coffee without sugar_ YAØI_

O café mais amargo- Prólogo

Abri meus olhos com a fraca luz da manhã, passando pelas frestas da minha cortina fazendo o trabalho do meu despertador. Me levantei espreguiçando-me.

Logo fui me arrastando preguiçosamente para a cozinha e preparei um café bem forte, apesar de ser amargo, mas era algo bom, um amargo gostoso e confortável. Caminhei em direção ao armário e peguei uma caneca, assim que terminei de preparar o café, coloquei um pouco do líquido quente dentro do recipiente, logo a levando o minha boca e tomando um gole.

Engoli o café calmamente, sentindo seu calor amargo passar pela minha garganta e tornar cada um dos goles que dava mais gratificantes que o último. Terminei meu café e levei a louça para a pia, a deixando lá junto com a louça de ontem que não havia tido paciência para lavar.

Respirei fundo e sai da cozinha, voltando para o meu quarto em busca da minha roupa escolar, que se encontrava meio amassada em meio às outras roupas da gaveta que eu havia dobrado, se é que se podia chamar aquilo de dobrar.

Tirei meu pijama e o estendi sobre meu travesseiro para me lembrar de usar antes de dormir, coloquei minha roupa de maneira meio folgada, sem nem me olhar no espelho pra conferir. Acho que isso já era comum, não tinha nenhum espelho no meu quarto e o banheiro ficava distante, o que me fazia ter preguiça de ir até lá só pra ver se estava nos "padrões aceitáveis".

Olhei a minha janela coberta pela cortina, que brigava com os raios de sol que persistiam em passar pelas frestas, como se estivesse se irritando e quisesse expulsa-los, mas não conseguisse por mais que tentasse. Apenas passei a mão na cabeça ajeitando meu cabelo e saí de casa preguiçosamente.

Fui para o metrô, esperando o que ia para a área próxima ao meu colégio chegar. Fiquei olhando para os lados esperando encontrar algum rosto familiar, infelizmente sem sucesso.

Permaneci sentado esperando o meu metrô, que chegou depois de algum tempo, causando o alto barulho que marcava sua aparição ao longe, o irritante som agudo de seu freio ressoou alto no meu ouvido quando finalmente parou. Entrei nele e me sentei em um dos únicos bancos vazios, pegando meus fones de ouvido no bolso e conectando-os no celular. Quando se vai esperar por uma hora até chegar em seu destino é melhor se entreter, pelo menos...

Apaguei tudo que estava na minha mente, me concentrando apenas na música que ecoava na minha cabeça que, mesmo não tendo um ritmo tão calmo assim, me tranquilizava... É um momento meu, em que eu não me preocupo com nada ao meu redor....

Depois de um curto espaço de tempo a tranquilidade que estava na minha cabeça acabou, a causadora disso tinha nome e estava a vir se sentar do meu lado. Passo por passo, a garota loira que tentava não esbarrar em nenhum dos outros passageiros foi se aproximando de mim, e parada em minha frente, me cumprimentou:

- Como foi o feriado? - Ela sorriu para mim como se não quisesse nada - Ei, Kayu, não pode ficar ignorando os amiguinhos...

Ainda estou tentando me acostumar a ter a Mia vindo comigo para o colegio todos os dias... Apesar de que estou certo de estranhar, não faz muito tempo desde que ela começou a participar da minha ida a escola，antes nos encontrávamos apenas na sala, isso é, se os nossos horários combinassem e conseguíssemos um tempo livre para conversar...

Retiro calmamente um dos meus fones, não era como se quisesse parar para conversar naquele momento, sabia que ela ia me pedir alguma coisa e não pararia até concordar e aceitar seja lá o que fosse, por isso apenas levantei a cabeça pra ela sem ânimo para responder:

- Como qualquer dia comum - virei o rosto pro lado.

Ainda tinha esperanças de que ela desistisse do que queria e só me deixasse ter meu momento de paz, mas nós estamos falando da Mia. Não é como se ela fosse simplesmente esquecer o que ia falar ou desistir depois de já ter puxado assunto.

Depois de um tempo com ela repetindo a pergunta que tinha feito inicialmente, eu resolvi falar o que ela queria.

- Eu fiquei a tarde lendo e ouvindo música, apenas isso.

A resposta foi um simples " entendo... " e um suspiro entediado, acho que não foi a resposta que ela estava esperando, minha vida não é muito interessante, desculpe-me Mia.

Se estivéssemos junto com o restante do meu grupo no colégio eu teria contado por insistência mais detalhadamente tudo que aconteceu - mesmo que não seja muita coisa -, mas aparentemente isso saciou a curiosidade dela e ela parou de me incomodar, estendendo a mão para pegar um fone e escutar a música comigo:

- Você sabe que não vai gostar da música, não sabe? - Olhei para ela e entreguei um dos fones.

- Eu sei. - Ela encaixa ele na orelha - Deveria ser preso por ter um gosto musical assim. - Ela olha o nome da banda no meu celular - Não conheço... Deveria tentar escutar algo mais atual.

- É atual, foi composta ano passado. - Ela me encara surpresa e já ia comentar alguma coisa mas eu interrompo - Não precisa perguntar, é sério sim. Se não quiser escutar pode me devolver o fone.

- Se eu te devolver você vai ficar distraído e não vai falar comigo! Não quero ficar mais 20 minutos parada no trem sem fazer nada.

- E o seu celular ? - ela olha para o lado tentando disfarçar que deve ter esquecido ele em algum lugar, e isso é difícil acontecer com ela, normalmente esperaria isso de outras pessoas, mas paciência. Ofereço calmamente um dos fones para ela - Se não ficar reclamando pode escutar comigo.

Ela concorda sorridente, logo falando repetidamente para colocar algo que ela conhecesse, pelo menos temos uma parte dos nossos gostos musicais em comum, fazendo ser menos complicado de eu encontrar algo que ela concordasse escutar.

Enquanto escutavamos a música ela olhava para os lados, tentando encontrar algum assunto, mas sem sucesso. Depois de algumas estações o trem para na mais próxima da escola.

Esperei o metrô se esvaziar um pouco e me levantei sendo seguido pela Mia, que me encarava enquanto andávamos para fora de lá, andando em direção a escola.