Casulos

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CAPÍTULO UM

O despertar

Abri os olhos e tive dificuldade para enxergar a camada gelatinosa cor de âmbar que me envolvia. Comecei a me mexer e revirar meu corpo nu dentro do pequeno espaço disponível, completamente preenchido pela gosma translúcida laranja-amarelada. Imaginei que era daquele jeito que um feto deveria se sentir dentro do útero materno. Mas eu não era um feto! E aquilo, definitivamente, não era um útero. Parecia um... casulo!

Tentei forçar a barreira com as mãos, na intenção de rompê-la. Não consegui. Aproximei-me da membrana impermeável e pude ver através dela: a única fonte de luminosidade do ambiente não parecia estar muito distante. De repente, comecei a me sentir sufocado. Percebi que, até aquele momento, eu não respirara, porém meu organismo começava a implorar por oxigênio. Desesperado, pressionei o casulo com mãos e pés ao mesmo tempo, esticando-me ao máximo. Não pareceu surtir efeito. Tentei arranhar a barreira gelatinosa, mas não consegui causar qualquer dano. Sem muitas opções, em vez de me empenhar em esticar a parede do casulo, decidi tentar comprimi-la, segurando-a entre as mãos.

Assim que a primeira ondulação surgiu, mordi a membrana cor de âmbar com firmeza. De início, parecia que eu tentava mastigar um pedaço de borracha, mas, depois de alguns segundos de pressão, o tecido cedeu e se rompeu. Foi fácil então fazer com que o corte se estendesse até que eu pudesse sair.

Ao deixar o casulo, senti a água fria envolver meu corpo. Ainda não era possível respirar! Juntei todas as minhas forças e nadei o mais rápido possível em direção à luz. Mexia os braços e pernas de forma desordenada e logo comecei a sentir câimbras, que pareciam se intensificar a cada segundo que passava sem oxigênio. Meu corpo doía e eu já o imaginava inerte, afundando na água escura, quando, finalmente, consegui chegar à superfície.

Respirei fundo, mas, em vez de alívio, senti uma dor alucinante. O ar penetrava em meus pulmões causando um ardor insuportável. Involuntariamente, expeli aquela mesma gosma cor de âmbar pela boca. A agonia era tão grande, que quase decidi voltar para debaixo da água. Felizmente, com o passar dos minutos, ela foi diminuindo.

Olhei ao redor e percebi que estava numa pequena lagoa. Um odor putrefato pairava no ar. Nadei, ainda com dificuldade, até a margem e, quando meus pés conseguiram tocar a areia, fiquei aliviado. À medida que caminhava e o meu corpo nu saía da água, comecei a me sentir pesado. Ao ficar em pé na areia morna, uma tontura momentânea tomou conta de mim e fui obrigado a fechar os olhos e me apoiar sobre o joelho direito, para não cair.

Ainda com a cabeça baixa, abri os olhos. Apesar de o tempo estar parcialmente nublado, minhas pupilas ainda tentavam se acostumar com a claridade. Depois de alguns segundos, as imagens começaram a ficar mais nítidas. Foi quando pude ver que centenas de peixes mortos boiavam na água, nas proximidades das margens da lagoa. Enfim, descobri a origem daquele cheiro fétido.

Afastei de mim um grande peixe podre para poder ver o meu próprio reflexo na água. Encarei a imagem de um homem negro e musculoso, cujos cabelos pretos eram divididos em dezenas de dreads, que pendiam como uma cascata e ocultavam parte das minhas costas largas. Abaixo da testa franzida, um olhar perplexo emanava dos dois bonitos olhos cor de âmbar. Eu simplesmente não me reconhecia!

Apesar de possuir músculos definidos e salientes, sentia-me fraco, devo ter ficado inerte por muito tempo. Não me lembrava de nada, nem do meu próprio nome e, antes que eu pudesse me esforçar para recuperar alguma memória, minha barriga roncou. Pelo visto, meu estômago também fora abandonado por algum tempo.

Observei melhor a paisagem e notei que a pequena lagoa era cercada por dunas brancas. Comecei a subir a mais baixa e, quando cheguei ao topo, pude ver que, não muito longe dali, existia um grande centro urbano. Com certeza, lá eu encontraria roupas, comida e informações.

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⏰ Last updated: Oct 01, 2018 ⏰

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