Chapter four

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-IA ME CONTAR QUANDO? – perguntei abrindo a porta dos fundos do restaurante, dando de cara com Eric jogado no chão, observando as estrelas. Obviamente, depois de ter conseguido fugir do pessoal que me paparicava e comemorava minha vitória por ter conseguido entrar no concurso, aliás, alguns nem acreditando que EU havia conseguido, mal sabem que eu estou tão surpresa quanto – HEIN?!
-Primeiramente, eu quero que você se sente e se acalm...
-Me acalmar? – atrapalhei ele rindo irônica, aquilo era piada – Ah, claro... Eu deveria estar feliz por estar indo para o palácio de Avallon.
-Entendo e compreendo sua revolta... Vou entender se não quiser mais falar comigo! – ele disse calmo, ainda olhando para as estrelas, bebendo um gole de sua cerveja. – só quero que saiba que eu não vou pedir desculpas por ter te inscrito nisso, e...
-Eric... – me abaixei e fiquei ao seu lado – eu disse que não queria, eu falei que não era pra mim!
-Isso é o que você acha, Marg! – ele respondeu já sem paciência e visivelmente, aquilo partiu meu coração, porém me deixou irritada o bastante para pegar a cerveja dele.
-O que eu acho deveria importar! – falei séria, jogando a garrafa dele longe, eu odiava gente bêbada, não suportaria ver Eric assim. – você me traiu.
-Quer saber? – ele me encarou e eu respirei fundo arqueando a sobrancelha – eu fiz isso sim, eu não estou feliz por isso, eu me arrependo muito! Agora você vai ficar longe de mim e eu nunca vou poder ficar com você! Com a garota que eu amo – arregalei os olhos, assustada com tal revelação, demorei alguns segundos para conseguir responder aquilo.
-E... Então porque fez isso? – gaguejei e ainda por cima tinha ficado com a voz trêmula.
-Porque eu te amo, Margot Cendrowski! – ele gritou me fazendo fechar os olhos, nervosa – quis provar à você que você era capaz de entrar nesse reality, quis provar que você é maravilhosa o bastante para isso, quis provar que você tem que e pode ir encontrar o seu pai... Quis provar que você pode ser uma princesa!
-Eu não queria isso, eu sei muito bem que sou capaz de tudo isso que você disse! – falei ainda de olhos fechados tentando me acalmar, me segurando e tentando me convencer de que aquilo era realmente verdade.
-Então convença seu coração disso, pois nem seu cérebro acredita nisso que você esta dizendo... Falar da boca pra fora é fácil – ele se levantou me deixando ali sozinha, completamente confusa, perdida e... Com medo. Com medo do que viria a seguir, com medo do que eu me tornaria daqui uma semana.
Minha vida havia ficado completamente diferente do que costumava ser. De uma garota invisível me transformei na mais nova artista, de filha da costureira à mais procurada em apenas três dias, desde que eu havia me tornado uma das selecionadas. Desde a discussão com Eric eu não havia mais conseguido falar com ele, e nem conseguia ir ao trabalho pois tinha sido demitida. SIM, DEMITIDA! Minha irmã disse que eu não precisava mais do trabalho. Contra minha vontade eu ficava dentro de casa sendo escravizada pelos meus irmãos que queriam brincar toda hora, mas dessa parte eu não reclamo, eu queria ficar com eles o tempo possível, eu ia ficar bastante tempo sem vê-los.
Eu estava tentando aceitar o fato de ter que ir para o castelo, estava colocando os pós tomar posse disso e deixando os contras fora disso, uma vez feito, jamais desfeito. Olhando para o lado bom, eu teria roupas novas, comida a qualquer hora, cuidar dos animais do castelo caso eu consiga fazer um dos príncipes gostarem de mim, poder tocar novos instrumentos, encontrar meu pai... E provavelmente, encontrarei um marido que me ajude a dar conforto a minha família. Não gostava de pensar assim, eu não sou assim!
