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⏰ Last updated: Sep 24, 2018 ⏰

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