Child Song

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"O que acha de conhecer um pouco da cidade amanhã?"

Otávio aceitou imediatamente, tomado pela animação depois dos acontecimentos do dia. Ao atravessar o portão de sua casa e olhar para trás acenando para Luccino, começou a refletir sobre o significado daquele convite.

Seria um encontro? Será que dona Nicoletta estava pressionando o filho a passar um tempo com ele? Será que Mariana tinha falado sobre ele com Luccino? O que deveria vestir? Não teve nem mesmo a presença de espírito de perguntar aonde iam, e agora praguejava pra seu eu passado por sua falta de noção.

Respirou fundo e tentou se concentrar em outras coisas. Praticou clarineta e se irritou com o resultado; abriu um livro e não conseguiu se concentrar.

- Agora essa - disse, pro vazio de seu quarto - Agora vou ficar distraído e bobo como um adolescente apaixonado.

...

Ouro Verde era uma cidade pequena comparado ao que Otávio estava acostumado. Luccino lhe mostrou onde ficava o museu da cidade, com relíquias da época em que as plantações de café dominavam a paisagem. Ele conheceu a biblioteca municipal, onde Cecília, a irmã mais nova de Mariana, trabalhava. Visitou o teatro, e se divertiu com as histórias de Luccino sobre os musicais estrelados por Lídia na infância. Procurou saber sobre a orquestra municipal e sobre escolas de música. No final da tarde, sentia-se mais parte daquela cidadezinha simpática.

- Sejam bem vindos! Já sabem o que vão pedir? - perguntou a barista, com os cabelos cacheados presos num coque frouxo e um sorriso largo.

- Oi Amélia! Como está a Lara? - perguntou Luccino, enquanto sentavam-se em uma mesa no canto.

A cafeteria era pequena, aconchegante, com decoração colonial. O sol já ia sumindo no horizonte, e o lugar que escolheram ainda recebia um pouco daquela luz natural. Otávio sentiu como se estivesse em uma novela de época.

- Ah, você conhece aquela peça. Corre pela casa toda, rola com o cachorro na terra, volta pra casa toda suja de barro. Agora que as aulas voltaram eu espero ter um pouco mais de sossego - respondeu Amélia, tirando um caderninho e uma caneta do avental - Estão com fome? Dona Ágatha trouxe a quiche de legumes hoje, está divina. E o bolo de frutas vermelhas eu fiz hoje mesmo - complementou a mulher de olhos verdes.

- Eu vou querer uma fatia daquela torta de frango e um café, por favor - pediu Luccino - Otávio, já sabe o que vai pedir...?

- Eu vou querer um pedaço de bolo, por favor. E um mate gelado - disse Otávio, após uma rápida olhada no cardápio em cima da mesa.

- Anotado! Já trago os pedidos de vocês - Ela caminhava com a graça de quem não tem nenhuma preocupação, de quem abraçou a vida, para quem todo dia é uma nova surpresa.

Luccino notou o olhar de Otávio para a barista. - Amélia é mesmo linda. E casada - sussurrou.

- Que é isso, Luccino, eu não estava... Você entendeu tudo errado - protestou o outro, ao mesmo tempo indignado e envergonhado.

Luccino sorriu e lhe deu um tapinha nas costas - Ei, estou só brincando. Não tem problema nenhum em admirar uma mulher bonita, não é mesmo?

Otávio ficou em silêncio. Seu olhar então se desviou para a janela, de onde podia ver a rua e o céu a escurecer. - Não. Mas você fala de um tipo de admiração que implica em... coisas. Em presumir que eu seja um tipo de homem, um tipo de pessoa... Eu não sou assim - Sentia que estava na defensiva, falando como um animal acuado, e odiava isso. Forçou sua voz a ficar firme. - Me entende?

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⏰ Última atualização: Oct 18, 2018 ⏰

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