Por culpa de Eric, eu perdi totalmente o rumo da minha vida. Minha mãe ainda estava tentando entender o que havia acontecido e o porque de eu estar entre as quinze escolhidas, Kiara estava orgulhosa de mim e feliz pela "surpresa" que ela achava que eu havia feito para ela, Kurt só me abraçou e perguntou se eu ia deixa-los e Kira não para de me bajular ou de se mostrar para as pessoas por ser Irmã de uma Escolhida. Até eu conseguir explicar para todos eles o que havia e fato acontecido, eu não teria mais voz então apenas contava que havia me inscrito mesmo... Não envolveria Eric nisso para minha família.
Hoje (terça-feira), é um dos últimos dias que tenho em casa, já que a apresentação das escolhidas é na sexta-feira e começamos nossa vida no castelo. Não podia negar estar nervosa com isso, mesmo que eu não virasse uma princesa, eu me tornaria em uma das damas mais renomadas de Avallon. Eu jamais teria minha vida pacata de volta. Estava deitada em meu quarto, pensando na vida e na seleção, abraçada com Kurt que estava dormindo em plena duas horas da tarde, esse safado aproveita que nossa mãe esta trabalhando para poder tirar suas sonecas. Até eu estava tirando uma soneca juntinho com Kurt. Estava tão entretida nisso que me assustei com o barulho de... Instrumentos musicais? Uma melodia que eu conhecia, porém nem em sonho, eu saberia da onde. Devo estar sonhando, ultimamente meus sonhos estão estranhos demais. Continuei ali, deitada completamente morta e pensando da vida.
-MARG! MARG! MARG! – Kiara entra toda afobada em meu quarto, fazendo-me cair assustada da cama.
-PORRA, KIARA! – gritei assustada me levantando da cama e segurando Kurt para que ele não caísse também, pois minha cama era pequena.
-Você vai começar a seleção já pagando micão – ela bateu na própria testa me deixando confusa, encarei ela com as mãos esperando uma explicação – tem uns caras aqui em casa, eles vieram do castelo, estão aqui para conversar com você! A mamãe já esta lá embaixo esperando por você.
-Ah, mais que palhaçada! – falei me levantando rapidamente e indo até a janela. Havia uma carruagem, homens atrás dela tocando todos os instrumentos possíveis e muitos guardas. Aquilo estava... Incrível. E tudo na frente de casa, eu não estava pensando direito Desci as escadas completamente correndo, e ainda consegui cair no último degrau. Aquela era a pior apresentação da minha vida e os representantes do reino já tiveram a primeira impressão sobre mim, a garota do interior de Avallon, toda desastrada e completamente sem nenhuma instrução para ser uma princesa. Ainda estava com a cara enterrada no chão, de qualquer maneira, criei coragem e me levantei toda desengonçada e fiz uma reverência, torcendo para que não houvesse câmeras ali.
-É um prazer conhece-la, Srta. Cendrowski – uma mulher alta, aparentemente com uns trinta e cinco anos, vestida formalmente com uma pasta encostada ao peito disse fazendo uma reverência à mim também, aquilo era completamente novo para mim. – sou Lady Robin, uma das quinze Lady da rainha e escolhida como sua tutora no castelo... Irei te ensinar a comportar-se como uma princesa, serei sua instrutora, sua psicóloga, sua professora, e por aí vai. Te ajudarei a lidar com tudo que for difícil no castelo.
-É um prazer, Lady Robin – sorrio agradecida convidando-a para se sentar na mesa da cozinha, junto com minha mãe, que estava fazendo café para a gente, e eu odeio café. Provavelmente elas já deviam ter feito as devidas apresentações.
