via láctea

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Sentados do lado de fora da casa, em cadeiras de praia, com roupas quentes, minha estrela dizia cada uma das constelações que aparecia em cima de nossas cabeças, as quais eu não conseguia ver.

Sua mão estava entrelaçada a minha, e meus dedos livres seguravam uma garrafa de soju. Foi duro me acostumar com a falta de visão, saber que, todo dia, ao abrir os olhos, não faria a menor diferença.

—Eu sinto falta de poder ver teus olhos, Estrela... – Sussurrei. – Eram tão belos, mudavam a cada dia, sempre mais bonitos que o dia anterior...

—Meus olhos não brilham há um tempo... – Ele disse.

—Tua pele?

—Como a tua. – Respondeu no mesmo tom baixo. – Me torno cada vez mais humano, é inevitável... Não sou mais uma estrela, recusei minha volta ao universo para cuidar de ti, ficar contigo...

—O que lhe custou? – Perguntei, com certo medo, e ele me acalmou com uma carícia no braço.

—Apenas os detalhes... Meus olhos se tornaram negros, minha pele não brilha como antes, não poderei acender novamente... – Respondeu, erguendo minha mão e depositando um selar quente em meu dorso. – Mas morrerei contigo, ao teu lado, isso que me importa.

—É tão pouco tempo para ti...

—Bastante ao teu lado! – Sua mão chegou ao meu rosto, e então um selar me foi dado. – Teu médico disse que suas órbes vão voltar ao normal, você vai voltar a enxergar, eu acredito nisso...

—Eu... – Sussurrei. – Não tenho certeza disso.

—Não tem esperança alguma? – Neguei, abaixando o rosto e sentindo o toque de seus dedos em meus lábios. Depositei um selar sobre eles, apenas segurando sua mão e afundando meu rosto naquele contato. – Hoseok... – Ele chamou minha atenção. – Eu quero um nome...

—Um nome? – Ele assentiu com a garganta.

—Algo que combine comigo. – Pediu.

—Estrela combina contigo, não precisa mudar! – Ele riu e negou, voltando a me dar beijos enquanto repetia seu pedido a cada um deles. – Tudo bem... – Sussurrei. – Te dou umas opções, você escolhe... – Ele concordou, animado. – Min-Gi? Yoon-woo? Yeon-sook? – Ele negou em cada uma delas. – Seung-min? Yoon-gi? Woo-seok?

—Yoon-Gi? – Ele perguntou, e eu assenti. – Gostei de Yoongi...

—Então esse será seu nome? Yoongi?

Yoongi e Hoseok, acha que combina? Hoseok e Yoongi... – Soltei um riso, sentindo ele afastar a manta que nos cobria de meu corpo, já que estava na hora de voltar para dentro. – Eu realmente gostei de Yoongi, mas se não combinar com Hoseok, eu troco!

—Claro que combina!

Ele riu, e assim me guiou de volta para a casa, me segurando próximo ao seu corpo, me deitando com calma na cama. Suas mãos tiraram os sapatos de meus pés, e seus lábios tocaram os meus. Eu me sentia tão bem com seus cuidado.

—Quer mais algo antes de dormir? – Ele perguntou, e eu neguei, apenas pedindo sua presença ao meu lado durante a noite.

Ele se deitou, junto a mim, e cobriu nossos corpos com um lençol. Era bom dormir ao seu lado, tê-lo deitado em meu peito... Ouvi-lo dizer o quanto me amava, retribuir todo o amor! Era incrível...

E assim os dias se seguiam.

Seus cuidados comigo, sua voz entrando em meus ouvidos, minhas lembranças sobre como ele era, tudo...

Observar as estrelas era meu momento favorito do dia.

Mas, naquela hora, escorado no batente da janela, eu sentia o vento bater em meu rosto, eu sentia a textura da pétala em minhas mãos, e Yoongi, minha estrela, se ocupava com a refeição.

Umedeci os lábios, fechando os olhos, e sentindo uma leve tontura. Me segurei com as mãos na madeira da janela e impedi meu corpo de cair, mas uma pontada de dor surgiu em minha cabeça.

Chamei por seu nome, sentindo meu corpo cair aos poucos. Tentei me manter de pé, mas o choque contra seus braços foi inevitável.

—Hoseok? Ei, meu amor... Calma... Está tudo bem! – Eu assenti às suas palavras, mesmo que estivéssemos ao chão.

Sua mão segurava a minha, seu corpo confortava o meu, e, de meus olhos, lágrimas escapavam.

A dor aumentava, ficar acordado era um castigo, aos poucos minha mente cedia, e eu me sentia cada vez mais distante. Sentia meu corpo afundar, flutuar...

Quando passou, quando pude me sentir leve, quando pude abrir os olhos, encontrei as estrelas. Minhas mãos se agitaram, fechando-se em punho, e para elas eu olhei, encontrando não somente meus dedos e unhas, mas também meu corpo.

Respirei fundo, fechando os olhos, e desejei, ah, como desejei!, Os braços de Yoongi, todo o amor que ele poderia me dar... Como desejei tê-lo naquele momento...

Hoseok? – Escutei sua voz, e um soluço escapou de meus pulmões, meus olhos se abriram, e a luz me invadiu.

Olhei ao redor, encontrando as órbes negras e felinas totalmente atentas a mim. Me atentei a ele por igual, notando seu susto, sua surpresa.

Ergui minha mão, toquei em seu rosto e percebi o quão aquilo era real. Palavras não foram necessárias naquele momento para que soubéssemos o que acontecia. Seus olhos marejaram, e seu abraço me preencheu o peito vazio.

—Você pode não brilhar como antes, mas vai continuar sendo a estrela mais brilhante para mim, Yoongi... – Ele assentiu, beijando minha bochecha. – Me deixe ver você... Eu quero ver você! Faz tanto tempo!

Ele engoliu em seco, erguendo o rosto, e limpou as lágrimas, tentando controlar os soluços e me enviar sorrisos ao invés de prantos.

—Como é bom ter seus olhos voltados aos meus, Hoseok... Como é bom! – Exclamou.

—A comida? Você...

—Ah, eu deixei queimar! Por quê? Está com fome? – Indagou, e eu neguei, tocando em seu rosto corado pelas lágrimas.

—Está tudo bem... Agora eu posso ver a minha estrela... – Ele riu, limpando o rosto mais uma vez antes de beijar meus lábios, subir para a testa e me fazer fechar os olhos para selar cada uma de minhas pálpebras. – Minha estrela...

—Totalmente sua, Hoseok, essa estrela é sua, apenas sua... – Ele disse, inclinando o corpo por cima do meu para me abraçar firme e forte. – Você precisa comer, precisa de vitamina A, Hoseok-ah... Precisa ver as coisas, ver o mundo, precisa-...

—Preciso de você, Yoongi. – O interrompi, recebendo seu olhar enquanto erguia meu corpo, sentando na cama. – É como se eu tivesse te reencontrado, como se eu não convivesse contigo há tempos...

Imagino... – Ele comentou, umedecendo os lábios antes de respirar fundo e sorrir. – Vou chamar o médico, trazer algo para você comer e depois nós... Nós...

—Podemos olhar as estrelas? – Perguntei, segurando seu rosto, olhando no fundo de seus olhos negros, me fazendo falta ver as nebulosas, mas aceitando o real belo que neles tinha.

—Com certeza, sim, podemos olhar as estrelas! – Exclamou, apertando minhas mãos.

Eu te amo tanto, minha Estrela...

—Eu também te amo, meu Sol, mais os que tudo no universo inteiro!

Taeyang

star • yoonseokOnde histórias criam vida. Descubra agora