Confesso que eu estava em choque assim que meu pai fez a pergunta.
E eu não sabia o que responder.
- Em Camila. Que porra tu tava fazendo na Maré?! - ele diz cruzando os braços e me encarando com raiva.
- E-eu fui pra um baile... - digo baixo.
- Você foi aonde? Repete alto, não escutei. - diz se aproximando devagar.
- No baile que teve na Maré... Eu não falei porque você não deixaria eu ir.
- Porra Camila! - ele grita - é óbvio que eu não deixaria, você é louca?! É a porra do morro inimigo e você andando por lá. Você quer morrer?!
Fecho os olhos com medo e ouço ele bufar.
- Me desculpa pai.
- Abre os olhos. - encaro ele - você não sai tão cedo de casa, ta me ouvindo?!
- Pai...
- Eu não quero saber, pisa fora de casa que você vai ver o que acontece.
- Eu to grávida. - digo alto.
Ele para de falar e me encara paralisado.
- Eu fiz o teste hoje, eu to grávida pai. - digo começando a chorar desesperada.
Ele não responde nada, até que cai no chão.
- Pai! - grito me agachando ao seu lado - pai, fala comigo por favor. Socorro! - grito desesperada, tentando acordar ele.
O Leandro entra correndo na sala, junto com uns caras.
- O que houve?
- Ele desmaiou! - digo chorando. - chama a Karla.
Um dos caras sai correndo e o Leandro abaixa ao lado do meu pai, sentindo a pulsação dele.
- Ele desmaiou sem motivos? - Leandro pergunta me olhando.
- Eu contei que to grávida... - digo baixo e ele arregala os olhos.
- Eita porra.
Karla entra na sala, ela era enfermeira aqui no morro e ajudava quando acontecia algo grave com a gente.
- Licença Leandro. - ela diz abaixando do lado do meu pai - calma Camila, foi um desmaio. Ele jaja acorda. Vamos por ele no sofá.
Os meninos pega ele e coloca deitado no sofá. Ela verifica se ele se machucou e passa álcool no algodão, passando o algodão próximo ao nariz dele.
Demora uns minutos mas ele abre os olhos lentamente, olhando tudo ao seu redor até seu olhar parar em mim.
- Que porra aconteceu aqui?
- Você desmaiou, Pai. - digo e ele evita me olhar.
Tenta se sentar e a Karla ajuda.
- Ta sentindo alguma dor? - ela pergunta.
- Na cabeça, um pouco.
- Toma esse remédio. - vira olhando pra mim - pega um pouco de água pra ele...
Me levanto e vou buscar água, volto e entrego pra ela.
Ela da a água e o remédio pra ele tomar. Ele toma e fecha os olhos, encostando a cabeça no sofá.
- Obrigado Karla. Mas vocês já podem ir, eu to bem.
- Certeza?
- Sim.
- Tudo bem, qualquer coisa me chama Camila. - balanço a cabeça concordando e todos saem, deixando eu e meu pai a sós.
Fico calada observando ele de olhos fechados.
- Você me decepcionou. - ele diz baixo e eu escuto.
- Me desculpa.
Ele abre os olhos e me encara.
- Eu sou seu pai, só quero o seu bem. Te escondi por um bom tempo pra ninguém saber de você e te machucar e você faz uma coisa dessa?
- Eu... - ele me interrompe.
- Parece que tudo que eu fiz pra te proteger, você fez questão de tacar o foda-se e correr perigo. Olha ai o resultado, 17 anos e grávida. Você sabe ao menos quem é o pai?
- Ele mora na Maré... Conheci ele no Baile e depois nos envolvemos....
Ele engole em seco e respira fundo.
- Escuta o que eu to te falando Camila. Você nunca mais vai ver ele e vai criar essa criança. Se eu souber que você ta de papo com esse garoto ou qualquer pessoa da Maré. Eu mato ele, entendeu?
Começo a chorar e abaixo a cabeça.
- Olha pra mim. Você entendeu o que eu disse?!
- Entendi.
- Tudo bem. Agora some da minha frente, que eu tenho assunto pra resolver.
Ele diz se levantando do sofá e pegando a arma em cima da mesa.
- O que você vai fazer?
- Não é da sua conta. - responde saindo da sala, me deixando sozinha.
Respiro fundo secando as lágrimas e saio da sala dele, os garotos me encaram e eu corro, indo pra casa.
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O passado de um morro.
ChickLitCamila tem um passado que poucas pessoas sabem da história toda. E acha que está tudo resolvido, mas o seu passado volta a perturba-la, agora sabendo da verdade. E seu passado não é ninguém menos que o braço direito do dono do morro. Como será que...