-Por favor, só Robin, é muita formalidade... – ela se sentou rindo e encarou minha cara confusa, já que era para sermos totalmente formais – lição um, você deve ser formal com a Rainha e o Rei, no começo com os príncipes também, mas não vai durar muito, eles odeiam formalidade... Seja formal na frente de gente importante e na frente das câmeras, fora isso... Você pode agir normalmente, não estou criando um robô e sim uma princesa e caso você não seja uma Escolhida, você vai ter tido experiência o bastante.
-Tudo bem, irei anotar tudo isso – brinquei fazendo-a rir junto com minha mãe.
-Mas... Bem, Margot... Vamos ao que realmente importa! E ao que realmente explica o motivo de eu estar aqui – ela abre a pasta tirando de lá um monte de papéis, eu já fiquei entediada – as outras Lady não foram visitar suas selecionadas, viria um enviado do rei passar as coordenadas e você só me conheceria quando chegasse ao castelo, eu tomei liberdade de ter a aprovação do rei, da rainha e é claro, dos príncipes.
-Robin, por que você quis fazer diferente? – minha mãe se intrometeu e Robin a encarou e depois olhou para mim.
-Eu queria conhecer minha selecionada antes... Queria ter certeza de que ela entenderia tudo e estivesse ciente das coisas! E por sua filha ser a única menor de idade do reality, eu tive que vir – ela explicou mostrando-me o primeiro papel, aquilo estava meio confuso, mas eu preferi ignorar – nessa folha está tudo o que você já sabe sobre A Seleção, pode ler se quiser e assinar aqui aonde esta pedindo, na segunda folha é aonde pedimos que você diga algumas coisas pessoais como... Se já namorou, se ainda é virgem – ela e minha mãe me encararam e eu fiquei vermelha.
-É claro que ainda sou virgem! Não arriscaria meu pescoço com isso.
-Você seria desclassificada e ainda morreria por não ser mais virgem. Pior ainda, poderiam poupar sua vida, só que você perderia a chance de casar! – ela explicou escrevendo nos papéis, e me dando mais instruções, pedia para minha mãe assinar alguns papéis ainda, por eu ser menor de idade – Você sabe que agora é completamente do reino, né? Não pode ficar com ninguém, se for pega, eu não quero ver você sendo decapitada... Agora também você vai receber um tipo de pensão, já que você ajudava a sustentar a casa e eles vão perder o que costumavam receber de você... Cinco guardas vão cuidar daqui o tempo que você estiver no castelo, e caso for desclassificada, eles vão continuar cuidando de você, até você casar. No castelo, você precisa de permissão dos príncipes para qualquer coisa, nem o Rei pode dizer nada, e quando eu digo qualquer coisa, eu digo sobre sair do castelo para voltar para casa, viajar, coisas deste tipo, até anoitecer você tem permissão de ficar no jardim ou na piscina, você terá três empregadas em seu quarto ao seu dispor para qualquer coisa. Te darei mais informações conforme for lembrando no castelo... Você embarca para o reino daqui dois dias, terá uma festa na cidade para sua despedida... Quando chegar no reino estarei a sua espera de lá a sua nova vida começa.
-Fico tranquila por saber que você cuidará de Marg! – mamãe segurou a mão dela agradecida, ela se assustou com o movimento, porém, aos poucos foi se acostumando e acabou sorrindo com aquilo.
-Margot ficará bem, cuidarei dela como se fosse minha filha! – sorri para elas e encarei minha mãe, sabia que ela não estava se aguentando.
-Mas me diga... Margot tem chances de conseguir um dos príncipes? – revirei os olhos cobrindo o rosto com vergonha, enquanto Robin ria e respondia minha mãe com a maior calma do mundo.
-Sua filha é mais linda ainda pessoalmente do que por foto, pelo que pude perceber ela é muito inteligente e de personalidade forte... Não vou mentir, tenho muito trabalho ainda com ela, principalmente na parte de boas maneiras, modos, andar e essas coisas, creio eu que ela aprende rápido e se depender de mim, ela vai ser a mulher da vida dele.
-Espera, na vida de qual deles? – perguntei confusa e ela riu balançando a cabeça.
-Você escolhe qual!

Depois de mais uma longa conversa com minha Dama, Lady ou sei lá o que, Robin, ela foi embora deixando seus cinco guardas em volta de casa e um dos cinco lá dentro. O seu nome era Barney, ele era um cara de quase quarenta anos, muito legal, engraçado e morava em Southampton antes de se tornar guarda. Ele conhecia minha mãe e eu estava adorando tê-lo ali, sabia que estaria indo deixando-os em ótimas mãos.
Minha barriga estava cheia de borboletas, eu estava ansiosa para tudo isso, não estava feliz, porém, eu já tinha aceitado o fato de que essa era minha realidade e que era o que devia ser feito. Minha família receberia dinheiro, eu conseguiria achar meu pai, eu teria mais oportunidades assim como mamãe, Kurt e Kiara. Eu ajudaria minha família e se eu tiver que fazer esse sacrifício por eles, eu farei.
Já tinha planos, ficaria lá até os príncipes quiserem, quando eles me mandassem embora eu voltaria feliz e com dinheiro, mais as oportunidades que eu ganharia. E ainda teria tempo para achar meu pai. Já estava tudo certo. Pelo menos na minha cabeça e meus planos.
Tinha apenas mais alguns dias com minha família e eu queria aproveita-los ao máximo. De qualquer maneira, eu ainda tinha que conversar com Eric, mas estava sem coragem alguma pra isso. Tomei a decisão de que se ele quisesse, ele viria até mim e não o contrário No dia seguinte, (quarta de manhã), eu fui para a casa de Kira, ficar um pouco com ela, já que na quinta eu iria à noite para o castelo e ela teria que trabalhar, já que o movimento do restaurante iria aumentar mais pela festa que teria na cidade para mim. Praticamente não veria mais ela e aquilo me partia o coração.
-Hey, Bis – falei com voz de neném para o cachorro de Kira, que na verdade era meu cachorro, porém eu não pude cuidar dele então Kira resolveu adota-lo, e ele já estava enorme. O abracei forte enquanto ele fazia a festa por eu estar ali.
-Você chegou! – Kira veio de pijama me abraçar, eu ri da mesma estando toda desarrumada – fique aqui na sala, vou mandar Jordan vim te fazer companhia enquanto eu me arrumo, não posso ficar toda desarrumada agora! Sou irmã de uma selecionada! – revirei os olhos suspirando, vendo minha irmã correr para seu quarto. Fiquei fazendo carinho em Bis, completamente arrasada, nem percebi que Jordan estava do meu lado.
-Puta que pariu, Jordan! – falei ando um pulo de susto vendo-o rir alto.
-Esse vocabulário não é o certo para uma selecionada! – ele comentou me fazendo revirar os olhos novamente e abaixar a cabeça – Okay, pode falar o que você tem, porque de todo comportamento que uma selecionada deve ter, com certeza esse que você ta tendo, é o ultimo! – o que eu mais amava em Jordan, era esse senso de humor dele.
-Em todo lugar que eu vou, tem gente me bajulando... Os únicos lugares que eu posso ser tratada normalmente é aqui, em casa e com Eric – abaixei a cabeça novamente lembrando que ainda não estava de boa com ele – e eu não posso chegar na casa da minha própria irmã que ela me trata como uma selecionada... Eu ainda sou a irmã dela, ainda sou a filhinha do meio irritante. Eu estou com medo e eu só queria que ela me reconfortasse.
-Você sabe como Kira é... No fundo ela queria estar no seu lugar – ele riu me fazendo rir junto, segurando o choro – você continua sendo a garotinha irritante...
-Jord... – Kira atrapalhou a nossa conversa. Ela havia escutado tudo, nem tinha ao menos ido para o banho, ainda estava com a toalha e as outras coisas nas mãos e encarando a gente completamente magoada – não chame minha irmã de irritante, só eu posso! – nós dois rimos observando ela, que ainda estava seria, eu por um fio de começar a chorar – não sabia que isso te incomodava tanto e muito menos que você estava se sentindo assim... Meu amor, você é minha pirralhinha, eu tenho orgulho de você e orgulho de quem você vai se tornar... Sentir medo é completamente normal agora, você pode se mostrar mais forte que pedra, mas sabemos que não é assim, e nunca vai ser! Mas saiba que estamos aqui sempre, você tem com quem contar, tem à mim e...
-E tem a mim também, eu emprego no restaurante vai ficar pra sempre esperando você lá, pra quando precisar – Jordan atrapalhou a esposa, fazendo-me secar uma lágrima teimosa que escorria e dando risada ao mesmo tempo, me dando um abraço de lado junto com um beijo na testa.
-Você vai ter pra sempre sua família com você! – ela terminou de dizer com algumas lágrimas escorrendo, eu assenti com a cabeça vendo a mesa sorrir, segurando meu rosto e depositando um beijo na minha testa também e me abraçando forte. Acabou que ficamos os três abraçados por alguns minutos, como uma família.
-Obrigada –agradeci aos dois, secando o resto de lagrima que tinha em meu rosto e vendo os dois fazerem os mesmo em si. – prometo que mandarei cartas para vocês sempre que der e ligarei também, tenho esse direito de ligar para a casa pelo menos duas vezes por semana... Eu ligo uma pra mamãe e a outra pra vocês...
-Vamos estar sempre esperando por isso! – ela respondeu sorrindo – AGORA DEIXA EU TOMAR MEU BANHO!
O resto do dia foi completamente normal, ficamos na casa de Kira conversando, relembrando o passado, contando piadas e zoando Jordan pela barba que ele não queria tirar, porque segundo ele, ficava extremamente sexy com ela. À noite eu iria para o restaurante junto com eles e depois voltaria para a casa e ficaria com minha mãe e os baixinhos, depois curtiria minhas ultimas horas naquela casa e as seis, eu iria para a praça principal da cidade, me despedir do povo e de lá, iria para o castelo, uma longa viagem que duraria a noite inteira fazendo-me chegar lá provavelmente na hora do almoço. Estava quase entrando em colapso nervoso.
-Vocês são ridículos – eu fiz careta ao ver os dois comendo o mesmo macarrão, até encostarem a boca um no outro.
-somos românticos! – Jordan se gabou abraçando a esposa.
-você vai ser pior que a gente, quando encontrar o seu marido – Kira respondeu dando beijinhos no rosto de Jordan, que ria. Fiz careta fingindo vomitar – e estou torcendo que seja o Thorrance.
-Eu não quero pensar nisso agora – mudei de assunto, vendo-a comer pela quinta vez, muito estranho já que Kira não é de comer demais e muito menos lotar o prato, tinha algo estranho acontecendo – Kira você ta com lombriga? Nunca te vi comendo tanto!
-Na verdade... – eles se encararam rindo cúmplices e se perguntando "será que contamos?", Jordan tomou a liberdade e disse – é um bebê.
-Surpresa! – Kira sorria abertamente e balançava os braços.
-O QUE?
-Não íamos contar agora... Estávamos esperando a poeira abaixar por ser o seu momento, não queria roubar ele de você... Íamos contar depois, quando começasse a aparecer a barriga – ela explicar e eu apenas ignorei tudo dando-lhes um abraço forte. Eu estava tão feliz!
O resto do dia foi completamente perfeito, fazia tempo que não ria tanto, aproveitei ao máximo. Depois fui ao restaurante com eles, fiquei até fechar para ver se Eric não falaria comigo, mas ele não havia ido trabalhar hoje, eu achei aquilo completamente estranho. Ele nunca faltava um dia no trabalho.
Acabei voltando para a casa, as crianças já estavam dormindo e minha mãe também. Dei um beijo na testa de cada um e fui fazer o mesmo que eles. Claro que com mil coisas na cabeça, mas acabei pegando no sono alguns minutos depois.
Amanhã seria ainda mais complicado do que hoje, com muito mais emoção e pior ainda, muito mais difícil do que a despedida com minha irmã, Jordan e o pessoal do restaurante.

Acordei no dia seguinte com Kiara e Kurt em cima de mim, fazendo a maior bagunça e rindo muito, estavam tão felizes por eu ser uma selecionada que aquilo me dava até um pouco de alegria. Ainda estava pensando em Kira grávida e eu não a veria enorme de gorda, perderia uma das melhores fases dela. Pensando que Jordan ficaria louco com minha irmã pirada e imaginando a reação de minha mãe com isso. Não queria perder esses pequenos detalhes, mas teria. Tomamos um café da manhã, rimos muito e, pela primeira vez, Kurt e Kiara não brigaram nenhuma vez, mamãe estava muito feliz e dava pra ver que estava orgulhosa também, até mesmo Kiara demonstrava isso. Tinha medo de não conseguir dar a eles o que eles queriam de mim.
Depois do café eu fui arrumar minhas coisas, levaria apenas o que era mais valioso para mim, já que roupas Robin disse que eu deveria esquecer as que eu tinha, pois teria novas. Kurt ficou deitado em minha cama e acabou dormindo.
Peguei uma caixa que tinha em cima do meu pequeno guarda roupa cheio de fotos, eu levaria algumas para o castelo e algumas roupas também, não importa o que Robin dizia, eu levaria minhas calças comigo e minhas camisetas sem mangas. Escolhi a foto em que estávamos todos sorrindo, em uma apresentação que teve na escola de Kiara, Merck havia tirado a foto então ele não estava nela, apenas nós e Jordan. Outra em que estava apenas Kurt e eu abraçados com ele rindo muito; outra que só estava Kiara e eu sorrindo para a foto; uma em que estava Jordan, Kira e eu fazendo careta; uma com minha mãe, nós estávamos nos encarando e sorrindo uma pra outra e levaria minha foto com Eric, estávamos os dois abraçados com Bis jogados no chão, quem havia batido aquela foto era Kira. Todas essas fotos eu havia ganhado de Eric, ele havia tirado e me dado elas... Eu simplesmente amava ter essas recordações comigo. Estava tão entretida naquilo que nem percebi que Eric estava na porta encostado observando tudo.
-Ainda não terminou de arrumar tudo? – ele perguntou rindo, mas sabia que ele estava meio triste, acabei rindo fraco e dando de ombros - sempre deixando as coisas para a última hora.
-Eu estava adiando o momento mais dolorido – Ri guardando as fotos em uma caixa e colocando na mochila, junto com minhas duas calças pretas e minhas camisetas. – mas já terminei de arrumar, foi rápido.
-Eu sinto muito por ter causado tudo isso! – ele pediu desculpa com a cabeça abaixada – na verdade, eu queria te provar que você pode mas eu só me toquei que eu amava você na hora que disseram o seu nome e mostraram a sua foto. Eu estou arrasado, e não tenho coragem de pedir que você fique.
-Já está feito, Eric... – respirei fundo olhando para a janela – só não torne ainda mais difícil e...
-Você ficaria se eu pedisse? – ele me olhou desesperado, segurando fortemente minha mão, quase suplicando, o que mais partiu meu coração, foi ver que ele estava bêbado – diga, Marg? Podemos fugir, você e eu... Você não precisa se submeter a isso, você pode ser feliz comigo e...
-ERIC! – o olhei completamente assustada, soltando rudemente de sua mão, aquilo não tinha cabimento, ele estava bêbado e me pedindo algo que eu não conseguiria – eu não posso abandonar a seleção agora, não posso largar tudo por...
-Por mim? – Fechei os olhos querendo me matar por ter a boca tão grande.
-Eric, eu não posso abandonar minha família, fugir com você seria praticamente entregar a cabeça deles... Eu não posso arriscar isso, sou propriedade dos príncipes, eu não consigo! – falei encarando ele e depois olhando para Kurt, que dormia serenamente. Ele concordou com a cabeça, estava saindo do quarto quando voltou até mim e me deu um beijo na testa.
-Espero que não se torne uma sem cérebro como eles... Você esta escolhendo o lado errado, Margot, você sabe que isso não vai dar certo – ele riu sarcástico fazendo meu coração se partir ainda mais - mas vai, vire uma daquelas... Burguesinhas.
-Eric... – o chamei vendo-o sair bravo pela porta, sem olhar para trás. Estava tudo dando errado antes mesmo de eu entrar no maldito castelo, eu perdi o meu melhor amigo. Sentei no chão, deixando algumas lágrimas caírem, segurando o rosto eu fiquei contando até dez e respirando fundo para voltar ao normal, eu seria forte agora também. Minutos depois senti um pequeno braço me envolvendo em um abraço, olhei e vi que era Kurt, aquilo só fez com que eu quisesse chorar ainda mais
-Eu ouvi a conversa com o Eric... Ele foi muito mal com você- ele falou com a testa enrugada e cruzou os braços mostrando que estava bravo, aquilo me fez rir um pouco – Marg, não deixe ele te colocar assim pra baixo, você é incrível, bonita, legal e engraçada, ainda sabe cozinhar biscoitos como ninguém e sempre ajuda a gente quando precisamos... Já é uma princesa e eu tenho certeza que os príncipes vão te amar, principalmente o Christopher! Quando eu crescer, quero namorar com uma garota que seja tão incrível como você. Eu confio em você, eu acredito que você pode qualquer coisa... Ficaria feliz com você mesmo se você fosse chata igual a Kiara! – ele tirou do bolso um colar, ele tinha o cordão preto simples com um pequeno pingente de pássaro voando, era tão simples e meigo ao mesmo tempo, antes de eu perguntar como ele tinha comprado esse colar, ele já o colocou em mim – comprei ele com o dinheirinho que eu estava guardando... É bem simples... Mas é muito importante pra mim que você use algo pra se lembrar de mim pra sempre.
-Você é o melhor irmão que alguém poderia ter – sorri emocionada o abraçando forte, o mesmo chorava um pouquinho, até eu estava chorando... Não esperava que Kurt me dissesse tudo isso e me fizesse realmente ficar melhor. Minha família era tudo pra mim – vai me visitar no castelo, quando chamarem você?
-É CLARO! – ele falou animado, pulando me fazendo rir.
Depois das palavras de Kurt, fiquei um pouco com ele ali no quarto, brincando e conversando com meu irmão mais novo que tinha uma cabeça tão evoluída, que parecia ser mais maduro que eu. Graças a ele, eu estava me sentindo mais leve. O medo não havia sumido, porém eu estava mais aliviada em relação de deixa-los.
-Kurt, posso falar com a Marg? – Kiara perguntou ao me ver descendo as escadas com Kurt nos ombros e a mochila nas costas, o tempo havia passado e já estava quase na hora, o mesmo assentiu voltando lá pra cima, indo com minha mãe, em seu quarto.
-Se você me fizer chorar também, eu te bato! – falei rindo e a mesma me acompanhou, apenas correndo ate mim e me dando um abraço – promete que vai cuidar de tudo aqui e mandara cartas para mim contando de tudo que acontecer?
-Margot, eu juro que vou deixar você orgulhosa e cuidar daqui de casa como você cuidava... Vou cuidar do Kurt e da mamãe até você voltar e pedirei ajuda para Kira e Jordan quando necessário – ela dizia rápido e eu ria e sorria abertamente com tudo que ela falava – eu estou muito feliz com você e eu confio e acredito que você consegue... Não se preocupe com a gente, foque em você.
-Eu amo você, ta? – dei um beijo em sua testa e a mesma disse o mesmo – você é a mais velha agora – sussurrei rindo e ela se gabou
-eu sempre fui né, você só tomava meu lugar por seu mais alta e mais velha, porque mesmo eu sendo mais nova, sou bem mais madura e...
-Ah, pirralha, fica quieta! – empurrei sua cabeça pro lado rindo junto com ela
-Srta. Cendrowski, já esta na hora... O carro já chegou – um guarda disse aparecendo na porta, se curvando ao me ver, assenti com a cabeça e falei para Kiara já ir entrando no carro, eles iriam comigo até a praça principal para a despedida. Chamei Kurt e minha mãe, estava indo logo atrás dele e minha mãe atrás de mim, porem ela disse para ele ir indo na frente que nós duas já iriamos para o carro. Me virei para ela confusa.
-Quando foi que você cresceu? Já esta virando uma mulher... – ela me olhava orgulhosa e eu estava prestes a chorar novamente, ganhei um abraço dela –não importa o que você faça, terei sempre orgulho de você, acredito e confio em ti... Vai ser pra sempre minha garotinha! – ela passava as mãos delicadamente pelo meu rosto – não tema, Margot, a sua caminhada começa agora... Vai passar por coisas horríveis, sei que você tem a personalidade forte, igual a mim, mas não deixe seu orgulho estragar tudo, não se torne um boneco como a maioria, acredito que você vai sempre fazer o certo, e quero que você faça apenas o que é certo, não te criei pra virar uma pessoa do mal, seja honesta... E quando eu digo isso, não falo apenas sobre as coisas erradas, eu digo em relação ao seu coração... Seja honesta com o que sente, seja honesta com você. Seja honesta.
-Ser honesta?... – perguntei confusa, ela apenas sorriu me dando um beijo.
-Quando for a hora certa, você vai entender!

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Chegando na praça, estava lotada, cheia de câmeras, gente me pedindo foto, autógrafo, placas com meu nome, minha foto nos lugares, camisetas com meu nome, gente gritando por mim, eu estava ficando maluca. Seguranças me levavam até o palco e minha família estava logo atrás de mim, o prefeito disse algumas coisas, perguntou se eu queria dizer algo, porém eu neguei. Começaram a gritar meu nome novamente, e depois o hino de Avallon começou a tocar, procurei por Eric na multidão, mas não o achei. As garotas que haviam se inscrevido estavam me encarando com raiva, não consegui controlar o sorriso sarcástico e o "tchauzinho" completamente falso. Ninguém mandou elas me tratarem com desdém.
E então chegou a tão chegada hora... Eu tinha que ir.
Me despedi de minha família com o coração partido, entrei no carro segurando as lágrimas e então ouvi uma gritaria lá fora, era Kira, os guarda não estavam deixando ela entrar junto com Jordan. Sai rapidamente do carro.
-Deixe eles entrarem – falei e na mesma hora, eles já estavam dentro. Os dois vieram correndo me abraçar.
-Você já esta até dando ordens! – Kira bateu palminhas me fazendo rir – não consegui ficar no restaurante, não queria deixar você sozinha agora... Nem a mamãe ou as crianças. – apontei pra mamãe que estava ali segurando o choro, Kira foi correndo abraçá-la.
-Cuida deles pra mim? – perguntei segurando a mão de Jordan – Por favor, sei que você não tem essa obrigação, mas...
-Marg, vocês também são minha família... Vou cuidar muito bem de cada um deles – ele me abraçou e eu sorri aliviada – agora promete que vai cuidar de você mesma lá.
- Prometo! – sorri novamente.
-Srta. Cendrowski, temos que ir – o motorista alertou, desta vez era oficial. Olhei para trás e vi todos eles acenando pra mim, juntamente com a multidão da praça. Acenei para minha família e entrei no carro novamente, fechando a porta e esperando que o carro fosse e eu fosse para o meu destino.
Não tinha como voltar atrás. Tinha que ser feito.

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